Rodrigo Pereira do Nascimento se abaixa para arrastar as pontas dos dedos no chão. Usa a mesma mão para se benzer enquanto dá a primeira pisada na pista de atletismo de Itajaí. O complexo esportivo no bairro Ressacada é como uma catedral ao homem mais rápido de Santa Catarina. Local que provoca gratidão do velocista. Foi nela, há oito anos, que deu as primeiras arrancadas para disputar as Olimpíadas de Tóquio, em 2020, o objetivo dos próximos meses.
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O catarinense é um dos homens mais rápidos do Brasil, especialista nos 100m rasos. Rodrigo faz parte do time brasileiro no revezamento 4x100m campeão no Pan 2019, em Lima, e que corre por pódio nas maiores competições da modalidade. Nos próximos meses ele dá a largada por vaga nos Jogos Olímpicos. Com 10s10 como melhor marca na carreira, precisa dos 10s05 exigidos pelo índice. Para o itajaiense, questão de tempo.
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– Não tenho o ainda, mas já estou dentro. A primeira coisa é acreditar. Eu vou fazer, a marca do índice é mais forte da que tenho, mas sou completamente capaz de fazer esta marca cedo, no começo do ano. E não vou para participar das Olimpíadas. É para brigar por semifinal, por final, por medalha – garante.
Vídeo! 100 metros de papo
Nascido em Itajaí e criado no bairro São Vicente, um dos mais populosos da cidade, como a maioria dos meninos era o futebol que povoava os sonhos de Rodrigo. Nos jogos escolares do município deixava muita gente para trás nas provas de atletismo, mas era sobre a grama que se sentia bem. Tentou a vida de jogador em escolinhas até se dar conta do que outros já haviam alertado.
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– Eu corria mais que a bola.
Com 17 anos e sem sucesso no futebol, a mãe indicou que teria trocar o futebol pelo trabalho para ajudar nas contas da casa e conciliá-lo com os estudos. Foi trabalhar de office-boy de uma empresa nas proximidades da pista de atletismo. Entre idas e vindas de bicicleta, encontrou o professor Luciano Moser, que refez o insistente convite para que treinasse.
Rodrigo desfez a resistência, até então não admitia correr sob o sol. A nova rotina tinha escola pela manhã, trabalho à tarde e treinamento logo depois.

– Não havia arquibancada, muro, nada. Era a pista e mato, que de tão alto dava até para brincar de esconde-esconde (risos). Tive a sorte de já contar com a pista sintética. Cheguei a frequentar a escolinha de atletismo anos antes, mas eu só queria competir, não gostava de treinar. Foi então que o Moser me convenceu a fazer um teste. Gostei, e vinha depois das 17h. Às vezes nem comia antes do treino. Vinha muito rápido para treinar antes que escurecer. Fizemos muitos tiros no escuro, muitas e muitas vezes – relembra.
A insistência do treinador deu resultado. Rodrigo Pereira do Nascimento tem o recorde dos 100m em Santa Catarina, com 10s36, medalhas do Troféu Brasil e por pouco a primeira olimpíada não foi em 2016, no Rio de Janeiro.
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– Foi na pista daqui de Itajaí a última conversa antes do Troféu Brasil em que eu buscaria o índice. Estava sentado em obstáculo e o Moser falou que eu estava pronto, que iria brigar pelo ouro e ia para Olimpíada. Ele me deu confiança. Fui bem, corri minha melhor marca. Mas mesmo a melhor não deu, e por um centésimo. Isso me frustrou, porque fiquei muito perto, acabou comigo. Preferia ficar em último – relembra.

Após duas semanas de abandono do atletismo tamanha a frustração, decidiu se mudar para São Paulo. Queria correr entre os melhores do Brasil para depois estar entre os melhores velocistas do mundo, como é hoje. É fora do País que estão as conquistas que povoam os sonhos do catarinense de 25. Mas é em Itajaí que se fortalece antes das grandes etapas da carreira. Depois de Tóquio, Rodrigo vai voltar à pista de Itajaí para agradecer as conquistas. A gratidão ao local é revertido em distribuição de material esportivo para os jovens atletas que treinam ali.
– O que sobra de roupa e de sapatilha, trago para o pessoal. Da mesma forma que me ajudaram, quero retribuir de alguma forma. Não acho que vou mudar a vida delas. É incentivo. Quem sabe com isso o garoto treine mais, venha todo dia, faça o que o treinador mandou, se dedique – justifica.
Antes deste momento, porém, Rodrigo Pereira do Nascimento vai tocar a mão no chão e com ela se benzer, em novo agradecimento ao que viveu na pista de atletismo de Itajaí antes de ganhar o mundo.
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