O Conselho Municipal de Políticas Culturais de Joinville se tornou o centro de duas polêmicas envolvendo racismo e preconceito. Em duas reuniões virtuais realizadas neste mês, duas participantes fizeram comentários que geraram repercussão dentro do órgão e também nas redes sociais.

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O primeiro caso foi registrado em 13 de abril durante o Fórum Setorial de Patrimônio Imaterial, envolvendo a rapper Gabriela Santos Batista, 22 anos, conhecida como Amazona MC. Já o segundo aconteceu no dia 18, durante fala da diretora executiva da Secretaria de Cultura e Turismo, Francine Olsen.

Na primeira situação, em 13 de abril, Gabriela participava da reunião, em que seria feita a eleição do conselheiro suplente do fórum, cargo ao qual a jovem era a única candidata, quando houve a injúria racial.

– Eu estava com problemas de conexão, mas tinham várias pessoas me apoiando quando fui eleita, falando sobre mim. Quem estava pelo Meet nem consegui ouvir o que ela falou, mas no Youtube deu pra ouvir. Ela silenciou o microfone do Google Meet, mas esqueceu do Youtube – explica Gabriela.

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A rapper registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, onde constam as descrições das falas da mulher, que atuava como secretária na reunião. Em um momento do encontro, ela satirizou um comentário feito por um apoiador de Gabriela e disse: “Meu Senhor, que nojo que eu tenho disso. Que mulherão que ela é? Só porque é negra”.

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Em outra situação, a secretária a chama de “retardada” e também classifica o cumprimento “salve, salve”, usado por Gabriela, como “coisa de bandidinho”. As falas também estão estão descritas no boletim de ocorrência.

O presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais, Anderson Dresch, explicou que o órgão abomina qualquer fala racista, de segregação ou preconceito. Segundo ele, o que houve foi um “pensamento infeliz” e a secretária da reunião teria “pensado em voz alta”.

– Foi uma fala racista, mas não quis ofender, foi algo que falou para ela mesma. Nada justifica a fala, a pessoa acabou sendo muito infeliz na colocação, isso vazou e gerou toda essa polêmica – explica.

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Servidora retirada do conselho

Como o conselho é uma entidade de consultoria, Dresch explica que não tem o poder de tomar nenhuma medida contra a secretária. Porém, a prefeitura encaminhou uma comunicação de infração disiplinar para a Controladoria-geral do município, logo após ter acesso a gravação da reunião, para ser aberta uma sindicância.

No dia seguinte ao caso, a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) editou uma portaria para retirar a indicação da servidora das atividades do conselho e indicou um novo representante para a função.

Em nota, a Prefeitura de Joinville e a Secretaria de Cultura e Turismo repudiaram qualquer tipo de conduta discriminatória e reforçaram o compromisso com o respeito e com a igualdade entre as pessoas.

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“Fala problemática” e “reforço ao racismo”

Em outra reunião realizada pelo Conselho Municipal de Políticas Culturais, no último dia 18, os membros discutiram sobre a situação ocorrida com Amazona MC. Também ouviram a diretora executiva da Secult, Francine Olsen, comentar sobre o planejamento da prefeitura em criar um plano antiracismo com a equipe da secretaria.

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Mais tarde na reunião, os participantes discutiam o que havia ocorrido durante o Fórum Setorial de Patrimônio Imaterial quando Francine pediu a palavra para fazer um esclarecimento sobre o plano antiracismo. Em seguida, comentou que o “preconceito é enraizado na gente” e afirmou que “não é só o negro que sofre preconceito”.

– Se enganam vocês se acharem que eu não sofro preconceito porque eu sou branca. Eu sou loira e sou mulher, então sou a loira burra. Eu sou a patricinha, a filhinha de papai, eu sou a mulher. Eu sofro preconceito todos os dias, as pessoas olham para mim e têm preconceito comigo. Então, eu sei o que essas pessoas passam – complementou.

O comentário gerou repercussão durante a reunião e alguns participantes se manifestaram, por escrito e em áudio, apontando problemas na fala de Francine. Nas redes sociais, o Movimento Negro Maria Laura classificou o discurso da diretora executiva da Secult como “fala problemática” e que ” reforça o racismo”.

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Para a reportagem, Francine esclareceu que os participantes estavam discutindo ações para combater o preconceito e a fala dela foi para “exemplificar a abrangência desse preconceito e quanto ele está enraizado”.

– Não foi no sentido de me comparar porque não tem comparação. Foi mais no sentido de amplitude, do pré-conceito que a gente tem. Acho que está sendo distorcido o objetivo da minha fala. Ela foi feita dentro do contexto da campanha para combater o preconceito, de respeito as pessoas – explicou.

Sobre a fala da diretora executiva da Secult, o presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais não quis comentar o caso porque não estava presente na reunião.

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