O inverno é, de longe, a estação mais elegante, já que não comporta a informalidade dos chinelos, bermudas e camisetas surradas usadas nos meses tórridos. Também é o período mais propício para um refinamento gastronômico. Uma temporada que remete a vinhos, queijos finos… Nada de ficar comendo milho na areia com uma latinha de cerveja. Apesar de todo esse gelado requinte, é no inverno que ainda nos deparamos com um dos nossos maiores atrasos. Justamente nesses meses ocorre nosso mergulho nos velhos tempos de barbárie.

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Depois de abandonarmos o calor da cama – mais uma desvantagem do inverno, que exige um exercício de disciplina muito maior que no verão -, nos dirigimos encolhidos até o chuveiro. Até aí, quase tudo bem. Afinal, é hora de nos deliciarmos com a água quente. Sim, se você é daqueles que tem uma ducha vagabunda, daquelas capazes de gerar apenas um estreito filete de água quente que mal e mal vai esquentar sua orelha, isso é outro problema. Mas há bons chuveiros no mercado, parecidos com discos voadores, que vão te livrar da tentação de adotar hábitos franceses de higiene. Mesmo essas duchas turbinadas não vão te salvar do que vem pela frente.

É naquela hora em que desligamos o chuveiro que por alguns momentos somos banidos dos trópicos. Num piscar de olhos, somos atirados sem roupa nas paisagens gélidas além das muralhas de Winterland, da saga Guerra dos Tronos. Esses segundos que nos separam da toalha nos privam de todos os confortos conquistados nos últimos séculos.

De que vale a água encanada, a TV a cabo, o forno de micro-ondas, os smartphones se durante todo o inverno temos esses momentos de desconforto? Por que com tantos avanços não eliminamos uma das últimas zonas de barbárie? “Ah, mas que frescura, são poucos segundos”, diriam alguns. Pode ser, mas passamos boa parte do banho sofrendo por antecipação, temendo pelo momento que temos que fechar as torneiras. E banhos demorados não são ecologicamente corretos. Em nome do meio ambiente, é preciso ser macho e aguentar o frio. Dai é se enxugar, vestir uma roupa e caminhar rumo à civilização.

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*Rodrigo Schwarz, 36 anos, jornalista, nasceu em Joinville, trabalha desde 2000 com

jornalismo cultural e no fim do mês lança o livro Missão H2O