“Tens que postar pra bombar!”. São poucos os viventes que, depois do boom das redes sociais, nunca ouviram essa frase. Ainda assim, a expressão viralizou no final de 2017 com o vídeo “Rocky Crossfiteiro”, uma redublagem do filme clássico, que sacaneia os praticantes de crossfit (treinamento de força e condicionamento físico baseado em movimentos funcionais). É nas ruas de Palhoça e na praia de Jurerê que Rocky Balboa treina para modelar seu corpo, mas o que pouca gente sabe é que esta pérola da internet foi produzida no quarto de dois irmãos em São José.
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Lucas e Jean, do canal de YouTube Irmãos Miranda, fazem vídeos de humor desde 2016, mas não imaginavam que uma de suas esquetes poderia chegar a mais de 650 mil visualizações na plataforma de vídeo e 1 milhão de visualizações no Facebook. O começo de 2017 pareceu promissor quando a paródia de Bruno Mars “Floripa Ilha da Magic” superou 40 mil views e foi parar até no Jornal do Almoço, mas a repercussão do Rocky Crossfiteiro foi ainda maior.
— A gente não esperava que fosse fazer esse sucesso todo, ficamos de cara com o quanto o pessoal se identificou. Teve quem achou que a gente não gosta de crossfit — e meio que foi isso —, mas também agradou quem faz crossfit, que se identificou e deu risada — comenta Lucas, que tem 25 anos e trabalha como jornalista.
Até um youtuber famoso — quase 5 milhões de inscritos em seu canal —, o Lucas Lucco, se divertiu com a produção e mandou mensagem parabenizando os irmãos. A cada momento que passa, o sucesso de “Rocky Crossfiteiro” surpreende ainda mais Jean, que tem 19 anos e estuda História na UFSC.
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— A real é que quando a gente termina de fazer quase todos os vídeos, a gente acha que ficou uma b%$#@. O Rocky foi a mesma coisa, até porque a gente não faz crossfit. A gente tem a forma física horrível, mas temos outros dois irmãos que fazem crossfit e vemos que é, realmente, uma praga. Eles não param de falar nisso, aí que surgiu a ideia.
Se a ideia para o vídeo de maior sucesso do canal veio dos irmãos mais velhos, a inspiração veio dos programas humorísticos Pânico e Hermes & Renato e a aptidão para os microfones veio da mãe, a professora Rosania, e do pai, Claudionir Miranda, narrador esportivo. Os dois, inclusive, fazem pontinhas nas produções de Lucas e Jean.
— A coisa mais teatral vem da mãe, que é professora de Educação Infantil e usa muito teatro em suas aulas. Do pai vem essa coisa de trabalhar em TV e rádio… A mãe tem mais facilidade pra fazer a dublagem que o pai, por isso a gente costuma chamar ele só à noite, depois que tomou uns goles de cuba e está mais soltinho — brinca Lucas.
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Os limites do humor
Um dos vídeos mais recentes do canal é o “Poderoso Chatão”, a redublagem mais recente dos irmãos Miranda — toda segunda-feira tem uma produção nova. Na paródia, sempre há um chato para tentar fazer graça ou converter os outros a suas preferências…
— A gente pegou umas coisas que são o esteriótipo do chato, principalmente aquela coisa de tentar impor para os outros. Futebol americano, comida vegana, astrologia… — conta Lucas.
Fazer piada com as preferências de alguém pode ser engraçado, mas também pode passar do ponto e virar ofensa. Os irmãos Miranda cuidam “para não pegar pesado demais”, mas procuram não se preocupar com essas questões na hora de bolar uma esquete.
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— É humor, alguém sempre pode se sentir ofendido. No “Poderoso Chefão”, por exemplo, de repente algum vegano vai se chatear, mas o problema é quando é ofensa gratuita. Eu acho que tem que brincar com todo mundo, todos os esteriótipos, porque aí não tem erro. Tudo com responsabilidade, até porque se eu pisar fora da curva vão me encher o saco na faculdade — comenta Jean, que estuda no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, onde a patrulha politicamente correta é forte.
Grana que é bom, nada
Apesar do sucesso do canal do YouTube, os irmãos Miranda ainda não conseguiram monetizá-lo. O primeiro — e maior — empecilho diz respeito aos direitos autorais dos vídeos. Como boa parte de suas produções são paródias musicais ou redublagens de filmes famosos, qualquer verba arrecada com publicidade é diretamente direcionada para os estúdios detentores dos direitos autorais das produções originais.
— A gente não ganha nada. Se a monetização viesse para a gente, a gente teria um dinheiro já. Então, por isso, estamos investindo em outros tipos de conteúdos — afirma Jean.
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No canal há outros vídeos, como um jogo de perguntas e respostas entre os dois, esquetes de humor, imitações e até uma batalha de trocadilhos, mas as visualizações ainda não chegaram a um número suficientemente grande para garantir a remuneração. Algumas empresas já procuraram os dois para avaliar a produção de um comercial, mas Lucas e Jean decidiram esperar um pouco mais.
— Muita gente nos procurou pedindo “um viral pra nossa empresa”. Mas não é assim, né? Como vou fazer bombar um comercial de sapataria? O viral acontece, não se planeja. Vai ficar forçado — avalia Lucas. — Não estamos fazendo comercial, estamos esperando alguém que acredite e invista na ideia — completa Jean.
Vem mais por aí
Se uma das maiores inspirações dos irmãos Miranda é o programa Pânico, eles não poderiam deixar de lado um dos quadros mais icônicos. Para este semestre, Lucas e Jean trabalham em uma nova série de vídeos, agora com entrevistas bem-humoradas na porta das principais festas universitárias de Florianópolis.
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— Depois que o Pânico acabou, ninguém mais faz isso. É o que a gente gosta, vamos começar aqui em Floripa e se der certo vamos para outros lugares — adianta Jean.
Existem outras ideias, como um programa de culinária, mas ainda é difícil para os jovens conciliarem estudos, trabalho (remunerado) e a dedicação ao canal de YouTube. A solução é levar do jeito que dá e, no momento, apostar no que está dando certo: as redublagens de filmes clássicos. E se você quer saber mais assista nosso vídeo abaixo: