Nenhum general, em sã consciência, ordenaria um ataque a uma escola. O episódio desta quinta-feira, em Gaza, lembra uma madrugada de 2006 no sul do Líbano. Em Beirute, por ocasião da guerra de 33 dias entre Israel e o Hezbollah, acordei com o breaking news da CNN anunciando que um bombardeio israelense havia destruído um pequeno prédio em Qana, no sul do país. Não era uma escola como a de Gaza, mas o ataque também havia matado inocentes – 19 mulheres e crianças.

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Na ocasião, Israel declarou 48 horas de trégua para investigar o “erro”. Aproveitei o cessar-fogo para viajar até o local. Ao chegar a Qana, não havia pessoas para entrevistar – quem pôde, fugiu do vilarejo a tempo; quem ficou, morreu. Ao final de uma rua de chão batido, contornada por prédios incinerados e ferros retorcidos de veículos, estava a edificação de poucos andares achatada pelo ataque. Ao lado dos destroços, ainda estavam chinelos de dedo, fraldas e colchonetes.

A indignação da comunidade internacional com aquele episódio era semelhante ao desta quinta-feira no Oriente Médio. Erro? Não, no atual estágio da tecnologia de guerra, é praticamente impossível um piloto confundir um quartel militar com uma escola.

Na guerra, diz a máxima do jornalismo de conflitos, a primeira vítima é a verdade. Em busca desta verdade, ouvi uma explicação ao ataque daquele 2006: grupos como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas posicionam armamentos próximos a hospitais, escolas e residências. Do alto, o radar de um caça percebe a movimentação militar de uma bateria antiaérea, por exemplo, pelo calor que o equipamento emana. O míssil é disparado. Destrói o alvo militar. Mas leva com ele o hospital, a escola, a residência. E dezenas de civis, como no caso desta quinta-feira em Gaza. Não justifica. Não explica. São os chamados efeitos colaterais da guerra, estas duas palavras terríveis que os estrategistas criaram para explicar a morte de inocentes.

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