O cineasta romeno Calin Peter Netzer ganhou neste sábado o Urso de Ouro do 63º Festival de Berlim, pelo filme Child’s Pose, história de um amor materno asfixiante e desmedido que mostra, ao mesmo tempo, o mundo dos novos ricos, a corrupção e o tráfico de influências que reinam na Romênia.
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Ao receber o prêmio, Netzer expressou seu desejo de que as autoridades romenas deem um apoio maior ao cinema, e criticou a “censura econômica” que sofrem os cineastas daquele país.
Cornelia, uma arquiteta de 60 anos e amante da ópera, interpretada pela célebre atriz Luminita Gheorghiu, sente por seu filho Barbu (Bogdan Dumitrache), 34, um amor exagerado e incondicional.
Barbu tenta de todas as formas se tornar independente, e é tão traumatizado pela superproteção que jamais expressa seu amor, chegando a destratar a mãe.
Quando Cornelia fica sabendo que Barbu matou uma criança em um acidente de trânsito, o instinto materno fará com quem ela use todos os artifícios, recorra a amigos influentes e suborne testemunhas para evitar que ele seja preso.
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– Quis explorar a relação particular de uma mãe com seu filho, uma relação quase patológica. Na classe média alta romena, há este problema, quis criar um drama psicológico nesta direção – disse Netzer, que se tornou conhecido em 2009, com o filme Medal of Honour.
– Ela é uma mãe que está disposta a tudo para salvar o filho. As mães são muito possessivas nos antigos países do leste, a educação é diferente, são relações quase patológicas – explicou o cineasta.
Netzer acrescentou que a trilha sonora foi inspirada “na música que meus pais ouviam nas festas, típica da classe média alta”.
O roteirista Razvan Radulescu, um dos mais conhecidos de seu país, assinalou que o filme é “sobre a relação patológica entre uma mãe e seu filho, o lugar que o filho ocupa diante dos pais, e vice-versa. Uma história sobre pais que perdem seus filhos de diferentes formas”.
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O trabalho das câmeras e do diretor de fotografia Andrei Butica busca mostrar o estado psicológico dos personagens, seus sentimentos, suas explosões desesperadas, filmando as cenas quase como um documentário.
A atriz Luminita Gheorghiu afirmou, no entanto, que sua personagem não representa todas as romenas. – Cornelia ama o filho incondicionalmente, mas não recebe nada em troca. Ela tem que aprender a deixá-lo tranquilo, a deixá-lo voar com as próprias asas – comentou.
– Existem mulheres fortes na Romênia, mas isso acontece em todos os países. Se o desejo é de que algo funcione na família, essa é a tarefa da mulher, a construção da família, principalmente desde que damos à luz – afirmou.
No final, Barbu vencerá as frustrações e complexos para se atrever a agir por conta própria, dando a mão ao pai da criança que matou.
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Child’s Pose desenvolve o drama traçando uma radiografia sutil da sociedade romena atual, da vida dos novos ricos, e da corrupção em todos os níveis institucionais, reconheceu um dos produtores.
Lista de premiados no Festival de Berlim
– Urso de ouro de melhor filme: “Child’s Pose”, do romeno Calin Peter Netzer;
– Urso de prata – grande prêmio do júri: “An Episode in the Life of an Iron Picker”, do bósnio Danis Tanovic;
– Urso de prata de melhor diretor: o americano David Gordon Green, por “Prince Avalanche”;
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– Urso de prata de melhor atriz: a chilena Paulina García, por “Gloria”, do compatriota Sebastián Lelio;
– Urso de prata de melhor ator: o bósnio Nazif Mujic, por “An Episode in the Life of an Iron Picker”;
– Urso de prata de contribuição artística: o cazaque Aziz Zhambakiyev, pela fotografia de “Harmony Lessons”;
– Urso de prata de melhor roteiro: o iraniano Jafar Panahi, por “Pardé”.
– Prêmio Alfred Bauer, em memória do fundador do festival, para um filme que abre novas perspectivas: “Vic + Flo Ont Vu un Ours”, do canadense Denis Côté;
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– Menções especiais: “Promised Land”, do americano Gus Van Sant, e “Layla Fourie”, da sul-africana Pia Marais;
– Prêmio de melhor obra-prima: “The Rocket”, do australiano Kim Mordaunt;
– Menção especial: “The Battle of Tabatô”, do português João Viana;
– Urso de ouro de melhor curta: “La Fugue”, do francês Jean-Bernard Marlin;
– Urso de prata de melhor curta: “Die Ruhe Bleibt”, do alemão Stefan Kriekhaus;
– Urso de ouro honorífico: o francês Claude Lanzmann.