A fim de esclarecer os mistérios em torno da morte de João Goulart, a exumação do corpo do ex-presidente terá auxílio de peritos e tecnologia estrangeira, supervisionados pela Polícia Federal.

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A definição saiu de encontro na quarta-feira no Rio entre a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

A presença de peritos estrangeiros é defendida pela família do ex-presidente, vítima de ataque cardíaco em 1976. A exumação poderá tirar as dúvidas sobre o suposto envenenamento do gaúcho, deposto pela ditadura. Como Jango morreu na Argentina, onde corre investigação sobre o caso, peritos do país vizinho atuarão. Técnicos de Uruguai, França, Inglaterra, Rússia e da Cruz Vermelha também podem ser convidados.

– O Brasil vai conhecer como as ditaduras do Cone Sul agiram na perseguição – enfatizou Rosário.

Procuradora levará pedido à prefeitura para procedimento

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O Ministério Público Federal (MPF), a CNV e a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) pretendem acelerar a definição dos técnicos e marcar a data da perícia. Na quarta-feira, o neto do ex-presidente e diretor de acervo do Instituto João Goulart, Christopher, se reuniu em Porto Alegre com a procuradora da República Suzete Bragagnolo, responsável pelo caso no MPF. O encontro teve a presença do toxicologista Lenine Alves de Carvalho, que reforçou a necessidade de buscar auxílio técnico fora do país.

– Existe uma preocupação com a metodologia da exumação para minimizarmos o risco de laudo vulnerável – destaca a procuradora Suzete.

Um novo encontro ocorrerá dia 30, também na Capital, reunindo a família de Jango, os procuradores, a CNV e a SDH. A reunião deverá encaminhar a definição do corpo técnico e o pedido de autorização. A procuradora Suzete optou por um pedido administrativo em vez de judicial, feito à prefeitura de São Borja, que administra o cemitério onde o ex-presidente está enterrado.

ENTREVISTA

Lenine Alves de Carvalho Toxicologista

“Não há probabilidades claras de sucesso”

O toxicologista Lenine Alves de Carvalho participou da reunião de ontem com a família Goulart a convite do Ministério Público Federal. Após o encontro, ele conversou com Zero Hora. Confira os principais trechos da entrevista.

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Zero Hora – Qual avaliação sobre a exumação do ex-presidente João Goulart?

Lenine Alves de Carvalho – Precisamos montar uma estratégia de exumação e trazer mais profissionais para auxiliar no trabalho. É importante consultar toxicologistas forenses, talvez trazer um toxicologista argentino para criarmos o plano da exumação.

ZH – Quais as chances de um laudo conclusivo?

Lenine – Visto o tempo da morte, há quase 37 anos, não há probabilidades claras de que vamos ter sucesso. Por isso, todo o cuidado e estudo para um plano bem feito. Um resultado conclusivo será esclarecedor. Do contrário, vai sempre pairar a hipótese de que, se houve o envenenamento, os resíduos possam ter desaparecido.

ZH – O fato de o caixão estar em um jazigo, sem contato com a terra, é positivo?

Lenine – O caixão não foi enterrado, está numa gaveta, no jazigo da família Goulart. É positivo para ter um laudo conclusivo, porque evita contaminações, cruzamento de componentes da terra com os restos mortais.

ZH – Peritos e tecnologia de outros países ajudarão no processo da exumação?

Lenine – O caso segue centralizado na Polícia Federal do Brasil, com seus peritos criminalistas, mas é possível que sejam chamados outros especialistas. Nada impede que a gente use laboratórios de outros países, desde que com nível de excelência reconhecido internacionalmente. Os exames podem ser feitos dentro ou fora do Brasil, mas sempre com a coordenação da Polícia Federal.

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ZH – Quais os próximos passos para exumação?

Lenine – Terão novas reuniões. Seria interessante ouvir o Mário Barreiro (ex-agente da repressão uruguaia que teria participado de operação para matar Jango). Tenho dúvida sobre a veracidade dos depoimentos que ele vem prestando. Essa conversa pode trazer detalhes de como teria sido a preparação do suposto veneno e da suposta operação de envenenamento, mas ainda não se tem certeza se a conversa vai ocorrer.