Problemas na identificação dos casos de dengue, falta de comunicação entre os setores da saúde, falta de engajamento das demais áreas, equipes de campo insuficientes e não qualificadas e não cumprimento da legislação. Estes foram alguns dos problemas diagnosticados pelo supervisor da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina, Fábio Gaudenzi, e da gerente de vigilância em zoonoses e entomologia e coordenadora da sala de situação da dengue no Estado, Suzana Zeccer, em duas semanas de trabalho no Oeste.
Continua depois da publicidade
Ambos apresentaram problemas e sugestões para prefeitos e secretários de saúde trabalharem no controle do mosquito Aedes aegypti e assim reduzir o número de caos, que já somam 626 casos.
– Observamos uma grande desarticulação – destacou Fábio Gaudenzi lembrando citando que às vezes a vigilância em saúde do município não repassa informações para a vigilância epidemiologia e que não passa para a vigilância ambiental. Ele destacou ainda que as demais secretarias do município consideram a dengue como responsabilidade apenas da secretaria de saúde. Por isso houve um alerta aos prefeitos para que envolvam todos nas ações.
Há casos de dengue confirmada em pessoas vizinhas a ferros velhos por falta de cumprimento da legislação estadual que determina que estes estabelecimentos sejam cobertos para não acumular água. A Dive também encontrou cisternas com larvas do mosquito em uma escola.
Há casos de pessoas com dengue em casa onde foram encontradas larvas no pote de água do cachorro. E outros onde familiares resistem em tomar medidas de precaução, mesmo com pessoas doentes em casa. Foi apontada a falta de sensibilidade e encaminhamento adequado em casos com dengue.
Continua depois da publicidade
– No início houve dificuldade de notificação dos casos em consultórios particulares – afirmou a secretária de Saúde de Pinhalzinho, Ainda Silva.
O município está em epidemia de dengue pois tem 501 casos confirmados para uma população de 18,6 mil habitantes. Além de não ter sido notificado um possível caso de dengue ela citou que há relatos de pessoas que viajaram para Itajaí, por exemplo, tiveram sintomas de dengue no retorno e não foram procurar atendimento.
– Essa explosão de casos deve ter surgido de pessoas que tiveram dengue e não foram notificadas – declarou.
Bom Jesus está em epidemia e decreta emergência
Em Bom Jesus, outro município considerado em epidemia, o prefeito Vilmar Sabino da Silva disse que uma família foi para o Paraguai, voltou com a doença e somente dias depois, quando estavam quase curados, foram procurar atendimento. Em seguida vizinhos acabaram contraindo a doença e o município chegou a 12 casos confirmados, para uma população de apenas três mil habitantes. A Organização Mundial de Saúde considera epidemia quando há 300 casos por 100 mil habitantes.
Continua depois da publicidade
O prefeito decretou situação de emergência e vai contratar mais dois profissionais de saúde. Um mutirão está previsto para o dia 11 de março. A falta de agentes de saúde ou falta de qualificação é outro ponto problemático.
– Não adianta chegar na porta da casa e perguntar se está tudo limpo e ir embora – afirmou Fábio Gaudenzi. Ele destacou que houve o caso de um agente que não conseguiu remover um recipiente de água, a família se comprometeu a remover, mas só fez isso dias depois quando já havia três casos de dengue na vizinhança.
A secretária de saúde de Pinhalzinho, Ainda Silva, disse que talvez faltou poder de polícia nas ações iniciais. Depois da decretação de emergência o município já encaminhou 482 notificações para donos de terrenos baldios e seis receberam multa.
Ainda afirmou que não sabe mais o que fazer e que só falta checar 100 das caixas de água. Mas que 30% já foram vistoriadas.
Continua depois da publicidade
O 6º Batalhão de Bombeiros de Chapecó informou que vai disponibilizar equipes para realizarem essas vistorias nos telhados e reservatórios de água. O Estado também encaminhou a compra de 20 mil metros de tela para cobrir caixas de água e também os ladrões dos recipientes.
Outros dez profissionais das gerências de saúde do estado devem chegar ao Oeste em breve para reforçar as ações de orientação e combate ao mosquito. Em Chapecó um mutirão com cerca de 500 pessoas deve ser realizado neste sábado. Até o helicóptero do Serviço Aeropolicial está auxiliando na identificação de possíveis locais de focos. A gerente de vigilância em zoonoses e entomologia e coordenadora da sala de situação da dengue no Estado, Suzana Zeccer, afirmou que também é necessária uma ação contínua nas escolas, para mudar a atitude das pessoas em relação à dengue.
A sensação é de que a população não está dando a devida importância à doença, que pode matar. Sem falar no zika vírus, com nove casos importados, e da chikungunya, que teve caso confirmado em Chapecó, e que podem se alastrar.
– É uma possibilidade enorme do início de circulação desses vírus – alertou Fabio Gaudenzi.