Estudantes colegiais e policiais se enfrentaram nesta quinta-feira, no centro de Santiago, durante a dissolução de uma manifestação – não autorizada pelo governo local – que reclamava por educação pública gratuita e de qualidade. Os adolescentes foram dispersados por fortes jatos d’água e bombas de gás lacrimogênio, e responderam à força policial com paus e pedras.

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Cerca de 5 mil estudantes, convocados pela Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundários (Aces), se reuniram no Parque Bustamante para o primeiro protesto estudantil do ano. O confronto começou quando alguns manifestantes ultrapassaram a barreira policial e tentaram prosseguir pela Avenida Alameda até o Ministério da Educação.

Alguns manifestantes, com suas cabeças cobertas com capuzes, conseguiram também interromper por alguns minutos o trânsito na avenida Alameda, depois de terem cometido vandalismo e de terem montado barricadas incendiárias.

Os enfrentamentos se estenderam por mais de três horas, causaram 50 detenções e deixaram três policiais feridos, um deles gravemente, segundo as primeiras informações oficiais.

– Nós nos perguntamos até quando; até quando se insiste em mobilizações estéreis, fora da lei e que só protegem delinquentes, que prejudicam e agridem milhões de moradores de Santiago -, criticou a governadora de Santiago, Cecilia Pérez.

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A manifestação foi convocada pela Assembleia de Coordenação de Estudantes Secundários (Aces), uma organização que reúne parte dos alunos dos principais colégios de Santiago, e não conseguiu o apoio da Confederação de Estudantes do Chile (Confech), que congrega as principais universidades do país.

– O governo nos deu um sinal claro de que está intransigente, mas somos fortes. Sabemos que somos poderosos e que o governo tem medo da gente – afirmou o líder estudantil Maximiliano Salas.

Os manifestantes reclamam, desde o ano passado, melhorias na qualidade da educação e gratuidade em um país que conta com um dos sistemas de ensino mais desiguais do planeta.

No ano passado, os estudantes protagonizaram mais de 40 passeatas pelo centro de Santiago, algumas delas consideradas as maiores das últimas duas décadas por reunir mais de 100.000 pessoas, causando grande dor de cabeça para o governo do direitista Sebastián Piñera, cuja popularidade caiu ao longo do ano cerca de 30 pontos.

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Crítica internacional

Vários organismos internacionais têm criticado o excessivo uso da força por parte da polícia para reprimir as manifestações. Em agosto, durante uma manifestação noturna, um adolescente morreu atingido por um tiro disparado por um policial.

Além disso, 15 jornalistas e fotógrafos estrangeiros foram detidos quando cobriam os protestos.

Os estudantes, apoiados pelos professores, reivindicam uma educação pública gratuita e de qualidade, e exigem a reforma do atual sistema educacional, herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), que reduziu a menos da metade a participação pública e fomentou a inclusão dos centros privados.

Eles consideram que o governo de Piñera não deu uma resposta adequada às suas demandas com o envio ao Congresso de um projeto de lei para reduzir os juros de um crédito privado que os universitários usam para pagar suas taxas e reprogramar as dívidas atrasadas. O presidente apresentou, além disso, uma iniciativa para melhorar o salário dos professores com base em seu desempenho.