Enfrentar o medo é regra no Loteamento Jardim Primavera, no Bairro Bela Vista, em Gaspar. Popularmente conhecida como Favela da Marinha, a comunidade surgiu por meio de ocupação irregular em meados da década de 1980 e, desde lá, apresenta um histórico de vulnerabilidade social. Apontado pelas polícias como um dos principais pontos de venda de drogas e de ocupação dos integrantes da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC) em toda a região, o local esconde vidas degradadas e criminalidade, mas também muitas pessoas ávidas por mudança.
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Silenciosas em meio ao tráfico, esperam pelo dia em que poderão lutar por uma comunidade melhor sem sofrer ameaças. O primeiro passo para a mudança de cenário está por vir. Ainda que ressabiados, os moradores aguardam com expectativa pelas primeiras obras de reurbanização. Com recursos do governo federal e contrapartida do município, serão investidos R$ 8,2 milhões em calçamento, recuperação de vias, iluminação, implantação da rede de esgoto, criação de áreas de lazer, regularização fundiária e construção de moradias.
As primeiras intervenções, com assinatura da ordem de serviço, eram para ter ocorrido nesta semana, mas foram adiadas e ainda não têm data para começar. Há 20 anos morando na ocupação, Luiz Casemiro, 47, comemora as reformas. Quatro vezes presidente da associação de moradores, descreve com um sorriso no rosto a possibilidade de ver reurbanizado o local onde criou os filhos:
– Dará outra visão para a nossa comunidade. Quando estiver organizada e limpa, não terá espaço para a venda de drogas.
Ameaçado por diversas vezes, o líder comunitário diz que pretende ficar no local mesmo diante da ordem recente de criminosos para que deixasse o local em 48 horas.
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Além das obras, poder público promete investir em ações sociais
Moradores de um dos locais mais perigosos da comunidade, Teresa e Auvaristo Rodrigues, ambos com 68 anos, saíram do loteamento na última semana. Ganharam um apartamento do programa Minha Casa Minha Vida no Bairro Coloninha, também em Gaspar. Segundo eles, o segredo para residir no Jardim Primavera é cada um cuidar da própria vida. Iraci Gonçalves Meira, 71, lida da mesma forma com a convivência na comunidade. O temor dela, no entanto é outro: ser retirada de casa pela reurbanização:
– Tenho meu marido doente e não posso sair com ele carregado daqui. Como vou fazer?
Junto com as obras, a prefeitura pretende fazer um trabalho social. Segundo a secretária de Planejamento Urbano de Gaspar, Patrícia Scheidt, além de praças, mirante e galpão para oficinas, será construído o prédio que sediará o Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Hoje, a unidade fica na entrada do loteamento e oferece atividades de artesanato para homens e mulheres e parceria que beneficiam crianças do Bairro Bela Vista.
– Em um ano e meio, a comunidade estará mudada. Mas os moradores precisam nos ajudar – apela a secretária.
A regularização dos terrenos está em andamento junto ao governo federal. Segundo Patrícia, pelo menos quatro audiências públicas foram feitas na comunidade para debater a reurbanização.
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Leia a opinião de especialistas sobre a reurbanização na edição impressa do Santa