A prática de rinha de galos é proibida pela Constituição e considerada crime ambiental no Brasil desde 1998, mas ainda encontra um ambiente de apoiadores e participantes em algumas regiões de Santa Catarina. Em junho, o assunto voltou à tona após um vereador de Pinhalzinho, no Oeste de SC, defender o combate entre aves.
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Galo de rinha resgatado após denúncia foi adotado por moradora de Joinville
SC já teve lei estadual liberando rinhas de galo, mas aumentou multas para o crime
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Ao justificar o voto contrário a um projeto de lei sobre maus-tratos a animais, Dejair Teixeira (PSDB) disse ser “defensor do galo de briga” e que estaria coletando assinaturas para uma proposta a ser enviada a uma deputada federal, o que sugeria uma tentativa de legalizar as rinhas.
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Polícia Civil, Polícia Militar Ambiental e Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC) informaram não possuir estatísticas de quantos casos de rinhas foram registrados no Estado nos últimos anos. Uma pesquisa no site da PM, no entanto, mostra que apenas em 2020, em plena pandemia, ao menos quatro rinhas foram descobertas e autuadas por policiais no Estado. Nessas quatro situações, ao menos 111 galos foram resgatados, segundo a PM.
Os casos ocorreram em Massaranduba, no Norte de SC, onde foram apreendidos 86 galos, e também em Chapecó, São Miguel do Oeste e Calmon, no Oeste.
O comandante da companhia de Chapecó da PM Ambiental, capitão Jardel Bocchi, afirma que nos últimos três anos a corporação recebe em média uma denúncia de rinha a cada 90 dias. Quando chegou à região, há seis anos, esses casos eram registrados todos os fins de semana, segundo ele.
– Começamos a receber denúncias, trabalhar com inteligência e empenhar guarnições para atendimento para flagrar essas práticas. Fazemos autuação administrativa com multa e termos circunstanciados por maus-tratos. Uma certa conscientização e também esse nosso trabalho de repressão deram resultado, inibiram esses casos – afirma.
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Em janeiro deste ano, mais de 20 galos combatentes foram apreendidos no quintal de uma residência em Joinville, no Norte do Estado. Segundo o delegado Paulo José Reis Venera, que atuou no caso, os animais estavam presos em gaiolas pequenas e fechadas, possivelmente para deixá-los mais agressivos para a prática de rinhas. No local, foram recolhidos também materiais como biqueiras e esporas, que costumam ser usadas nas aves em brigas, além de medicamentos para animais.
– Pelas instalações e pelo que foi recolhido, tudo indicava que faziam rinha de galo ali no local – afirma Venera.
Na ocasião, uma pessoa se declarou proprietária dos galos e passou a responder a um inquérito. Segundo o delegado, os galos foram recolhidos e doados a uma universidade e ao Instituto do Meio Ambiente de SC (IMA).
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Como funcionam as rinhas
As rinhas de galo consistem em duelos ilegais promovidos por criadores de animais de espécies combatentes. Ocorrem clandestinamente em arenas montadas em propriedades particulares, costumam movimentar apostas e estar associadas a maus-tratos aos animais, como criação em espaços pequenos, uso de biqueiras, batoques, e objetos que aumentam os ferimentos entre as aves durante as brigas.
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Os confrontos em geral ocorrem em três rounds de 15 minutos. Um galo pode perder se for nocauteado ou também se deixar de combater.
A prática se enquadra como crime ambiental com base em uma lei nacional de 1998, que prevê pena de reclusão de três meses a um ano em casos de maus-tratos a animais. Também fere o Código Estadual de Proteção aos Animais, que em maio deste ano teve aumento de multa para até R$ 20 mil em caso de rinhas.
A prática de rinha tem registros de 1.400 a.C. na Índia e teria ganhado força na Europa supostamente para estimular o espírito de combate de guerreiros. No Brasil, chegou pelas mãos dos colonizadores e atualmente costuma ser feita com galos de variedades como Índio Brasileiro, que são bastante territorialistas e têm diferenças em relação às aves criadas para corte e produção de ovos.
É comum o cruzamento de animais vencedores de rinhas e seus descendentes em busca de linhagens ainda mais combatentes e agressivas.
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Defensores da prática sustentam que o combate faria parte da natureza do animal e ocorreria desde os primeiros meses de vida da espécie. Também alegam que os animais são valiosos e seriam bem tratados pelos criadores no dia a dia.
O argumento é rebatido por críticos que alegam que os animais são submetidos a maus-tratos em treinamentos e nas rinhas. A veterinária especializada em aves, Cláudia Niemeyer, conta que na maioria dos casos os galos combatentes são mantidos em baias pequenas e até sujas, justamente para estressar o animal.
– É difícil ter um criador consciente porque normalmente quanto mais estressado for o bicho, melhor ele é para brigar. O confinamento é uma das coisas que causam estresse, e por mais que os bichos valham bastante, eles querem mantê-lo estressado. Isso vai contra o bem-estar animal e contra a lei – afirma.
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Acessórios para galos de combate são vendidos na internet
Os três Estados do Sul – Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina – lideram as pesquisas pelo termo “rinha de galo” no Google nos últimos 12 meses no Brasil. Em sites de compra e venda também é possível encontrar ofertas de objetos como ovos de galos combatentes, esporas e biqueiras de aço, usadas em rinhas.
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Em canais do Youtube é possível encontrar vídeos que ensinam “galistas” (como são chamados os criadores) a colocar esses artigos nos galos. Os acessórios costumam ser usados em treinos e rinhas, que nessas publicações são chamados de “evento” ou “apresentação”.

– As rinhas movimentam muito dinheiro com apostas. O valor dos animais vencedores vai lá em cima. Mas não tem mais lógica, no atual momento civilizatório, onde a humanidade toda está clamando por paz e respeito à vida, a gente ficar ressuscitando essas coisas que a sociedade abomina. Qualquer coisa que mude a anatomia, a personalidade de qualquer ser a ser mal, a ser guerreiro, está na contramão da história – defende Halem Guerra Nery, presidente do Instituto Ambiental Ecosul e membro do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.
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Vereador nega defender rinha de galo e cita farra do boi e UFC
Após a polêmica sobre a fala a respeito das rinhas, o vereador de Pinhalzinho, Dejair Teixeira, voltou a se manifestar sobre o assunto na sessão seguinte da Câmara local. Na ocasião, disse ter sofrido ataques nas redes sociais e que “para o ‘galista’, o galo é seu animal de estimação”.
– Eu nem galo tenho. Apenas estou defendendo que não acho justa a pressão em cima do galista. O ser humano tem o direito de escolher o bichinho que quer com ele para seu bichinho de estimação. E isso é o que o galista faz – discursou.
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Procurado pela reportagem do Diário Catarinense, Teixeira reafirmou que não defendeu a briga de galos e que sabe que a prática é ilegal.
– Em nenhum momento eu falei que ‘rinho’ galo. Só defendo, porque fui eleito pelo povo, fazer um projeto para criação e manejo. Buscamos uma alteração na lei para o Ibama não invadir e pegar os bichos. Que deixem ao menos criar. Defendo a criação e o manejo, em nenhum momento defendi a rinha – respondeu o vereador.
O parlamentar também comparou a proibição das rinhas com a farra do boi e o UFC, competição de lutadores de artes marciais, dizendo que essas atividades também deveriam ser proibidas. A farra do boi, na verdade, já representa crime de maus-tratos a animais e é fiscalizada pela polícia e órgãos ambientais.
Já a comparação entre rinhas de galo e eventos de MMA como o UFC já causou polêmica em fevereiro deste ano, depois que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) fez uma postagem nas redes sociais dizendo que “vivemos num país em que briga de galo é crime e UFC é esporte”. Após a polêmica, a parlamentar apagou a postagem e fez uma nova publicação, em que disse ser contrária à rinha de galos e a qualquer tipo de violência.
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