Entre 1976 e 1980, Robert De Niro e Sylvester Stallone interpretaram dois dos mais icônicos pugilistas do cinema: Jake LaMotta (de Touro Indomável) e Rocky (de Rocky, um Lutador). Mais de 30 anos depois, eles estão de novo no ringue, como dois veteranos do boxe que voltam para uma revanche – por mais improvável que pareça.
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Em Ajuste de Contas, comédia de Peter Segal que estreia nexta sexta-feira no circuito de cinemas, a dupla interpreta Henry “Razor” Sharp (Stallone) e Billy “The Kid” McDonnen (De Niro). Antes de qualquer coisa: são dois personagens fictícios que nada têm a ver com LaMotta e Rocky. Em suas carreiras, Razor e The Kid lutaram mais de 30 vezes cada um e só perderam uma vez – para o outro.
A terceira luta entre ambos não saiu devido a questões pessoais que são reveladas ao longo da narrativa (e que envolvem uma loira, vivida por Kim Basinger). Tanto tempo depois, é a tentação dos cachês que os faz voltar para a adiada “negra”. É como se a ficção imitasse a realidade – afinal, não seria por outro motivo que De Niro e Stallone toparam participar deste filme.
Os roteiristas Tim Kelleher e Rodney Rothman conseguiram tornar crível a luta de dois sessentões graças à incorporação de piadas que os colocam como protagonistas de virais de internet – no filme, os fãs do boxe entram na onda porque o reencontro acaba se tornando uma grande zoação com duas lendas vivas do esporte.
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Alan Arkin (como o pai e treinador de Razor), Jon Bernthal (o filho e treinador de The Kid) e Kevin Hart (o empresário de ambos) parecem estar em registros às vezes distintos, o que ajuda a explicar a irregularidade de Ajuste de Contas. Certas piadas funcionam bem, outras nem tanto, e ao menos uma delas, que envolve sexo oral e o netinho de The Kid, é de uma infelicidade imensurável. Também é difícil ver De Niro gritando abobado pela rua, embora algumas de suas péssimas escolhas de papéis recentes diminuam o impacto negativo da cena.
No fim das contas, o filme funciona, mas, como era de se esperar, flerta demasiadamente com o ridículo – o que tem suas consequências.
Ajuste de Contas
(Grudge Match)
De Peter Segal.
Com Sylvester Stallone, Robert De Niro, Kim Basinger, Alan Arkin, Jon Bernthal e Kevin Hart.
Comédia, EUA, 2013. Duração: 113 minutos. Classificação: 12 anos.
Cotação: 2 (de 5) estrelas.
LaMotta X Rocky
Com suas peculiaridades, Rocky e Touro Indomável são dois dos grandes filmes contemporâneos de boxe, e seus atores principais, as encarnações de duas das personalidades mais simbólicas deste “subgênero” cinematográfico. Confira a seguir os pontos fortes de cada longa:
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1º round: Imaginário popular
> Quem viu alguma das cinco sequências do Rocky (1976) de Stallone tende a diminuí-lo, mas o longa-metragem original era bom – tanto que venceu os Oscar de melhor filme e direção (para John G. Avildsen). A obra-prima Touro Indomável (1980), que apresentou De Niro como Jake LaMotta, não penetrou no imaginário popular de maneira tão profunda quanto o longa lançado quatro anos antes.
2º round: Desglamourização do herói
> Enquanto a franquia Rocky foi usada por Hollywood como símbolo da polarização em tempos de Guerra Fria (em Rocky IV, o lutador norte-americano encarna a persona de mocinho no combate contra o vilão soviético), o longa de Scorsese também é visto como retrato da decadência de um ex-esportista. Essa “desglamourização”, que vai no sentido oposto ao de Rocky, é típica na obra de Scorsese – ele fez o mesmo com a figura clássica do mafioso em Os Bons Companheiros (1990), por exemplo.
3º round: Interpretação
> Stallone escreveu o roteiro de Rocky rapidamente após assistir a uma luta de Muhammad Ali, e só aceitou vendê-lo com a condição de que ele próprio interpretasse o protagonista – o que frustrou os planos dos produtores, que queriam escalar o ator Ryan O?Neal no papel e cederam, diz a lenda, apenas porque Stallone e o diretor Avildsen se comprometeram a não gastar mais do que US$ 1 milhão na produção. Touro Indomável tem uma história bem diferente: o diretor Martin Scorsese já estava consagrado (lançara Taxi Driver em 1976) quando decidiu adaptar a autobiografia de LaMotta (trata-se de um personagem real). De Niro, o protagonista também de Taxi Driver, engordou 25 quilos para as cenas que mostram o pugilista aposentado. Ele ganhou o Oscar de melhor ator – e o filme merecia mais.
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