Intensos combates foram retomados nesta quarta-feira entre os soldados e os rebeldes em Aleppo, segunda cidade da Síria, onde as esperanças de retirada rápida de milhares de civis famintos e doentes caíram por terra.

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A Rússia, principal aliado do presidente Bashar al-Assad, acusou os rebeldes de ter reiniciado as hostilidades, depois de várias horas de trégua, enquanto a Turquia, que apoia a oposição, culpou as tropas do regime e seus aliados.

O acordo de evacuação firmado sob mediação de Moscou e Ancara visava permitir que combatentes opositores e suas famílias deixassem a cidade, agora quase sob o total controle das forças do regime.

Após uma pausa de várias horas, os ataques aéreos e os disparos de artilharia das tropas pró-regime retomaram nos bairros ainda com presença dos insurgentes, no sul da cidade.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou sobre a morte de duas pessoas na zona rebelde.

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Além disso, ao menos sete civis morreram por disparos rebeldes contra dois bairros em mãos do governo, segundo a TV pública síria.

Um jornalista da AFP na área rebelde viu um tanque do regime disparar contra os insurgentes, bem como civis feridos e outros presos em edifícios. Outro corriam pelas ruas em busca de abrigo.

A conquista total de Aleppo, dividida desde 2012, permite ao governo de Bashar al-Assad controlar as cinco maiores cidades da Síria, junto com Homs, Hama, Damasco e Latakia. Uma conquista que não teria sido possível sem a ajuda de Moscou, aliado de Damasco e ativo na Síria desde setembro de 2015.

Erdogan falará com Putin

São os civis os que mais têm sofrido em Aleppo: centenas morreram, enquanto quase 130.000 fugiram desde o início da ofensiva pró-regime, em 15 de novembro.

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Antes do reinício dos bombardeios, milhares de civis fizeram filas à espera de poder deixar as áreas rebeldes. No distrito de al-Mashhad, uma multidão de civis, carregando objetos pessoais, se reuniram nas ruas às 5h00, de acordo com um jornalista da AFP.

Entre eles estavam muitas crianças mal vestidas, tremendo por causa do frio de cerca de 4 graus durante o dia e menos 3 à noite.

Muitos moradores passaram a noite nas calçadas, por falta de abrigo, enfrentando o frio e a chuva.

De manhã cedo, vinte ônibus estacionaram no área sob controle do regime do bairro Salaheddine, segundo a AFP. Mas o acordo de evacuação, que deveria entrar em vigor às 03h00 GMT (01H00 de Brasília), foi “suspenso”, de acordo com os beligerantes.

Segundo um oficial rebelde, o regime e seus aliados, principalmente os iranianos, “impuseram novas condições”, enquanto uma fonte próxima ao poder de Damasco argumentou o desacordo sobre o elevado número de pessoas evacuadas.

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O presidente Recep Tayyip Erdogan anunciou que telefonará ao seu colega russo Vladimir Putin para tentar salvar a trégua.

Segundo um influente grupo rebelde, Nureddine al-Zinki, em Aleppo, o acordo previa a evacuação “dos feridos e civis”, seguidos pelos insurgentes com suas armas leves, nas regiões rebeldes da províncias de Aleppo ou de Idleb.

Observadores internacionais

O acordo de evacuação foi anunciado após quatro semanas de intensos bombardeios do regime que devastaram a parte leste de Aleppo e após o clamor internacional provocado pelas atrocidades supostamente cometidas contra civis nos bairros cujo controle foi retomado pelo exército sírio.

O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, evocou na terça-feira “informações indicando que as forças pró-governo mataram pelo menos 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças”, nestes bairros.

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Outros funcionários da ONU, de ONGs e de capitais ocidentais denunciaram “atrocidades” cometidas pelo regime.

Depois dos Estados Unidos, a França pediu uma evacuação supervisionada por observadores internacionais, após informes de que as forças do governo sírio teriam cometido execuções nas inspeções casa a casa.

Em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, a embaixadora americana na ONU, Samantha Power, disse que os observadores “supervisionariam a evacuação segura das pessoas que quiserem ir embora, mas que, justificadamente, temem ser abatidos na rua ou enviados para alguns dos ‘gulags’ de Assad”.

Mais de 310.000 pessoas, entre elas 90.000 civis, morreram na Síria desde o início do conflito bélico, em março de 2011.

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Em sinal de solidariedade, a Torre Eiffel, símbolo de Paris, será apagada nesta quarta a partir das 20H00 (17H00 de Brasília) em apoio a Aleppo, ante a “situação insuportável” vivida pelos habitantes da cidade, anunciou a prefeitura da capital francesa.

* AFP