Santa Catarina continua forte no vôlei nacional. E a única representante do Estado na Superliga Feminina, principal competição do país, é a equipe de Rio do Sul, do Alto Vale do Itajaí. Um projeto montado há cinco anos e que em 2016 começa a colher os frutos de um trabalho feito com paixão, humildade e pés no chão. Mesmo com o 10º orçamento das 12 equipes da Superliga Feminina (aproximadamente R$ 1,5 milhão), Rio do Sul/Equibrasil terminou a fase de classificação em sexto, a melhor da história do clube, posição que o levou às quartas de final.
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Com uma campanha de 13 vitórias e nove derrotas, as catarinenses terminaram à frente de equipes tarimbadas como o Pinheiros e o Sesi, ambas de São Paulo. O primeiro desafio dos playoffs é neste sábado, às 21h30min, diante do Camponesa/Minas, em Belo Horizonte, um dos times mais tradicionais do voleibol brasileiro e que esteve presente em todas as edições da Superliga. A vaga será decidida em melhor de três jogos.
Uma das peças importantes que faz toda essa engrenagem dar certo é o técnico Spencer Lee. Natural de Passos (MG), Lee, 46 anos, é filho de pai holandês e mãe brasileira e está em sua segunda temporada à frente da equipe catarinense. Do nono lugar em sua primeira participação com o time de SC (2014/2015) ao sexto deste ano, ele destaca a evolução do grupo à força da torcida e a homogeneidade do seu elenco. São 16 atletas, sendo seis mantidas da temporada passada, o que segundo o treinador, ajudou a formar a base para este ano.
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– O primeiro ano é de adaptação, à cidade, ao trabalho, ao projeto como um todo. Tivemos o cuidado de dar manutenção à equipe na Superliga, porque no ano anterior à minha vinda a gente ia cair para Liga Nacional, mas com a desistência do Barueri e do Campinas, a gente permaneceu. No primeiro ano, eu fiquei com um sentimento de dívida. Sei da dificuldade financeira para se fazer voleibol em Rio do Sul. Nossa cidade é pequena, mas abraça com muito carinho o projeto. Nesse segundo ano as coisas aconteceram de uma forma melhor, e eu me sinto hoje um pouco mais a vontade de ter dado à cidade um pouco daquela alegria que eu esperava dar, porque fui muito bem recebido aqui desde o primeiro dia que eu cheguei – relembra o treinador.
Em entrevista ao Diário Catarinense, Spencer Lee conta como tem feito para transformar o baixo investimento financeiro em resultado dentro de quadra, também fala da importância da torcida e do que espera dos jogos contra o adversário mineiro.
O orçamento feito só é superior ao de Valinhos e São Bernardo. Como, com baixo investimento, ter resultados tão bons?
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Escutei do prefeito (Garibaldi Antônio Ayroso, o Gariba) uma frase que me comoveu. Ele disse: “O Brasil inteiro conhece de Rio do Sul a tragédia da enchente, só notícia ruim, e o voleibol é o nosso porta-voz das notícias boas para todo o país”. Então, tem que fazer com que as atletas entendam que aqui temos um projeto que é fruto de sacrifício e dedicação grandes. Estamos representando um Estado, uma cidade e, graças a Deus, a comissão técnica trabalha de forma muito coesa. Dedicamos nossa vida ao voleibol, 24 horas por dia, treinamos seis horas por dia, há um sacrifício que vale a pena.
Mesmo com o sexto lugar, você sempre quis manter os pés no chão. Por quê?
Houve um momento em que as pessoas começaram a falar: “Ah, vamos chegar em quinto, em quarto, dá para ganhar de tudo mundo”. Calma, não é por aí. Somos o 10º investimento, está muito legal até agora, mas se cria uma expectativa que transcende a realidade, e se a gente não atinge, gera uma frustração. Nosso principal objetivo quando começou a Superliga era estar entre os oito primeiros. Estar em sexto é melhor do que em sétimo, mas se as pessoas criam a expectativa de um quarto lugar, por exemplo, o sexto é decepcionante.
Rio do Sul tem tradição de contratar jogadoras que ganham projeção. Como estão lidando com o fato de que podem perder essas atletas para a próxima temporada?
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É um ciclo. Com orçamento baixo, temos que contratar boa jogadoras, jovens, com a ambição de entrar num cenário nacional. São jogadoras que são reservas de um time médio, ou grande, então elas vêm para Rio do Sul sabendo que vão jogar, que depois vão dar um upgrade na carreira. Nossa comissão técnica sempre trabalhou com categoria da base, somos formadores. Eu não sou um campeão olímpico que me tornei treinador, eu fui técnico de mirim, infantil, infanto-juvenil e adulto. Então a gente percebe que algumas atletas se desenvolvem tecnicamente, isso é característica do nosso trabalho e tem atletas que preferem trabalhar com esse perfil.
Das 13 vitórias de Rio do Sul, 10 foram jogando em casa. Dá para afirmar que a torcida é um dos diferenciais do time?
É sim. A torcida abraçou a equipe, as pessoas têm orgulho do nosso time, isso é muito bonito. O nosso torcedor é um apaixonado, ele se alimenta do voleibol e ele é o principal alimento para que o projeto continue.
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A maior pontuadora do torneio é de SC
Ela nasceu em Belo Horizonte, tem 25 anos e se dedica ao vôlei desde os 12, quando iniciou seus passos no Mackenzie. Heloisa Lacerda Pereira, a Helô, camisa 1 da equipe de Rio do Sul, começou a jogar convite de uma professora de educação física por ser muito alta. Hoje, figura no topo do ranking das maiores pontuadoras da Superliga, com 337 pontos marcados, à frente de jogadoras consagradas como a bicampeã olímpica Paula Pequeno e a catarinense, também campeã olímpica, Natália (atualmente na equipe do Rexona, no Rio de Janeiro). A oposta vive o melhor momento da carreira.
– Voleibol é a minha vida. Já faz parte de mais da metade da minha vida, é para isso que eu me dedico, é nisso que eu projeto os meus sonhos.
Heloisa jogou a última Superliga pelo Araraquara, veio para Rio do Sul nesta temporada e ganhou projeção. Com 1m88cm de altura, ela tem como ídolo e referência na modalidade a também oposta Sheilla, bicampeã olímpica em Pequim e Londres, e que atualmente joga no voleibol turco.
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– Eu sempre gostei muito da Sheilla. Ela é mineira, também de Belo Horizonte, também jogou no Mackenzie. Antes eu não acompanhava tanto o esporte, eu não conheço a geração da Ana Moser, por exemplo, então, quando eu falo, é mais das meninas da minha geração, de pessoas que eu já treinei junto. Por exemplo, a Fernanda Garay, que eu acho uma jogadora excepcional. A Gabi, a Natália também. E fora tem a coreana Kim, gosto muito do jogo dela.
O confronto com o Minas será especial para Heloisa, já que neste sábado voltará para a capital mineira, sua terra natal. Superar esta emoção é o primeiro passo para depois, em Rio do Sul, contar com o apoio da torcida local para levar o time às semifinais e fazer história.
– É uma grande equipe, tem jogadoras excelentes, sabemos que jogar lá vai ser muito difícil. Eles têm uma torcida, Belo Horizonte é minha casa, o pessoal gosta muito de vôlei, tenho certeza que o pessoal vai estar lá torcendo. Depois, trazendo um jogo para cá a gente tem uma grande chance também de ganhar, como já fizemos antes, e acredito que um terceiro jogo é possível e aí eu só vou sair carregada da quadra – finalizou.
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Confira os jogos
1º jogo
12/3 – sábado, às 21h30min
Local: Arena Minas (Sportv)
2º jogo
15/3 – terça-feira, às 21h30min
Local: Rio do Sul (Sportv)
3º jogo (se necessário)
18/3 – sexta-feira (horário a definir)
Local: Arena Minas