No início da tarde de 19 abril de 2005, a fumaça branca mal sumia nos céus do Vaticano e o nome do novo Papa ainda não havia sido anunciado no balcão da Basílica de São Pedro, quando nos bastidores da Praça de São Pedro um religioso comentou:

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– Ser eleito Papa é ao mesmo tempo uma gloria e uma prisão.

O bispo de Roma – dado o cargo vitalício – é prisioneiro do Vaticano.

É claro que é dado ao Pontífice o direito de renunciar – e com Bento XVI, apenas quatro papas fizeram isso – mas não apenas é incomum como o gesto levanta especulações sobre a saúde de Josef Ratzinger e alimenta teorias conspiratórias no Vaticano.

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Nem o grande João Paulo II, que enfrentou um atentado e carregou o fardo das doenças, tomou essa decisão. Sofreu em praça pública e diante das câmeras. Mas não renunciou. O último a abdicar do trono de São Pedro foi Gregório XII, há 598 anos. Sua saída possibilitou o fim do chamado Cisma do Ocidente, quando a Igreja teve três papas.

Ao anunciar sua decisão nesta segunda-feira, durante um consistório (encontro de bispos) em Roma, Bento XVI alegou o peso da idade. Aos 85 anos, Ratzinger vem dando nos últimos meses sinais de cansaço. Sua aparência mudou bastante desde o conclave. Está mais magro e envelhecido. Mas não há evidências de doenças mentais ou degenerativas.

Sempre especulou-se, nos corredores da Santa Sé, que Bento XVI seria um papa de transição – ou seja, que teria um pontificado curto. Isso estava na mente dos cardeais que o elegeram em 2005. Depois do longo reinado de 27 anos de João Paulo, imaginava-se um período curto na Igreja, alguém que prepararia o terreno para um Papa mais jovem. Mas nunca passou pela mente nem dos maiores vaticanistas a renúncia.

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A sede vacante da Igreja começa oficialmente às 20h do dia 28 de fevereiro. A tradição manda que o conclave seja convocado imediatamente.

* Rodrigo Lopes cobriu, como enviado especial de Zero Hora ao Vaticano, a morte de João Paulo II e a eleição de Bento XVI, em 2005