No princípio era um jardim:

¿E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado.¿ Gênesis, 2:8.

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Ao citar Gênesis, Rodrigo de Haro legitima sua obra. As flores e os corpos — representações do belo, da abstração e do sagrado (homem é a imagem e semelhança de Deus…) interessam ao artista desde sempre. Com o poder dessas imagens ele evoca cenas submersas no inconsciente humano e as torna acessíveis, seja em pinturas, gravuras ou poemas. De sexta (7) ao dia 1º de novembro, o artista de 77 anos apresenta sínteses de seu infindo repertório artístico em exposição inédita na Galeria de Arte Helena Fretta, em Florianópolis. A curadoria é de Fabrício Peixoto.

Dos Arquétipos (O Poder das Imagens) é a primeira exposição em quatro anos de Haro, ícone nas artes visuais e na literatura de Santa Catarina e do Brasil. Nos últimos 18 meses ele produziu 39 obras que revisitam algumas das preocupações que o perseguem desde sempre. São 12 jarrões de flores, nada original em seu trabalho, porém que nesta mostra identificam-se com o zodíaco e aparecem não como elementos de decoração, mas associação espiritual. Assim, flores enigmáticas representam cada um dos signos.

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As cartas de tarô, um dos seus temas favoritos, aparecem nas estampas feitas em acrílico sobre papel dos 22 arcanos maiores. As pinturas são um prelúdio para a criação de seu próprio tarô:

— Sei que estaria apto para criar o meu tarô. Não será agora, mas aí vai o meu anúncio, mais íntimo, das maravilhosas estampas que me acompanham inspiradas no Tarô de Marselha. O próximo será o meu — anuncia.

Nas cartas aparecem naturezas mortas e as habituais criaturas embuçadas, sempre enigmáticas.

— O tarô se introduziu aos poucos na minha obra e foi se intensificando. Uma das razões é a beleza plástica das cartas. Mas é preciso estar preparado para entender a mística — diz ele.

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O patrono dos pintores

Ainda no mesmo tom de segredo, do sagrado e do que vai além do conhecimento racional, Rodrigo de Haro apresenta a pintura de dois santos, um deles fundamental em sua produção: Santa Catarina de Alexandria, a primeira representação intelectual da mulher. O outro é São João Damasceno (676 – 749 dC), a quem se deve a liberação da representação da figura humana na arte do ocidente, então proibida. Ao derrubar a iconoclastia no Concílio de Niceia, torna-se padroeiro da pintura.

— Ele defendeu que o corpo deveria sim ser representado. Jesus tinha descido à terra e habitado um corpo, afinal. Esse sermão liberou as artes — conta o artista.

Rodrigo de Haro nasceu em Paris. Seu pai, o célebre artista Martinho de Haro, havia ganhado uma bolsa de estudos e tão logo a Segunda Guerra Mundial eclodiu, voltou com a família para Santa Catarina.

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Como toda criança, naturalmente pintava desde menino. Cresceu e embora tenha aprendido com mestres e não com a escola, transformou-se num literato, intelectual que domina filosofia, história e tantos outros assuntos quanto se possa imaginar. Tem mais de 10 livros publicados, entre contos e poemas, e ocupa a cadeira de número 35 na Academia Catarinense de Letras.

O mito, o sagrado, a tradição e a memória sempre perpassaram sua expressão artística, seja em letras ou tintas. Ao falar de sua obra, e do quanto é permeada pelo fantástico e pelo místico, esclarece que isso ocorre não porque seja um religioso, mas sim um homem civilizado e educado dentro da sociedade ocidental.

— A existência é uma experiência do sagrado que se expressa em epifanias — afirma.

E retorna às flores para falar da arte e do que chama de a soma das dádivas:

— Flor é a mais livre forma no sentido de uma abstração.

No princípio, era um jardim.

AGENDE-SE

O quê: abertura da exposição Dos Arquétipos (O Poder das Imagens), de Rodrigo Haro

Quando: sexta (7), às 19h. Visitação até 1° de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 18h30. Sábados, das 9h às 13h

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Onde: Galeria de Arte Helena Fretta (Rua Presidente Coutinho, 532, Centro, Florianópolis)

Quanto: gratuito

Informações: (48) 3223-0913

Além da mostra, estão programados o lançamento de um catálogo e quatro palestras com o artista e o curador. O projeto idealizado pela galerista Helena Fretta foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e patrocínio da Flex Gestão de Relacionamentos.

Diário da Repóter

Um papo com Rodrigo de Haro, figura mítica por trás do artista

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