Em virtude de seu perfil industrial, a região Norte de Santa Catarina está sendo a mais afetada no Estado pela retração da atividade econômica nacional.
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A queda nas vendas de bens de consumo duráveis (ex: automóveis) e aqueles utilizados na produção (máquinas e equipamentos) atingem em cheio os fabricantes locais, tanto diretamente quanto por meio da cadeia de fornecimento de peças.
A avaliação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte e os números confirmam. O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou, nesta sexta-feira, o fechamento de 6,7 mil postos de trabalho em Santa Catarina no mês passado.
Este foi o pior mês de maio desde 2003, e Joinville teve a maior parcela de contribuição. O município fechou 1.762 vagas, quase quatro vezes mais do que em maio de 2014.
A indústria de transformação foi a campeã em fechamento de postos de trabalho no Estado no mês que passou, 2,6 mil. Dados (não ajustados) mostram que quase a metade deste montante ocorreu a partir de Joinville.
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Os dados do MTE também apontam que mais da metade dos desligamentos na cidade não foi a pedido do funcionário, partiu do empregador.
>> Joinville fecha 1.762 vagas em maio, mostram dados do Caged
Desde o ano passado, as empresas vinham cortando despesas, mas os efeitos sobre os trabalhadores tornaram-se mais evidentes em 2015. Em Joinville, as mudanças tiveram início na área administrativa. Houve demissões para extinção de cargos e reestruturação de equipes, não reposição de vagas abertas e programa de demissão voluntária.
Sem perspectiva de crescimento das vendas, os olhares se voltaram em seguida para a manufatura, que sente diretamente a queda dos pedidos e concentra o maior número de empregos. Férias coletivas, banco de horas e redução de jornada e de turnos são algumas das modalidades adotadas neste ano por grandes empresas da cidade.
A situação de pleno emprego, na qual faltavam profissionais para preencher o quadro, não é mais a regra. Segundo a RH Brasil, umas das principais agências de emprego de Joinville, desde abril a oferta de vagas caiu pela metade – de mil vagas para 500 por mês. As grandes organizações pararam de contratar.
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As medidas em vigor para manter os funcionários sem produção a altura são a última opção antes de intensificar as demissões.
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Lideranças sindicais que representam os trabalhadores das indústrias do plástico, metalmecânica, têxtil e metalúrgica reconhecem que o empregador vem tomando medidas para preservar vagas.
As entidades acompanham o cenário e negociam detalhes dos acordos, enquanto torcem para que as vendas cresçam no segundo semestre por causa dos pedidos que movimentam toda a cadeia produtiva para o verão e o Natal.
No entanto, o presidente da Fiesc, Glauco José Côrte, acredita que a retomada do crescimento chegará mais tarde, no primeiro trimestre de 2016. E que, antes disso, o quadro ainda vai se agravar, levando, inevitavelmente, a mais demissões no segundo semestre.
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Entre os pontos que vão contribuir para a recuperação das indústrias no ano que vem, segundo Côrte, estão o parque fabril atualizado e o pensamento de longo prazo do empresário catarinense.
O Estado também não depende só do mercado interno: 10% do PIB são provenientes de exportações. As vendas externas ajudaram, por exemplo, os resultados da Fundição Tupy, de Joinville, no primeiro trimestre.
Confira os principais trechos da entrevista com o presidente da Fiesc
Crise anunciada
– É um período já esperado, sabíamos que ia acontecer. Por isso, desde o início, a indústria estava alertando o governo para que, além do ajuste fiscal, adotasse medidas de estímulo ao crescimento, pois todas as medidas do governo contraem a economia: ajuste fiscal, aumento do custo da energia, juros elevados. As medidas de ajustes são necessárias, mas não deveriam ser suportadas apenas pelo setor privado. O programa de concessões é bem-vindo, mas demora um tempo para acontecer. O governo precisa voltar a investir, pois é a mola propulsora do desenvolvimento.
Primeiro trimestre
– No conjunto, tivemos um primeiro trimestre razoável. A produção catarinense caiu menos do que a dos Estados vizinhos e a de São Paulo, mas abril acentuou a queda na produção. Os dados de maio não saíram ainda, mas devem repetir a queda na produção. Estamos passando do amarelo para o vermelho. Nossa estimativa é de que vamos passar pelo período mais grave de ajuste da economia até o final do ano e ter novas sinalizações de melhoria a partir do primeiro trimestre de 2016.
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Esforço
– Ainda não chegamos ao fundo do poço e provavelmente vamos experimentar algumas dificuldades no segundo semestre. As empresas estão fazendo um esforço para manter o quadro, mas, inevitavelmente, haverá corte no nível de emprego na economia como um todo, especialmente na indústria.
Visão de longo prazo
– O importante é que as indústrias catarinenses têm perspectiva de longo prazo e mantêm investimentos em inovação e tecnologia. Um exemplo é a Whirlpool, que vai manter o investimento em inovação em 2015 entre 3% e 4%. Quem faz isso terá condições de sair mais facilmente da crise. A região Norte é a mais afetada por ser fabricante de bens de capital, máquinas e equipamentos, mas ela tem um parque industrial atualizado e mercado externo e vai ter condições de superar a crise. Não podemos deixar que a crise tome conta dos negócios. Nós temos que tomar conta da crise nos colocando em posição acima dela.
