As estradas de Santa Catarina tiveram em 2018 redução de 32,5% no total de acidentes e 19,7% na soma de mortes desde 2015. Os dados são dos relatórios anuais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) do Estado, obtidos a pedido da reportagem.

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A redução de colisões e fatalidades vem na contramão do crescimento da frota em SC. Somente no mesmo período, de 2015 a 2018, houve aumento de 11,1% dos veículos em circulação, com 500 mil unidades a mais nas vias. As polícias rodoviárias atribuem a queda das ocorrências ao aumento de fiscalização e a melhorias estruturais nas estradas, especialmente nas federais.

O aumento considerável da frota é um fator expressivo para a análise dos números, de acordo com inspetor da Polícia Rodoviária Federal em Santa Catarina, Adriano Fiamoncini:

— Apesar de a lógica ser “quanto mais veículos, mais acidentes, feridos e mortes”, o que tem acontecido é o contrário, o número de mortos está caindo, o que mostra certa evolução no nosso trânsito. As pessoas podem não lembrar, mas antigamente morria muito mais gente.

Das nove rodovias federais que passam pelo Estado, a queda foi de 39,2% nos acidentes e 15,8% nas mortes desde 2015. Apenas duas apresentaram aumento de vítimas fatais neste período: a BR-158, que registrou crescimento de 33,3%, e a BR-282, que encerrou 2018 com 1,9% a mais de mortos.

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A BR-101 foi a que apresentou redução mais significativa no período, segundo Fiamoncini, levando em conta o fluxo e a extensão: foram 3.098 acidentes e 27 mortes a menos comparado às estatísticas de 2015. Com 236 quilômetros, a rodovia passa pela Capital, por Joinville e pelo Litoral Norte, onde a movimentação de veículos é intensa.

Já entre as rodovias estaduais, o número de acidentes foi 22,7% menor ao longo dos quatro anos e o de mortes teve queda de 25,4%. Onze das 68 estradas mantidas pelo Estado tiveram aumento no número de colisões desde 2015: as SCs 120, 290, 464, 406, 412, 161, 473, 496, 340, 407 e 414.

A rodovia com maior crescimento no total de acidentes e mortes desde 2015 foi a SC-414, localizada entre Luís Alves e Navegantes, no Vale do Itajaí. O número saltou de 27, quatro anos atrás, para 51 em 2018, registrando crescimento de 88,9%. Já o número de mortos passou de um para três nos últimos quatro anos.

A duplicação salva vidas, assim como a boa infraestrutura nas rodovias. Não é só a questão humana. Uma rodovia com bom pavimento e sinalizada contribui muito. Adriano Fiamoncini – Inspetor da Polícia Rodoviária Federal

Duplicação é crucial para a segurança

Na avaliação do inspetor da PRF, Adriano Fiamoncini, apesar de a BR-101 ser a estrada com maior fluxo no Estado, o fato de atualmente estar duplicada foi o principal aspecto que resultou na melhora dos números de acidentes e mortes.

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— Isso mostra que duplicação salva vidas, assim como a infraestrutura nas rodovias. Não é só a questão humana. Uma rodovia com bom pavimento e sinalizada contribui muito — enfatiza.

O trecho Sul da BR-101, que vai de Palhoça, na Grande Florianópolis, até o Sul do Estado, na divisa com o Rio Grande do Sul, é apontado como um dos que mais contribuíram para a redução dos acidentes na rodovia.

A duplicação e a entrega dos túneis e da ponte Anita Garibaldi colaboraram para os resultados positivos desde 2015, pois são obras de infraestrutura que impactam diretamente nas ocorrências de colisões e fatalidades registradas. Por essa razão, de acordo com ele, servem de exemplo para outras estradas que ainda mantêm índices preocupantes, como a BR-470, a terceira com mais mortes e acidentes dos últimos quatro anos.

— Quando começarem a liberar alguns trechos da região de Blumenau, Gaspar, Ilhota, principalmente, o número de mortos vai começar a cair. Porque a principal causa de fatalidades, que é a colisão frontal, praticamente vai deixar de existir. Precisamos de maior infraestrutura em Santa Catarina — reforça.

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Em relação às rodovias estaduais, o cenário é outro. As SCs não receberam grandes obras nos últimos anos. É o que afirma o chefe da seção de operações do Comando de Policiamento Militar Rodoviário (CPMR), tenente-coronel Mauro Palma Rezende. Problemas de pavimentação, buracos, falta de roçada nas margens, além de ausência de acostamentos e sinalização são dificuldades enfrentadas.

A gente fez um levantamento de toda a malha viária para identificar os trechos que mais registram acidentes e a característica do local. Nas vias com mais casos de excesso de velocidade, implantamos uma fiscalização mais rígida, por exemplo. Isso acontece todos os dias.Mauro Palma Rezende – Chefe de Operações do Comando de Policiamento Militar Rodoviário

A ausência de investimento em infraestrutura, entretanto, procura ser compensada pelo trabalho de fiscalização, conforme o tenente-coronel, e a busca por intervenções pontuais, como a lombadas e placas.

– A gente não teve intervenção de engenharia que justificasse essa redução. A única coisa que a gente está programando é uma fiscalização mais intensa com operação integrada – relata.

Rezende conta que todos os postos são obrigados a realizar duas operações de fiscalização por dia com base em infrações que costumam resultar em acidentes: embriaguez, excesso de velocidade, ultrapassagem em local proibido, uso do celular e falta do cinto de segurança.

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O método é baseado nos princípios previstos no movimento Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020), da Organização Mundial de Saúde.

A partir da fiscalização, de acordo com Rezende, tem sido possível observar a redução do número de ocorrências. O foco nos locais com maior índice de colisões foi o fator que resultou na melhora das estatísticas.

Alterações estruturais dão resultado

Além do policiamento rodoviário, que tem sido mais presente nas BRs e SCs do Estado, e do aumento nas campanhas que buscam levar mais responsabilidade aos condutores, para Lilian Diesel, pesquisadora da área de gestão de risco de acidentes de trânsito e desastres em rodovias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), intervenções pontuais de infraestrutura ajudam a compreender a queda dos índices de mortes e acidentes desde 2015. Ela exemplifica que isso pode ser observado em duas situações: na SC-401, em Florianópolis, e na BR-101 em Itapema.

– A “curva da morte” na SC-401 era um problema de infraestrutura. Foi feito um trabalho com o professor da UFSC, Glicério Trichês, especialista em curvas, que foi lá e fez todo o cálculo e planejamento para que o grau de curvatura não jogasse os veículos para fora da pista, o que acabou diminuindo de forma considerável os acidentes naquele trecho após a correção – explica.

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Cercas reduziram atropelamentos

Já na BR-101, em Itapema, no Litoral Norte, Diesel descreve que o problema estava relacionado aos atropelamentos, um tipo de acidente que deve ser tratado com bastante atenção, segundo ela, porque os pedestres são as vítimas mais vulneráveis em caso de colisão. Como a pista era aberta, quem precisava transitar a pé no trecho atravessava a rodovia, muitas vezes embaixo ou muito próximo à passarela que havia no local.

– Após um estudo de pontos de risco nas rodovias, em conjunto com a concessionária, foram colocadas telas de proteção entre as pistas sentido norte e sul. Um dos motivos foi justamente para impedir que as pessoas atravessassem novamente a pista embaixo da passarela, para forçar que o pedestre utilizasse uma infraestrutura que é feita para ele, e nas laterais, para impedir que eles tenham acesso às pistas – descreve Lilian.

Intervenções econômicas ampliam segurança das pistas

Por haver muitas vias de pista simples, acostamento é fundamental para reduzir o número de colisões frontais, de acordo com Lilian Diesel, especialista em gestão de risco no trânsito, pois o motorista precisa ter local de fuga ao se deparar com uma ultrapassagem inesperada.

Há intervenções pontuais e econômicas que podem contribuir ainda mais para a redução de mortes nas rodovias.

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A atenção à limpeza da pista é um delas, já que há muitas placas cobertas por vegetação, sobretudo na BR-282, no Oeste, que dificultam os condutores enxergarem uma curva à frente.

– Se não tem condições de fazer obras, é preciso manter a luminosidade e a sinalização adequada. Demanda certo recurso, mas é menor que o de pavimentação e curva.

A pesquisadora salienta a importância da implantação e manutenção de sinalização horizontal e vertical nas rodovias, como os chamados “olho de gato” e os totens. Ela afirma que na BR-101, em Tijucas, há várias placas alertando motoristas para uma curva acentuada considerada perigosa, um exemplo de como a sinalização é mais atuante.

Norte e Oeste de SC tiveram maior redução de acidentes

A SC-416 e a BR-480 foram as rodovias que apresentaram maior queda gradativa proporcional do número de acidentes nos últimos quatro anos. Apesar de serem estradas menores em extensão, comparada com as demais, as reduções ano a ano foram significativas.

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Com 24,4 quilômetros, a SC-416 liga os municípios de Garuva a Itapoá, no Norte do Estado. Apesar de não ser uma rodovia tão grande em extensão, a movimentação de veículos é intensa, pois a via é o principal acesso ao porto de Itapoá e à praia do município. Em quatro anos, a rodovia reduziu em 70,4% os acidentes e zerou o de mortes em 2018. Em 2015, o número de colisões no trecho chegou a 27, passando para 8 no ano passado.

Ao longo dos últimos anos, a infraestrutura da estrada não teve intervenções que justificassem a queda, segundo o major Marcelo Venera, que atua no Comando de Policiamento Militar Rodoviário da região.

– Como a principal causa de acidente é a imprudência dos motoristas, a fiscalização foi intensificada por meio de radares móveis para que possamos trabalhar na raiz do problema, que são as ultrapassagens em locais proibidos e o excesso de velocidade. A velocidade máxima no local não passa de 80 quilômetros por hora, mas já registramos veículos andando a 210 quilômetros por hora – relata.

Das federais, a BR-480, que liga a BR-282 ao centro de Chapecó, apresentou queda de 55,6% nas colisões e 66,6% nas mortes ao longo de seus pouco mais de 8,8 quilômetros. Em 2015, 97 acidentes haviam sido registrados no local. O número diminuiu desde então, passando para 43 no último ano. Entre 2014 e 2016, a via passou por duplicação, o que ajuda a explicar os bons resultados. Paralelamente, menos pessoas também morreram nessas colisões ao longo dos anos. Foram quatro vítimas fatais em 2015 e uma em 2018.

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