O trânsito intenso de pedestres, motos, carros, caminhões e até tratores divide espaço com as paisagens dos arrozais. O tráfego intenso diariamente é uma realidade da SC-108, entre Joinville e Guaramirim – também conhecida como Rodovia do Arroz – há pelo menos uma década. Em 2007, o governo do Estado inaugurou a rodovia depois de quase 50 anos de reivindicação dos moradores. Hoje, trafegar pela região requer atenção por causa dos problemas de conservação em vários pontos, ao longos dos quase 28 quilômetros do trajeto.
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A parte joinvilense da rodovia já foi conhecida como Estrada do Sul e é muito importante para os produtores rurais do bairro Vila Nova, na zona Oeste da cidade. Entre as duas cidades, desde o cruzamento com a BR-101 até o entroncamento com a 280, a estrada acumula sinais de falta de conservação: há vários trechos onde a faixa divisória de fluxo está apagada, há buracos, falta de ciclovias, iluminação e acostamento.
A falta de conservação pode ser agravante para a incidência de acidentes na região. Ainda que não tenham ocorrido tragédias recentes na rodovia, do dia 5 ao dia 9 de julho, quatro acidentes graves foram registrados neste trecho da SC-108.
— Todo dia, nós ficamos sabendo de algum acidente. Inclusive, os moradores apelidaram essa parte, do km 16, de curva da morte — conta o aposentado Nivaldo Brümmer, 55 anos, que transita e mora na Rodovia do Arroz.
O aposentado menciona que, desde que foi inaugurado o asfalto, ele já contabilizou oito pessoas mortas na curva do quilômetro 16, em frente a sua casa. Segundo Nivaldo, no período da noite e aos finais de semana são constantes os barulhos de freadas bruscas ou de pequenos acidentes no trecho. Para ele, além das melhorias que deveriam acontecer ao longo da rodovia estadual, os motoristas também precisam ser mais conscientes.
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A imprudência também é fator primordial na incidência de acidentes na Rodovia do Arroz. Como não há radares no trajeto, muitos condutores não respeitam o limite de velocidade de 80 quilômetros por hora. Além disso, no período em que a reportagem esteve no local, quatro carros foram flagrados ultrapassado em locais proibidos ou de maneira perigosa. As lombadas, que poderiam ajudar a diminuir o excesso de velocidade estão com a sinalização horizontal apagada e algumas já afundam no próprio asfalto.
Além disso, outros fatores destacados pelos moradores são a falta de ciclofaixas, de acostamentos – ou nos locais onde há, as faixas são menores do que a largura de um carro – e placas encobertas pelo mato.
— Como as máquinas agrícolas andam geralmente no acostamento, se tem uma de cada lado e carros e caminhões nos dois sentidos, como isso não vai dar acidente? É claro que vai — reclama o morador Nivaldo.
Segundo o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), responsável pela manutenção da rodovia, a SC-108 deve receber melhorias em breve em diversos trechos. Será feita a revitalização, como colocação de placas, reforço na sinalização, roçada e também uma operação tapa-buracos, mas não há prazo para isso acontecer.
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– Nós estamos concluindo alguns trabalhos de melhorias em outras rodovias, como na SC-415, em São João do Itaperiú, e depois nós vamos para a 108, que vai da Rodovia do Arroz, Guaramirim e Massaranduba – garante o superintende do Deinfra, Ademir Machado.
Buracos e imprudência
Em um dos acidentes da última semana, o condutor perdeu o controle do carro após desviar de um buraco. O motorista capotou o automóvel e cinco pessoas ficaram feridas. Junto às crateras, a pouca iluminação na Rodovia do Arroz também favorece essas ocorrências, já que à noite os buracos ficam quase imperceptíveis aos olhos dos motoristas.
Perto do quilômetro 26, onde passa o trilho do trem, fora os buracos, ainda há desníveis e irregularidades no asfalto. O trecho também foi cenário de acidente há cerca de um mês, entre um caminhão e uma locomotiva. De acordo com o superintendente do Deinfra, não há obrigatoriedade para iluminação da rodovia estadual, ainda que ele reconheça que “o ideal seria ter”.
— Eu acho bastante perigoso aqui, e de noite a situação só piora. Não tem nenhum tipo de iluminação em vários trechos — aponta Hermann Janh, 24 anos, que mora desde que nasceu às margens da rodovia.
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Além dos nomes já conhecidos para a rodovia, ela ainda carrega o nome do bisavó de Hermann, Rodolfo Janh. O jovem conta que o senhor sempre morou no local e se empenhou muito para que a estrada rural virasse uma rodovia para transportar os produtos da economia da região. Hermann ainda observa quem, fora os problemas de infraestrutura, a imprudência também é fator primordial na incidência de acidentes na Rodovia do Arroz.
Como não há radares no trajeto, muitos condutores não respeitam o limite de velocidade de 80 km/h. No período em que a reportagem esteve no local, quatro carros foram flagrados ultrapassado em locais proibidos.
Sem abrigo para dias de chuva
O aposentado Nivaldo, retratado no início desta reportagem, lembra-se da rodovia quando ainda era de chão batido. Desde então, ele se aventura de bicicleta para se locomover no dia a dia e o carro quando precisa andar trajetos mais longos. Segundo ele, andando de bike é possível observar diversos problemas no dia a dia do trânsito – um deles é o banho de chuva que as pessoas tomam esperando o ônibus na rodovia.
— E não é por poça de água, é porque quase todos os pontos de ônibus estão completamente enferrujados e não têm cobertura. Em dia de chuva, molha tudo. Isso é um descaso com quem mora por aqui — completa o aposentado.
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De acordo com o Deinfra, a responsabilidade de manutenção dos abrigos é do Departamento de Transportes e Terminais do Estado de Santa Catarina (Deter). Já o Deter informou, por meio de nota, que “descentraliza recursos financeiros para as prefeituras construírem os abrigos de passageiros. Tais equipamentos passam a ser patrimônio das prefeituras, que são responsáveis pela sua manutenção”. Já a Prefeitura de Joinville informou que, pelo abrigo estar em uma rodovia estadual, a responsabilidade de cuidados é do Estado.