O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi sabatinado nesta quarta-feira, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. Indicado pela presidente Dilma Rousseff para permanecer por mais um mandato à frente do Ministério Público, Janot negou que ele teria feito um acordo com o Palácio do Planalto para poupar investigações de determinados políticos na Operação Lava-Jato.

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O procurador-geral disse que a Petrobras é alvo de “megaesquema” de corrupção.

– Eu, com 31 anos de Ministério Público, jamais vi algo precedente. Esse megaesquema de corrupção chegou a roubar o nosso orgulho e é por isso que a gente investiga, e investiga sério, esse esquema – afirmou.

Janot também comentou que há um mal-entendido sobre as delações premiadas e defendeu o procedimento que, segundo ele, acelerou as investigações. O procurador-geral destacou que a prática não é exclusividade do Brasil e ocorre também na França, em Portugal e na Itália, por exemplo.

– O colaborador (delator) não é um dedo-duro, não é um X9. Pela lei, primeiro ele tem que reconhecer a prática do crime e dizer quais são as pessoas que também estavam envolvidos na prática daquele crime – esclareceu.

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Após a sabatina, o procurador-geral terá seu nome avalizado pela comissão. Se aprovada, a indicação segue para análise do plenário ainda nesta quarta. Para ser reconduzido, Janot precisa ser aprovado por 41 dos 81 senadores.

Veja outros pontos abordados ao longo da sabatina:

Collor

Numa bateria de duras perguntas que fez a Rodrigo Janot, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) acusou o chefe do Ministério Público Federal de ser um “catedrático” em vazamentos de informações de investigações. Collor questionou se Janot tem como estratégia repassar dados a grandes veículos de comunicação.

Alvo de denúncia de Janot na Lava-Jato, o ex-presidente também perguntou o motivo pelo qual ele omitiu do seu currículo o fato de ter advogado contra a Orteng, ligada à Petrobras.

– Essa atuação é moralmente aceitável? – questionou.

Ele cobrou o motivo pelo qual Janot não abriu uma investigação sobre sociedade de propósito específico. Além disso, Collor quis saber o motivo pelo qual houve contratação de uma empresa de comunicação sem licitação pela Procuradoria-Geral da República. Ele questionou se o órgão alugou uma mansão no Lago Sul, em área nobre de Brasília, por R$ 67 mil. E ainda afirmou que o procurador tinha um parente “contraventor” procurado pela Interpol – ele estaria na lista vermelha. O ex-presidente pediu para fazer uma reinscrição, pois ainda tem uma “série de questionamentos”.

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Lava-Jato

Durante a sabatina no Senado, Janot revelou que a Operação Lava-Jato e outras investigações sob responsabilidade do Ministério Público Federal já resultaram no bloqueio e repatriação de mais de US$ 740 milhões.

– Estamos falando em 570 milhões de dólares, mais 170 milhões, são 740 milhões de dólares de repatriação e bloqueio no exterior – destacou o procurador-geral, ao responder a uma indagação do senador Blairo Maggi (PR/MT), que o questionou sobre o aumento de gastos com diárias internacionais de procuradores da República.

PIB

Janot disse que os episódios de corrupção descobertos recentemente contribuíram para a queda, este ano, do Produto Interno Bruto (PIB).

Questionado sobre o impacto das investigações da Operação Lava-Jato na economia, o procurador defendeu a atuação dos investigadores.

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– Essa questão do combate à corrupção, muita gente diz assim: ‘vi num jornal, não lembro qual foi, que está havendo um impacto no PIB, da atuação da Lava Jato’. Não. A atuação da Lava-Jato não impacta o PIB, o que impactou o PIB foi a atuação criminosa, em detrimento da Petrobras, não a atuação da Lava-Jato. O que a gente faz, simplesmente, é investigar – afirmou Janot.

Vazamento

O procurador-geral da República disse estar certo de que o vazamento de supostos nomes citados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, delator da Lava-Jato, não foi realizado por nenhum investigador. A suposta lista de indicados pelo dono da UTC foi publicada pela revista Veja.

– Um vazamento dessa pretensa colaboração do senhor Ricardo Pessoa, que foi ter a uma revista, também está com inquérito instaurado. E esse vazamento para essa revista não foi de nenhum investigador – disse Janot.

Painel

Mesmo com a continuidade da sabatina de Janot, a CCJ do Senado abriu o painel de votação para que os senadores se manifestem se são a favor ou contra a recondução ao cargo do chefe do Ministério Público Federal. Parlamentares investigados por Janot na Lava-Jato apareceram para registrar o voto.

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* Zero Hora, com agências