Miriam é uma mulher negra de meia idade, que tem suas imparidades notáveis. Uma mulher com traços dos sofrimentos evidentes, uma descendente da África mãe que por um ato de coragem acabou esbarrando com a invisibilidade de quem mora nas calçadas da Capital catarinense.

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Poetisa autodidata que é, busca em Fernando Pessoa suas inspirações na criação dos trechos que escreve e vende nos sinais, onde nem sempre as janelas dos automóveis se abrem. Quis o destino que, na última semana, tentando matar a fome, a moça precisou pedir a uma nobre senhora que transitava pelos corredores de um mercado localizado dentro de um shopping da cidade. A doação veio através de um pacote de macarrão instantâneo, que minutos depois seria a causa de uma grande confusão movida pelo pior dos sentimentos: o preconceito.

A abordagem desqualificada aconteceu assim que a moça tentou sair do lugar, suas coisas foram arremessadas ao solo com palavras de acusações. O dito produto do furto não foi encontrado, mas o amargor deixado pela humilhação causada escorreu em lágrimas pela face de quem, ainda com fome, foi conduzida até uma delegacia. O famoso boletim de ocorrência foi a consequência deste triste episódio que parou todo o shopping. Para manter a ética que me cabe, não vou citar nomes aqui no nosso Rolê, mas intensifico através destas linhas a minha preocupação com o mundo preconceituoso que vivemos.

Precisamos ser humanos respeitosos com todo e qualquer ser humano — e isso independe do tom da pele, do traje que usamos, da cultura que pertencemos, ou ainda da religião que cremos. Desejo de todo o coração que o conforto chegue para esta mulher que me contou aos prantos a triste passagem, e que estes estabelecimentos tenham mais treinamentos e lições que envolvem as relações humanas. O caso registrado deve ser mais uma página nas prateleiras do judiciário, e eu farei questão de trazer o passo a passo aqui neste espaço.

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