Rita Lee vai continuar reverberando para a eternidade. A gente vai poder dizer que viveu na mesma época em que ela esteve aqui neste mundo.
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Eu conheci a Rita Lee na década de 1970 com a música “Esse tal de Roque Enrow”. Lembro-me que ainda criança eu, já louca por música, brincava de ser ela cantando com cabo de vassoura me achando “A” roqueira!
Tinha algo no visual, na energia daquela mulher que me encantava. Mais tarde, percebi que o me encantava ia muito além das músicas dela. Eu amava as atitudes, como ela se vestia, como ela se comunicava. Achava maravilhoso ela à frente de uma banda de homens, gatos, roqueiros.
Era libertador.
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Eu nada entendia ainda de machismo, feminismo, empoderamento. Mas achava poderoso uma mulher tão livre com sua banda rock.
Passei a comprar os LPs dela e seu Tutti Frutti. Mais tarde, já mais interessada na história, vi que essa liderança já tinha rolado na banda Mutantes, que foi tão importante no tropicalismo.
O último, impecável e histórico show de Rita Lee em Florianópolis
Foi conhecendo a história dessa paulista ruiva de olhos azuis que percebi o quanto ela foi gigante para nós mulheres e, por isso, eu me sentia tão atraída.
As músicas abordavam temas sociais, mas a coerência da Rita no dia a dia como cidadã é que fortaleceu tudo que ela foi.
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Assim como eu, ela acreditava que não tinha essa coisa de que “homens podem tudo e mulher tem que se comportar”. Ela praticava isso, nunca se intimidou e muito menos ficou na reclamação.
Ela fazia.
Em uma entrevista a Pedro Bial, contou que era punk ser roqueira na época dos Mutantes.
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Ela ouvia muito dos homens que “pra fazer rock tem que ter culhão”. Ela pegou o ovário, foi lá e fez. O machismo a tirou dos Mutantes. Formou outra banda e mandou ver. Como ela mesmo cantava “deu tratos à bola” e seguiu fazendo o que acreditava que podia fazer. Fez com maestria.
Ela mesma falava que não gostava muito de discurso, preferia mostrar que a mulher podia na prática: “‘Ahh, mulher não pode usar calça Jeans’. Vesti meus jeans e fui pro palco”.
Rita enfrentou censura, prisão, mas nunca perdeu a gana de viver. Viveu intensamente.
Se apaixonou por um homem mais novo. Casou com ele. Na época, muitos falaram que o amor adocicou Rita. Sempre achei que ela continuou sendo a mesma mulher forte de sempre, porém, apaixonada.
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A “profecia” que Rita Lee escreveu sobre o dia de sua morte
Viveu, sim, uma linda história de amor, criou três filhos lindos e, com certeza, os formou homens melhores.
O mundo da música perde uma compositora consistente e eternamente impertinente. O Brasil perdeu uma das grandes mulheres que não se importava com bandeiras, ela era a própria bandeira!
Rita me instigou a viver intensamente, a não esconder as coisas que acredito e a ser uma mulher com todo poder que qualquer ser humano deve ter sobre sua vida, independente de gênero. Me ensinou a acreditar no amor, a me permitir e me fez ser ainda mais apaixonada por música!
Rainha do rock brasileiro, Rita Lee embalou gerações ao longo da carreira
E pra terminar este texto, deixo uma parte de uma das letras que mais amo dela:
“Não é de hoje que eu estou aqui
Tentando voltar pro lugar
De onde nunca saí
Eu já fui pedra
Eu já fui planta
Eu já fui bicho
Hoje eu sou uma pessoa envolvida
Pelas vidas que vivi
Eu faço parte do povo
Que faz parte da Terra
Que faz parte do reino
Que não teve começo
Que não vai ter fim(…)”
[o futuro me absolve – Rita Lee e Tutti Frutti]
Obrigada, Rita Lee, Por toda a arte e por tudo que você representou para nós, mulheres!