“Voltamos!”. Com essas palavras – e uma charge retratando o Papa, um jihadista e a líder de extrema-direita Marine Le Pen como um bando de cães raivosos -, o jornal satírico Charlie Hebdo marcou seu retorno nesta quarta-feira às bancas.

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Os integrantes do jornal se isolaram por uma “questão de sobrevivência”, uma semana após o atentado ocorrido na redação, em 7 de janeiro. Na ocasião, 12 pessoas foram mortas, inclusive alguns dos cartunistas mais amados na França.

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– Precisávamos de um tempo para descansar. Houve quem precisasse voltar a trabalhar normalmente, como eu, e quem quisesse estender esse período – declarou Gerard Biard, agora editor-chefe.

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– Tínhamos nos comprometido a voltar no dia 25 de fevereiro, para retomar as edições semanais.

O Charlie Hebdo tem um longo histórico de controvérsias judiciais ao satirizar toda sorte de figuras políticas e religiosas, e a nova edição de 16 páginas não é exceção à regra.

O presidente Nicolas Sarkozy, contestado por viajar ao exterior e cobrar altos valores como conferencista, foi apenas uma das vítimas – retratado em um palanque, com os pés enfiados numa montanha de dinheiro que ganhou desenho em forma de escada.

Confira a íntegra da edição histórica da revista

Agradecimento pelo apoio

A edição também lançou um olhar sobre o desemprego na França; católicos e a aversão ao Gleeden, sítio na internet que incentiva relações extraconjugais; Le Pen e os jihadistas.

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Também foi publicada uma entrevista com Yanis Varoufakis, ministro da Economia da Grécia, que tem um perfil anti-austeridade.

– Na Idade Média, ‘médicos’ receitavam sangrias, que pioravam a saúde do paciente, e aí o ‘médico’ aplicava mais sangrias – disse Varoufakis a certa altura.

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– Esse é o tipo de ‘argumento’ que ilustra perfeitamente a situação na Europa: quanto maior o fracasso da política de austeridade, mais ela é receitada.

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O periódico ainda publicou uma comovente mensagem de agradecimento aos apoios que recebeu após o ataque realizado pelos irmãos Kouachi. Eles disseram que estavam se vingando pelas ilustrações do profeta Maomé na semana anterior — o que é considerado uma blasfêmia no islamismo.

– Agradecemos às crianças do jardim-de-infância que se juntaram e nos fizeram uma doação. Agradecemos ao menino que tirou cinco euros de sua carteira e nos enviou – está escrito no texto.

Os ataques extremistas no mês passado acarretaram na morte de 17 pessoas, incluindo quatro judeus alvejados num supermercado kosher e uma policial.

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A “edição dos sobreviventes”, que começou a circular no dia 14 de janeiro, teve uma procura acima da média graças às pessoas que saíram de madrugada para garantir um exemplar nas bancas de jornal de todo o país.

A edição que circula nesta quarta-feira tem tiragem de 2,5 milhões de exemplares, com lançamento estendido aos Estados Unidos, porém as vendas do Charlie Hebdo foram bem mais modestas.

*AFP