O mediador da ONU no Iêmen, Martin Griffiths, chegou nesta segunda-feira (3) à capital iemenita, Sanaa, controlada pelos rebeldes huthis, que evacuaram 50 de seus combatentes feridos graças a uma “medida de confiança” para favorecer o início das negociações de paz.

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Segundo uma fonte da ONU, também deveria ser aberto o aeroporto internacional de Sanaa, fechado há três anos devido à devastadora guerra que confronta as forças pró-governamentais, respaldadas pela coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita, aos rebeldes huthis, apoiados pelo Irã.

Griffiths chegou ao aeroporto internacional no início da tarde (hora local), mas não deu declarações.

O vice-ministro das Relações Exteriores de Kuwait, Khaled al Jarallah, informou na noite desta segunda-feira que a delegação de rebeldes iemenitas que participará das negociações de paz na Suécia partirá de Sanaa na manhã desta terça-feira rumo a Estocolmo.

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“O avião partirá amanhã com a delegação dos huthis, acompanhada do embaixador do Kuwait”, com destino à capital sueca, revelou Jarallah, cujo país desempenhou em 2016 o papel de mediador entre as partes no conflito no Iêmen.

– Rebeldes evacuados –

Cerca de 50 rebeldes feridos foram evacuados às 15h00 GMT (13h00 de Brasília) em um avião fretado pela ONU rumo a Mascate, capital do sultanato de Omã, informaram fontes do aeroporto de Sanaa. Uma fonte da ONU confirmou a informação.

A iniciativa deve acelerar a realização das negociações para pôr fim a quatro anos de guerra, consideram os especialistas.

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Os 50 huthis evacuados estavam acompanhados por três médicos iemenitas e outro da ONU, assim como por 50 membros de uma escolta.

Os feridos, alguns dos quais estavam em cadeiras de rodas, foram transportados em ambulâncias ao aeroporto, informou um correspondente da AFP.

A questão da retirada de insurgentes feridos estava por trás do fracasso dos diálogos de setembro em Genebra. Os huthis acusaram a Arábia Saudita, que controla o espaço aéreo iemenita, de ter impedido a saída de feridos e de não ter dado as garantias necessárias para que a delegação rebelde viajasse em total segurança.

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Em nota, o coronel saudita Turki al-Maliki, porta-voz da coalizão antirrebeldes, declarou que a autorização de hoje se deu “a pedido” do mediador da ONU para o Iêmen”por razões humanitárias” e como uma “medida para gerar confiança” antes das conversas na Suécia.

Apesar de as fontes diplomáticas e humanitárias terem falado esta semana da negociação de paz, nesta segunda de manhã a ONU não havia feito nenhum anúncio a respeito.

Embora a Arábia Saudita já tenha sido acusada de ser um obstáculo para a solução do conflito no Iêmen, o coronel Maliki ressaltou que a coalizão apoia os esforços de Griffiths “para alcançar uma solução política”, assim como as medidas de tipo “humanitário”. O objetivo é aliviar o sofrimento da população.

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– Sauditas sob pressão –

Riad está submetida à pressão dos grandes países ocidentais desde o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista crítico ao príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, cometido por agentes sauditas em 2 de outubro no consulado do reino em Istambul.

Além disso, a situação humanitária se agravou consideravelmente nos últimos meses no país, onde milhões de civis estão ameaçados pela fome, à margem dos combates.

Yahia Saree, um porta-voz dos huthis, assegurou que os rebeldes estavam dispostos a negociar “em primeiro lugar um cessar-fogo”.

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A batalha entre as forças pró-governo (apoiadas pela coalizão) e os rebeldes huthis (apoiados pelo Irã) pelo controle da cidade portuária de Hodeida (oeste), em novembro passado, levou as organizações humanitárias a soarem o alarme.

Essa cidade é o ponto de entrada de mais de 75% das importações e da ajuda internacional no Iêmen.

Desde então, uma trégua relativa entrou em vigor em Hodeida. Além disso, o governo e os rebeldes disseram estar dispostos a participar dos diálogos de paz na Suécia.

Recentemente, o enviado especial da ONU conversou com autoridades de ambos os lados, em separado, para preparar as negociações.

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Desde março de 2015, os combates no Iêmen deixaram cerca de 10.000 mortos e mais de 56.000 feridos. Segundo as ONGs, o número de vítimas é muito maior.

* AFP