Alvinegro ou avaiano. Pepista ou peemedebista. Católico ou evangélico. Do Rachadel ou de Santa Maria. Todas as divisões naturais da sociedade de Antônio Carlos, na Grande Florianópolis, são deixadas de lado quando um assunto vem à tona. Basta falar sobre as más condições da rodovia SC-407, que liga o município a Biguaçu, para que se crie um clima de união. E indignação. Vergonha e esquecimento viraram palavras de ordem para os moradores da cidade e de toda a região do Alto Biguaçu.

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Asfaltada em 1983, a SC-407 chegou ao seu limite. Recheada de buracos, a rodovia escoa a produção da maior fábrica de refrigerantes do Estado, além de um terminal de distribuição da Petrobrás e as hortaliças e gramas ornamentais da região. O intenso fluxo de caminhões carregados fragmentou o asfalto em diversos trechos. Os buracos cresceram e causam acidentes.

Um dos que se acidentaram é o comerciante Edemilson Rodrigues. Há três semanas, ele dirigia sua moto no sentido Biguaçu quando outro motociclista passou por um buraco, perdeu o controle e bateu de frente com ele em uma curva perto do Hospital de Biguaçu. Os hematomas na perna ficaram como lembrança do perigo diário no asfalto esburacado.

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– Foi por causa das más condições (o acidente). É muito caminhão com peso. A rodovia não comporta – diz.

Um dos trechos mais críticos fica na comunidade de Santa Catarina, ainda em Biguaçu. Ali, um morador indignado colocou uma lata de tinta no meio da pista para sinalizar as crateras. Os veículos precisam rodar bem devagar e até seguir na faixa contrária para desviar dos desníveis. Já tem morador ameaçando jogar uma montanha de barro na estrada para chamar a atenção das autoridades.

Sem acostamento

Outra crítica geral é sobre o perigo pela falta de acostamento. Em pouco tempo no local, pode-se ver mães segurando crianças pela mão, desviando dos carros. Daniela Mathias, de 30 anos, morou a maior parte da vida na comunidade antes de se mudar para os Ingleses, em Florianópolis. Visitando a família, ela afirma que as caminhadas eram ainda mais perigosas antes da colocação de uma lombada na região.

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– Não tem condições (de andar em segurança). Se eu tivesse que morar de novo aqui, só se cercasse a propriedade – diz ela, segurando a filha com uma mão enquanto dá colo para o caçula, de um ano.

Em Antônio Carlos, o asfalto esfarelado também provoca prejuízos. Além de dificultar o escoamento da produção agrícola e industrial da cidade, são muitos os casos de pneus furados e aros tortos em função da buraqueira.

O frentista Claudenir de Oliveira diz ter perdido a conta de quantos veículos danificados já pararam no local para realizar pequenos reparos.

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– Os clientes reclamam demais, em especial quem dirige caminhão. Para mim, o trecho mais crítico é logo depois da divisa, do lado de Biguaçu. Ali, a buraqueira está demais – conta Oliveira, que mora há quatro anos na cidade.

Posição do Deinfra

Procurado pela reportagem da Hora de Santa Catarina, o Deinfra admitiu o péssimo estado de conservação da rodovia. Segundo o órgão, o asfalto entrou em estado de fadiga – situação tão crítica que operações tapa buraco já não surtem efeito.

Diante disso, há um projeto de revitalização, com a construção de calçadas e ciclovias nos trechos urbanos, além do aumento do raio de curva em alguns locais. A obra está orçada em R$ 6,14 milhões. A má notícia é que os trabalhos só devem começar no primeiro trimestre de 2016, na melhor das hipóteses.

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Segundo um diretor do Deinfra, o projeto está agora no gabinete do Secretário da Fazenda e aguarda o aval do Grupo Gestor do governo estadual. Após a liberação da verba, são pelo menos dois meses entre o lançamento do edital e a conclusão do processo de licitação. Depois da assinatura da ordem de serviço, o prazo para conclusão é de 540 dias. Todos os 14 quilômetros da rodovia serão contemplados com nova camada asfáltica, além da melhoria em oito acessos.

Prefeituras pressionam

Diretamente interessadas na melhoria das condições de trafegabilidade, as prefeituras de Antônio Carlos e Biguaçu vêm pressionando o governo estadual em busca de uma solução rápida.

Segundo o prefeito Ramom Wollinger, de Biguaçu, as conversas começaram ainda em 2010. Desde então, chegou a haver uma proposta para que a Petrobras e a Vonpar (franquia da Coca-Cola) bancassem as obras de restauração mediante redução de impostos, porém as conversas não avançaram. Enquanto a pressão dos moradores só aumenta, a expectativa agora é pelo início dos trabalho de restauração.

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– Mesmo com a responsabilidade estadual, a prefeitura de Biguaçu pensou em fazer o serviço por conta própria. Só não fizemos por causa do estado caótico (das finanças do município) – diz.

Na prefeitura de Antônio Carlos, o otimismo é um pouco maior. De acordo com o prefeito Paulo Remor, o presidente do Deinfra Wanderley Agostini prometeu que as obras devem começar ainda este ano.

– Em resposta às várias reivindicações, Agostini informou que as obras da rodovia SC-407 terão início ainda este ano, entre fim de novembro a início de dezembro – afirma o prefeito.

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