Os imigrantes que foram separados de seus filhos agora olham para o vazio, ainda perdidos, sem conseguir acreditar que o governo americano levou seus filhos – relatam advogados que duvidam que as famílias se reúnam em um curto prazo, devido ao caos reinante na vida na fronteira com o México.
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“Quando converso com os pais, sinto que eles olham através de mim, porque não conseguem entender, não conseguem aceitar, não conseguem acreditar que não saibam onde estão seus filhos e que o governo americano os tenha levado”, disse à AFP Jodi Goodwin, uma advogada de migração no Texas.
“É incrivelmente dilacerante e um terrível desprezo pelo devido processo”, acrescentou a advogada do Migrant Center for Human Rights, que trabalha como voluntária na fronteira desde 1995.
Mais de 2.300 crianças foram separadas de seus pais e detidas em centros da patrulha fronteiriça desde que o presidente Donald Trump implementou, em abril, uma política de “tolerância zero”, com a ideia de desestimular os imigrantes que chegam pela fronteira sul.
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As críticas ao quão imoral é prender crianças e até bebês sozinhos, em jaulas, sem ninguém para reconfortá-los, alcançaram um nível tão grande que o presidente republicano assinou um decreto que reverte esta medida e ordena o fim da separação familiar.
A crise humanitária das últimas semanas está longe de de ser nova, porém, e ainda mais distante de ter acabado.
“O simples fato de que seja tão difícil rastrear onde estão os pais e onde estão os filhos impede que se resolva o problema da noite para o dia”, explicou Goodwin, que trata do caso de seis demandantes de asilo que perderam há semanas o rastro de seus filhos.
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“Reunificar a unidade familiar será uma tarefa difícil”, acrescentou, explicando que a instituição que tem a guarda das crianças retidas em abrigos não está sincronizada com as autoridades migratórias para que a informação flua com rapidez.
“O sistema é muito desorganizado, caótico”, descreveu.
“Todos – da patrulha de fronteira até os tribunais federais, passando pelos defensores públicos, pelos juízes, pelos promotores, pela migração, pelo centro de reassentamento de refugiados -, todos estão correndo para tentar apagar um incêndio atrás do outros para que as coisas continuem mais ou menos operando”, completou a advogada.
– Não resolve o problema –
Os advogados agradecem pela atenção da imprensa, mas dizem que os jornais alertam agora para uma situação que acontece há anos. A separação familiar na fronteira remonta a dez anos, mas apenas no último mês e meio alcançou esse nível sem precedentes.
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Por isso, olham sem grande entusiasmo o decreto de Trump, que, segundo eles, ataca apenas uma parte dos problemas, já que não elimina a detenção arbitrária, nem a detenção de crianças.
“Separar filhos de seus pais é horrível e revoltante, mas detê-los com eles continua sendo horrível e revoltante, embora estejam junto com seus pais”, denunciou a diretora legal da ONG de defesa dos imigrantes Houston Immigration Legal Services Collaborative, Andrea Guttin.
O problema do decreto – apontou Guttin – é que, agora, as famílias serão detidas por prazos mais longos do que antes da implementação da medida de “tolerância zero”.
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Andrea Guttin disse ainda que isso não porá fim à separação dos avós que vieram com seus netos, de irmãos que chegaram desacompanhados de adultos, de tios que cruzaram a fronteira com seus sobrinhos.
“Estes casos foram historicamente separados e, com certeza, continuarão a ser”, lamentou a advogada.
A ex-professora de Direito da Universidade do Texas Barbara Hines compartilha essa análise: “Não acredito que o decreto de Trump seja uma solução para a crise que ele e o procurador-geral Jeff Sessions criaram”.
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Para ela, um dos principais problemas na fronteira é a violação de leis nacionais e internacionais que os agentes da patrulha de fronteira cometem quando tratam os demandantes de asilo como criminosos, ao prendê-los e separá-los de seus filhos.
As autoridades “continuarão processando os demandantes de asilo por crimes menores como a entrada ilegal, quando eles, de fato, podem pedir asilo dentro do que a lei exige”, completou.
* AFP