Três horas antes de anunciar oficialmente o futuro do desfile de Carnaval este ano, o presidente da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf), Zeca Machado, será pressionado pelo governo do Estado. Desde as 8h30min desta quarta-feira, o secretário de Estado do Turismo, Beto Martins, está reunido com Machado para saber se, de fato, ainda há chance – e tempo hábil – para o desfile na Passarela Nego Quirido ser realizado com qualidade no dia 9 de fevereiro. Se a resposta for sim, então o Estado estará disposto a destinar um repasse de recursos, mesmo que insuficientes. A decisão ficará, exclusivamente, para a direção da Liga.
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Até as 23h de terça-feira, a Liesf via como certo o cancelamento do desfile. A informação seria confirmada às 11h desta quarta, em uma coletiva de imprensa organizada pela instituição na passarela. No comunicado programado para ser lido na ocasião, a Liga atribui a não-realização do desfile não só à falta de dinheiro, mas também à falta de tempo hábil para a confecção de fantasias e adereços. Mas a reunião, marcada para última hora, pode ser uma esperança para que a Folia de Momo não passe em branco este ano.
– O Estado quer contribuir. Queremos a festa. Mas também vou querer a verdade: se for impossível, a essa época, organizar algo de qualidade, precisamos saber disso. Não somos culpados do Carnaval estar na situação que está. Isso é um problema que que envolve prefeitura antiga e atual – afirma Beto.
O prefeito Cesar Souza Júnior, porém, mantém-se impassível diante da decisão de não liberar recursos para a festa. Já o Zeca Machado preferiu não falar com a imprensa à noite e desligou o celular.
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Oito anos já ficaram sem festa na passarela O assunto ganhou as redes sociais ainda na noite de terça-feira. Ao publicar uma foto da passarela vazia junto com a palavra “conseguiram” no Facebook, o diretor de comunicação da Protegidos da Princesa, Sione Márcio de Jesus, antecipou o burburinho que já tomava conta da cidade ao longo dos últimos dias. A publicação gerou posicionamentos de revolta.
– O povo só vai sentir quando for no dia do Carnaval mesmo – comentou um folião.
Se o desfile for mesmo cancelado, a Capital repetirá um feito acontecido há 15 anos. Em 1998, a cidade ficou órfã do principal evento da sua programação de Momo pela sétima vez – só na década de 90 foram outras duas vezes, 1997 e 1994. Antes disso, o município também esteve órfão da folia em 1988, 1954, 1953 e 1952.
– Existe Blumenau sem Oktoberfest? Existe Rio de Janeiro sem a Sapucaí? Da mesma forma, Florianópolis não pode ficar sem Carnaval. O nosso maior prazer, o que mais emociona o nosso povo, é o desfile da Nego Quirido. É lindo. E uma notícia dessas é uma pancada na gente. O povo é que vai pagar pela falta de interesse, tanto da Liga, quanto da prefeitura – lamenta Hernani Hulk, Rei Momo da festa há 27 anos.
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O embate entre a Liesf e o governo municipal começou com a falta de repasse dos recursos para que as entidades pudessem custear parte da despesas com os preparativos. No governo anterior, não foi liberado o dinheiro e o novo governo também não irá transferir a verba.
No barracão da Protegidos da Princesa, a informação dada a todos que ligam pedindo fantasia é de que não haverá desfile. A escola já estava com o samba-enredo pronto e com as fantasias desenhadas – mas não havia investido dinheiro na espera de recursos da prefeitura.
– Algumas escolas vão quebrar – diz Sione, referindo-se àquelas que haviam começado produção sem confirmação dos repasses.
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Já a Coloninha contabiliza um prejuízo de aproximadamente R$ 200 mil, segundo o chefe do barracão, José Darci de Jesus. Será feita uma reunião para discutir o futuro da escola. Já estavam fazendo o abre-alas e as placas. Este ano, a Coloninha iria homenagear a Polícia Militar.