Assim como logo após a redução da conta de luz veio a alta dos combustíveis, o governo federal anunciou na sexta-feira a retirada de tributos de produtos da cesta básica e, esta semana, um reajuste no preço dos remédios que passa a valer no dia 30. No balanço entre a majoração dos medicamentos e a trégua em itens como carnes e creme dental, no entanto, é esperado um alívio para o bolso do consumidor.

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A projeção é do economista André Braz, um dos responsáveis pelos cálculos dos índices de inflação na Fundação Getulio Vargas (FGV):

– Na média, as famílias brasileiras gastam 5% da renda com os itens desonerados da cesta básica, e 3% com remédios – compara.

Segundo Braz, a eliminação do PIS/Cofins de alimentos e de produtos de higiene tem o potencial de reduzir em 0,3 ponto percentual o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperado para o ano (em torno de 5,5%). A pressão do reajuste dos remédios, apesar de ser bem superior ao aumento do ano passado (2,8%), seria de 0,15 ponto percentual. Para o economista da FGV, no fim das contas haverá alívio até para a terceira idade, que gasta entre 6% e 7% da renda com remédios e com alimentação.

A expectativa de que haverá folga no bolso do consumidor é compartilhada pelo Banco Cooperativo Sicredi, que prevê redução entre 0,3 e 0,4 ponto percentual no IPCA devido à cesta mais barata, enquanto para os medicamentos a pressão seria de 0,15%.

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– A desoneração da cesta básica é algo que se espera vir para ficar, enquanto o aumento dos remédios acontece todo o ano na mesma época – aponta Alexandre Barbosa, economista-chefe da instituição.

Barbosa avalia que, com queda da conta de luz e a desoneração da cesta, o governo estimula a economia e impede que o IPCA rompa o teto da meta de 6,5% em 2013. A previsão do Sicredi para o índice é 5,9%.

– O único porém é que este é um efeito de curto prazo porque a inflação também tem uma relação com aumento de consumo – alerta.

Os cálculos de Braz, da FGV, indicam que, no cotejamento entre as altas de preços dos remédios e dos combustíveis e a redução na conta de luz e de supermercado, o consumidor ganha. Os dois primeiros, diz, têm potencial de pressionar para baixo o IPCA deste ano em 0,78 ponto percentual. Os dois reajustes impactariam em 0,28%.

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Aposentado acredita que terá mais gastos

Apesar de economistas calcularem uma folga no orçamento das famílias, o aposentado Marcos Ghiorzi, 80 anos, desconfia que acabará gastando mais com remédios do que poupando nas compras no supermercado. Calejado, Ghiorzi entende que os aumentos costumam ocorrer na íntegra, enquanto as esperadas quedas de preço nem sempre são totalmente repassadas ao consumidor:

– As reduções de preços ficam absorvidas pela ganância e o que chega para a gente é um resíduo.

Aposentado pelo INSS, todo mês Ghiorzi gasta cerca de R$ 400 em medicamentos contínuos para controlar a pressão alta e tratar um enfisema pulmonar. O restante do que ganha é gasto basicamente em alimentação. Ele e a mulher, também aposentada, contam com a ajuda de três filhos.

Mesmo com o aperto esperado por Ghiorzi, a distribuição gratuita de medicamentos avança no país. Segundo o Ministério da Saúde, o número de remédios disponibilizados pelo SUS passou de 550 em 2010 para 810 ano passado, aumento de 47%.

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