Filho de pintor reconhecido, criado com estímulos às artes, nascido em Paris, Rodrigo de Haro buscou espaço próprio, sem acomodar-se à sombra paterna ou “fugir” destas influências e do talento. O vigor criativo tornou-o referência em distintas formas de expressão. Pinturas, mosaicos e poesias tornaram-se referência na cultura de Santa Catarina e nacional, com repercussão também no exterior.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
O pai Martinho de Haro, natural de São Joaquim, ao demonstrar talento para a pintura desde menino, teve o reconhecimento e apoio do governo do Estado para estudar artes visuais com grandes mestres no Rio de Janeiro, capital do país na época. Em 1937, conquistou o maior prêmio, o 1º lugar no Salão de Belas Artes, que garantiu bolsa mensal de estudos por dois anos em Paris. Antes de embarcar, casou-se com Maria Palma, conterrânea da Serra catarinense.
> Proibido de estudar piano, Carlos Ronald Schmidt transcende na poesia
Na capital francesa, nasceu o primeiro filho em 1939, Rodrigo de Haro. Mas devido à Segunda Guerra Mundial na Europa, Martinho interrompeu o intercâmbio e retornou para São Joaquim com a família. Rodrigo passou a primeira infância no meio rural e manifestava a influência que teve dessa vivência. A atenção aos fenômenos naturais, por exemplo, creditava à convivência com os homens do campo que preservavam o olhar.
Continua depois da publicidade
Ao mudar-se para a Ilha de Santa Catarina ainda menino, cresceu como um nativo morando no Centro de Florianópolis. A família vivia das encomendas oficiais e particulares de retratos e pinturas que o pai recebia, além do emprego como professor no Instituto Estadual de Educação e na Escola Técnica Federal, atual IFSC. Com uma vida provinciana, mantinha contato com o eixo cultural Rio-São Paulo graças às exposições individuais e coletivas que participava.
> Raul Caldas Filho se dedica a livro de memórias
Rodrigo de Haro escolheu cursar Arquitetura e Urbanismo na faculdade e fez doutorado pela Universidad del País Vasco, na Espanha, e pós-doutorado em Arte Pública na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, mas seguiu o caminho paterno. Dividiu-se profissionalmente entre Florianópolis e Rio-São Paulo, conquistando espaço em galerias e junto às editoras. Foram 60 anos de intensa produção radicada em uma Florianópolis em grandes transformações, retratada nas obras. Para ele, não havia hierarquia entre as atividades de artes visuais e literárias, ambas convergiam no processo criativo que nutria.
Os poemas estão publicados em livros no Brasil e em antologias e revistas no México e Espanha. Também escreveu contos e novela e ilustrou algumas das próprias obras e de outros escritores. Lançou o primeiro livro “Trinta poemas” aos 22 anos, nos anos 1960, quando se juntou a poetas brasileiros do movimento surrealista, que procurava não submeter a criação a uma ordem lógica comum, entre outras características. Apresentou referências a crenças e fatos históricos, ao sagrado e profano, e muitos outros elementos que ganharam cores, formas e narrativas peculiares com criatividade e sensibilidade.
> Alcides Buss: o promotor da literatura em Santa Catarina e no país
Integrante da Academia Catarinense de Letras, Rodrigo de Haro levou a arte, inclusive a poesia, para locais públicos, com ampla circulação de pessoas. Na fachada do prédio da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, produziu um amplo mosaico que retrata a história das Américas a partir de relatos de viagens, lendas, prosas e versos.
Continua depois da publicidade
> Saiba mais sobre a história de outros grandes escritores catarinenses
No dia 1º de julho, um ano após a morte dele, aos 82 anos, foi inaugurado o mural “Folclore Popular”, concebido por Haro no ano anterior e montado por Idésio Leal, que trabalhava com ele.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
Leia também:
> Conheça a vida e a obra do escritor catarinense Adolfo Boss Junior
> Como a “fome” de leitura criou um grande escritor em Santa Catarina
> Como Franklin Cascaes trabalhou o imaginário coletivo de Florianópolis e região
> Sylvio Back, o “doutor honoris causa” da cultura em SC
> Quem é Godofredo de Oliveira Neto, o escritor que mescla literatura com história