Rick Falkvinge, fundador do Partido Pirata da Suécia, foi uma das principais atrações do primeiro dia de Fórum Internacional Software Livre, aberto hoje em Porto Alegre. O evento vai até sábado, no Centro de Convenções da PUC. Com mais de 800 atividades na programação, o Fisl tem participantes de 26 estados do Brasil e mais de 24 países. Em sua primeira viagem ao país, Falkvinge passará também por Recife, onde participa da fundação oficial do Partido Pirada brasileiro durante a Campus Party. Após palestrar na Capital, o pioneiro do movimento concedeu entrevista a Zero Hora:
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Zero Hora – O que o senhor fazia antes de fundar o Partido Pirata e como começou sua vida política?
Rick Falkvinge – Sempre trabalhei com softwares e fundei minha primeira empresa aos 16 anos. Sempre me interessei por como a tecnologia transforma a sociedade. Em 2005, houve um endurecimento das leis de direitos autorais da Suécia, que tornou os downloads ilegais. Todo mundo estava discutindo esse assunto, menos os políticos. Isso e outros acontecimentos me fizeram perceber que a única forma de fazer a diferença seria falar diretamente com os cidadãos, concorrer em uma eleição e desafiar os políticos. Montei um site, divulguei o link apenas uma vez em uma conversa online. No dia seguinte, teve 3 milhões de acessos. A partir daí, foi uma bola de neve.
ZH – Há partidos piratas em muitos países do mundo. Quais são as causas que eles têm em comum?
Falkvinge – É o mesmo que aconteceu com os partidos trabalhistas ou partidos verdes. Todos compartilham de valores entre os diferentes países, mesmo que, como se diz, toda política aconteça de fato em um nível local. Se eu tivesse que escolher uma causa comum, seria a defesa da ideia de que todos têm uma voz que deve ser ouvida. Nós queremos construir uma sociedade sobre essa premissa. As pessoas precisam ter liberdade de expressão e de opinião, e devem ter a capacidade de exercer esse direito. É necessário termos privacidade para discutir e liberdade para compartilhar conhecimento e cultura.
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ZH – Em sua palestra, o senhor criticou indústrias como a farmacêutica e a fonográfica. O senhor acredita que a tecnologia pode construir novas ameaças à circulação livre de conhecimento, quando empresas como Google e Facebook centralizam a atividade de muitas pessoas na rede?
Falkvinge – Uma das tendências da internet é a de criar grandes vencedores, sem muito espaço para os segundos colocados. Você vê muitos tipos diferentes de carro na rua, mas se você estivesse na internet veria apenas um tipo de carro. E isso pode ser positivo ou negativo. Mas se essas empresas se comportam de maneira inadequada, elas desaparecem. É o que aconteceu com o Myspace. Só porque você tem um espaço com 350 milhões de usuários, não significa que você pode relaxar e ficar sentado lá se comportando como achar melhor. Elas podem ser monopólios, mas só continuarão existindo enquanto respeitarem seus consumidores.
ZH – E o senhor acredita que o Facebook, por exemplo, está respeitando os seus usuários no que diz respeito aos controles de privacidade ou às ações de censura a conteúdos publicados na rede social?
Falkvinge – É preocupante o volume de informações que o Google e o Facebook têm a nosso respeito. Se você é diagnosticado com uma doença terrível, o primeiro a saber disso será o Google. Não vai ser a sua mãe ou os seus amigos, vai ser o Google. Mas o verdadeiro problema é quando os governos ganham o direito de acessar esses dados e pesquisar sobre os seus cidadãos. O Google é uma empresa comercial, que não tem força policial. Ela não tem o direito de derrubar a nossa porta, e nos prender à noite, mas os governos têm.
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ZH – Qual é a importância da fundação do Partido Pirata no Brasil?
Falkvinge – O Brasil está em uma posição geopolítica única na reconfiguração do poder da internet. E o Partido Pirata brasileiro vai ser mais um poder impulsionando para esta direção. Acredito que a América do Sul e a Europa serão lugares interessantes para se observar o crescimento do Partido Pirata, já que estão em posições privilegiadas para desafiar as instituições atuais.