Depois de oito anos, Rodrigo Bornholdt (PDT) tenta novamente retornar à Prefeitura de Joinville após período de afastamento da política. O advogado de 45 anos foi procurador do município durante o segundo mandato de Luiz Henrique da Silveira na Prefeitura de Joinville e, em 2004, foi eleito vice-prefeito na chapa liderada por Marco Tebaldi. Após trocar o PMDB pelo PDT, concorreu a prefeito em 2008, sem sucesso. Agora, a plataforma do pedetista está baseada no “fazer diferente”, uma série de conceitos considerados inovadores por ele.
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– Fazer diferente é ter audácia, coragem, e não ver a Prefeitura dessa forma contábil – afirma.
A economia criativa e a maior atenção à cultura também são abordadas com insistência por Rodrigo – presidente da Fundação Cultural quando vice, foi o criador do Simdec.
O “fazer diferente” será aplicado nas diferentes áreas da Prefeitura. A instalação do Fundo de Participação Comunitária, defendido por ele há mais de dez anos, também está nos planos do pedetista.
Para a disputa da eleição municipal, foi trazida para a aliança a Rede, novo partido no País e de onde saiu a indicação do vice, Valmir Santhiago Júnior.
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Com as publicações de hoje, “A Notícia” encerra a série de entrevistas com os oito candidatos a prefeito de Joinville. Confira a série de entrevistas com os candidatos a prefeito.
AN – Tudo o que é apresentando na sua campanha é com o mote de fazer diferente. O que é exatamente “fazer diferente” como prefeito de Joinville?
Rodrigo Bornholdt – Tem eixos. Primeiro, de não ver a Prefeitura como uma mera organização contábil, como eu atribuo que a atual gestão encara a Prefeitura. O prefeito é muito mais do que isso. O prefeito tem de ter capacidade de articulação política e também capacidade de articular e desenvolver projetos para trazer mais recursos para a cidade. A segunda é fazer diferente. Tem três concorrentes diretos na eleição que atuaram nas três últimas gestões e eles tiveram a chance deles. Acho que nenhum deles fez uma gestão aprovada pelos joinvilenses.
AN – Nem a que o senhor participou (foi vice de Tebaldi)?
Rodrigo – Nem a que eu participei porque a minha atuação era muito restrita à área cultural e ao gabinete do vice. Embora eu tivesse uma relação cordial com o Tebaldi, eu nunca fui chamado como parte de um conselho pra decidir as questões da gestão. O prefeito tinha uma qualidade que era a de deixar a gente agir nas nossas áreas, mas eu não tinha ingerência nos rumos da gestão. E acho até que a segunda gestão do Tebaldi foi diferente também. Fazer diferente de todos esses que tiveram a chance de fazer e não entregaram aquilo que prometeram a Joinville e não conseguiram cumprir o que prometeram. A própria questão de cumprimento de programa de governo. Por isso a gente fez um plano de governo, um método de governo em questões específicas. Foi baseado no fato de que os planos de governo não foram sido cumpridos, pelo menos os três últimos. Essas coisas de cumprimos “60% ou 70%”… É muito diferente você cumprir a sinalização viária, os 300 quilômetros de asfaltamento não foram feitos. Essas coisas precisam ser dosadas. Não dá pra colocar uma ao lado da outra. Precisa medir o quanto isso significaria para a cidade. E nessa, pelo menos duas coisas essenciais para a cidade não foram cumpridas.
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AN – Quais duas?
Rodrigo – O asfalto e a ponte do Adhemar Garcia. E mais do que isso: a própria promessa de uma gestão eficiente para a cidade. Aquela devolução de valores é um negócio escandaloso. Nós já levantamos em torno de R$ 12 milhões em diferentes convênios. Na saúde, na assistência social, na sinalização turística (na área rural, que não foi feita e não tem nem CEP ainda). O fazer diferente é você ter a integração entre as secretarias, ouvir a comunidade, ouvir os atores, fazer uma gestão em parceria com o servidor e não inimiga do servidor como a última gestão, que foi inimiga do servidor. Porque com os servidores vocês têm muitos quadros aqui em Joinville que são quadros referenciais em várias áreas, que lecionam em universidades, pro exemplo. Mas é preciso canalizar essa inteligência, essa referência intelectual para grandes ações e projetos importantes em Joinville. Fazer diferente é ter audácia, coragem, e não ver a Prefeitura dessa forma contábil. Um exemplo é o Fundo de Ação Comunitário (a ser colocado em prática por ele). Um fundo que destinaria hoje de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões por ano pra projetos comunitários em diversas áreas, inclusive cultural. Os projetos são aportados metade pela Prefeitura e metade pela comunidade interessada, que pode ser associação de moradores.
AN – Qual diagnóstico é feito da saúde?
Rodrigo – Nós vamos ter uma atenção forte, porque esse é um tema que aflige o joinvilense permanentemente. Não dá pra pensar numa área sem pensar no todo. Nosso objetivo é fazer diferente, é aumentar a arrecadação do município e conseguir mais recursos para a saúde. Sobre o Hospital São José, penso, conversando com os servidores, em transformar em organização social. Mas tem que ser uma construção. Alguma solução nós precisamos encontrar para diminuir o peso dele no custeio total da saúde. Tem coisas pontuais que estamos trabalhando, como o prontuário único de saúde (tem propostas parecidas com outros candidatos. A questão é quem terá o perfil para implementar isso). Dando um incentivo ao clínico geral, você, eventualmente, atenua as especialidades. Tem de ser uma coisa bem bolada, com critério e não ser meramente financeira. A informação que eu tenho é que mais de 50% dos casos encaminhados para as especialidades poderiam ser resolvidos por clínicos gerais, tivesse ele um estímulo maior.
AN – Tem obra que o senhor defenda para Joinville? Duplicação, elevado, ponte?
Rodrigo – Nós consideramos várias obras essenciais. A mais urgente para Joinville é uma obra que tenha também relação com o transporte coletivo. Queremos uma cidade em que a maioria prefira usar o transporte coletivo, ou que pelo menos se aumente este índice. Aí você consegue melhorar a tarifa e tornar mais atrativo o sistema. Tem obras que desde 1973 são importantes: duplicações, Marquês de Olinda… Tem outros projetos que desde 2008. Mas precisa de projetos e financiamento específico para fazer. A questão das desapropriações, por que não saiu do papel? Nós entendemos que tem muita coisa que o município pode gerar valor/caixa, como, por exemplo, a questão da outorga onerosa. A compensação ao patrimônio histórico para quem tem patrimônio tombado ou imóvel nas UIPs (aliás a gente quer eliminar as UIPs, definindo o que vai para o inventário).
AN – O que tem de ser feito na revisão do Plano Diretor?
Rodrigo – O Plano Diretor foi aprovado de modo incompleto e equivocado. Ele é quase uma declaração de intenções, cita alguns princípios gerais. Mas ele deveria definir: a Zona Sul deveria ser vocacionada para tal coisa, a Zona Norte pra tal coisa, as grandes redes de supermercado precisam se instalar em tal região. Em linhas gerais, ele não tem nada autoaplicável. A LOT pode quase tudo porque a diretriz é muito genérica. Não deveria ser assim. A LOT já deveria se pautar ao que o Plano Diretor definiu.
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AN – A educação em tempo integral está nos planos?
Rodrigo – Fico contente que o Tebaldi tenha adotado o ensino integral como bandeira, que foi sempre uma bandeira histórica do PDT. Gostaria que fosse uma bandeira de todos os candidatos. É um salto qualitativo que o Brasil precisa em termos de educação. O que a gente quer fazer aqui também, é otimizar as atividades de esporte e ações culturais que possam envolver crianças e adolescentes com a secretaria de educação. Aproveitar novamente esse potencial da sociedade civil para permitir este acoplamento com a ideia de educação em tempo integral com atividades no contraturno. A parte pedagógica é a parte mais complexa e onerosa… Não é só soltar uma bola lá de tarde e deixar as criançada no colégio. Nós vamos trabalhar firmemente nisso, mas também temos que trabalhar o conteúdo.
AN – E a segurança? Os prefeitos assumiram a bandeira…
Rodrigo – O principal papel do prefeito é político. O governador precisa continuar sendo cobrado por isso. Não adianta vir aqui fazer média, quinze dias antes das eleições. É brincadeira! Governador tem de ser cobrado e representantes políticos tem de ser cobrados. Joinville só tem um secretário de Estado, fora do núcleo duro. Uma pasta estratégica, a gente admira o trabalho do secretário, mas Joinville está desprestigiada. Temos de nos preocupar. Não significa que a gente não tenha ações pontuais previstas. Mas conseguir integrar policias civil e militar, não é fácil. Foi um acerto criar a Guarda Municipal. Eu não sei se vou triplicar como eles estão prometendo, mas vamos agir com as possibilidades que o município tem para auxiliar nesta questão da segurança. Cada esfera de competência… tem de limitar… Vamos pedir também a central de penas alternativas, que é uma questão estadual e do próprio judiciário. O município quer fomentar isso. Pena alternativa é um avanço civilizatório. Ao mesmo tempo que você tem para o apenado as consequências negativas, ele não precisa cumprir na prisão, que é a escola do crime.
AN – Quais os planos para o transporte coletivo?
Rodrigo – Aqui você tem o seguinte fato: tem um modelo de transporte em Joinville que está temporalmente esgotado. Tenho certeza de que pode fazer uma licitação. É possível fazer, desde que você preveja que as empresas atuais podem utilizar o crédito para outorga. Enquanto isso, você pode continuar a briga judicial. Você pode revisar, mas é uma questão se é conveniente. Tem de ver se é interessante para os dois lados. A empresa faz a parte dela, mas está faltando uma decisão e definição do poder público. Não há uma estrutura adequada para avaliar transporte coletivo na cidade. Tem uma ou duas pessoas, com corpo técnico autônomo e independente. Não é só a licitação pela licitação. Que ela já abranja ônibus elétrico, por exemplo.
AN – Porque a oposição se dividiu? Não chegou a ter conversa com Darci, Tebaldi, Xuxo?
Rodrigo – Nós somos oposição, mas com a nossa visão, que é diferente de outros setores da oposição. Houve alguma conversa. Nós não queríamos ser secundários num outro projeto. Nós não éramos ouvidos e os compromissos mínimos que nós tínhamos com o governo não foram cumpridos. O fundo de ação comunitária, reforço na cultura… Fora a convivência do legislativo.
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AN – Como será o começo do seu governo? O joinvilense vai notar que trocou o prefeito?
Rodrigo – Vai ser arrojado. O joinvilense vai notar no primeiro dia que trocou o prefeito. Desde ações pequenas até grandes. Nós não vamos ter uma visão contábil da Prefeitura. Medidas legislativas que não custam dinheiro (que vamos depender da Câmara para aprovação): transferências de direito de construir para quem tem imóvel tombado, programa de calçadas, de pavimentação comunitária (que hoje é com 100% de adesão). A questão tributária pode ter um ajuste no Legislativo. Nós estamos apresentando agora doze medidas que vamos implementar para o primeiro ano do governo. Vamos fazer seis estações da cidadania (Iririú, Itaum, Floresta, Nova Brasília, Vila Nova e Pirabeiraba) pra utilizar este espaço público para creche, ensino profissional, reforço escolar e lazer (são as fábricas da cidadania).
Rodrigo Bornholdt
Partido: PDT
Vice: Valmir Santhiago Júnior (Rede)
Coligação: Pra Fazer Diferente (PDT/Rede)
Mote da campanha: Com a proposta de “Fazer Diferente”, Rodrigo Bornholdt alega ter apresentado plano de governo com ideais que não pareçam uma “lista de supermercado”. Entre as intenções, estão as fábricas de cidadania, espaços para cultura, lazer e aprendizado.