Em tempos de Ditadura Militar, até a pornochanchada era revolucionária. No mínimo, um atentado aos bons costumes da família verde-oliva, que até gostava do gênero entre quatro paredes, mas censurava nos escritórios da Polícia Federal. Por isso, produzir esses filmes exigia um grande jogo de cintura (em todos os sentidos) para fugir da mão pesada do regime e, de quebra, ganhar uma grana. Essas histórias de ¿superação¿ são o pano de fundo da Magnífica 70, série brasileira produzida pelo HBO Latin America que está na segunda temporada.

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Para quem não assistiu a primeira fase, o censor Vicente (Marcos Winter) é um entediado homem de família casado com a filha de um general. Após censurar e assistir dezenas de títulos do gênero, ele tomou gosto pela coisa e se apaixonou pela atriz Dora Dumar (Simone Spoladore). A partir desse romance, o rapaz troca a vida de papai e mamãe no escuro pela rotina frenética de diretor e escritor da Boca do Lixo, polo cinematográfico paulistano que se especializou em filmes baratos e com, digamos, tons eróticos.

Esse Romeu e Julieta à la Nelson Rodrigues resgata comeficiência e caos a vida dessas produtoras de cinema na ditadura e os efeitos nefastos do regime militar. Para isso, não economiza no humor negro e nas caricaturas exageradas dos personagens – o produtor de cinema com características de bicheiro que não entende nada de filmes e o general conservador em defesa da família cristã. O drama também não é deixado de lado e aparece principalmente nas personagens femininas, que vivem num ambiente patriarcal e machista.

Mas, na tentativa de trazer esse ar chanchada, o diretor Cláudio Torres peca ao dar muito peso à trilha sonora e carregar muito na luz, além de trazer flashbacks cansativos e que, muitas vezes, não trazem nenhuma novidade à trama.

Quase todas as cenas são atravessadas por uma música. Quando você acha que haverá um silêncio, vem ela e força o espectador a ter um determinado sentimento. Um recurso pedante que mais parece um vício de novela. A exceção é Sangue Latina, do Secos e Molhados, na abertura da série.

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Com os flashbacks há o mesmo exagero. A ideia é mostrar algumas revelações de cada personagem, mas, às vezes, o tom sépia traz diálogos cansativos e que não representam nenhuma novidade, o que deixa a narrativa fraca, principalmente para quem gosta daqueles momentos frenéticos de polícia e ladrão.

Nesta segunda temporada, o tempo pulou em um ano, mas o espectador continua sem ver um mocinho. O que ainda está em jogo é obsessão, poder e dinheiro, mas com a corrupção como pano de fundo. Além de Vincente, o produtor Manolo (Garib), um vigarista que quer ganhar dinheiro com o pornochanchada, e a atriz Dora continuam tentado fugir da censura e fazendo cinema na Boca de Lixo.

Capítulo inédito vai ao ar aos domingos, 21h, na HBO

Outra estreia: tão trágica que é cômica

Um homem sequestra a princesa da Inglaterra Susannah (Lydia Wilson). Mas ele não quer dinheiro. Pede apenas que o primeiro-ministro faça sexo com um porco. Sim, é isso mesmo. Alias, não é só isso. E tudo tem que ser filmado e transmitido em rede nacional. Esse é o primeiro capítulo da série Black Mirror, que estreia terceira temporada neste sábado, na Netflix. Apesar da perversão e da sátira do primeiro capítulo, a criação de Charlie Brooker é uma crítica à sociedade e à tecnologia. Cada capítulo tem uma história e um elenco diferente, mas sempre abordando o existencialismo e a relação entre homem e máquina.