A Expogestão 2018 contará com um painel sobre os cenários político e econômico durante o primeiro dia de evento, nesta terça-feira, em Joinville. A partir das 18h10, Carlos Alberto Primo Braga, doutor em economia pela Universidade de Illinois, e, Rafael Cortez, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), abordam a realidade atual e as perspectivas que surgem diante do cenário político-econômico ainda incerto para as próximas eleições. Confira a entrevista com um dos palestrantes:

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“Recuperação econômica começa a apresentar sinais de esgotamento”, diz Carlos Albreto Primo Braga

QUEM É RAFAEL CORTEZ

Sócio da Tendências Consultoria, doutor em Ciência Política pela USP, professor universitário, especialista em instituições brasileiras, política comparada e economia política.

A Notícia – A percepção é de que nós vivemos um momento de uma polarização na política. O que ela pode representar para o país e quais os riscos que pode causar nas eleições deste ano?

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Cortez – É curioso porque tem um certo paradoxo na polarização. A gente, de fato, vive um distanciamento maior entre os discursos e a agenda entre esquerda e direita, mas em contrapartida o número de candidaturas das eleições presidenciais não necessariamente traduz essa polarização. Ou seja, no plano das candidaturas potenciais para a eleição presidencial, pelo menos até o momento, o quadro é de fragmentação. Tem riscos bastante elevados em relação a eventual vitória de uma agenda de continuidade das reformas, o que deve impactar negativamente a agenda de crescimento econômico. Ao mesmo tempo, esse distanciamento entre a esquerda e a direita deve se manifestar mais ao longo do próximo mandato. Ou seja, nas dificuldades que o próximo presidente vai ter de implementar reformas no campo fiscal, com destaque para a medida da previdência.

AN – A gente está em um momento de crise política e crise econômica no país. Qual o papel dessas eleições deste ano nesse cenário de crise?

Cortez – Ela pode contribuir de uma forma bastante importante. O primeiro ponto é em relação à legitimidade do tomador de decisão. Ela vai significar a primeira manifestação do eleitorado no plano estadual e nacional depois da onda de episódios de investigações judiciais, o impeachment presidencial e a denúncia contra outro presidente. A eleição pode dar um ganho de legitimidade importante para o processo das reformas. Pode também significar a reconstrução da balança de poder entre os partidos políticos, ou seja, o novo desenho do sistema partidário brasileiro. E também ela vai traduzir o recado, em termos de agenda, que a sociedade vai passar para o tomador de decisões. São pontos importantes e a depender de como esses pontos forem geridos pelo próximo presidente a gente deve ter maior ou menos sucesso da agenda reformista.

AN – Depois de todas as investigações e informações que vieram à público com a Lava-Jato, se fala muito em renovação na política. O que podemos ter de novo nessas eleições?

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Cortez – Essa é uma discussão importante porque não necessariamente a renovação de nomes vai se traduzir na renovação de práticas políticas. O que pode ocorrer é alguma renovação, sobretudo no plano local, que é mais fácil e permeável a esses movimentos de mudanças do que do ponto de vista da eleição presidencial. Isso porque uma boa parte dos candidatos (a presidente) é de figuras do status quo da política que em boa medida já estavam participando da política nacional. Pensando na corrida presidencial a tendência é que a gente não tenha mudança nominal relevante para 2018. Acho que parece que o resultado dessa demanda por renovação vai ser uma certa decepção do eleitorado, que não é de todo nova. Quase sempre, em geral, existe uma demanda por mudança, mas nem sempre ela se traduz na prática porque a oferta de candidatos é ainda de controle dos grandes partidos. Os recursos de poder ainda são distribuídos com base na força dos atuais partidos e isso limita um pouco a renovação, mas acredito que a gente possa ter um nível (de renovação) mais elevado do que nas eleições anteriores.

AN – Quais os impactos e riscos que as fake news podem ter para as eleições?

Cortez – Ela tem um risco muito grande do ponto de vista do processo democrático. Uma eleição democrática está apoiada na igualdade entre os indivíduos, não é só de um indivíduo e o voto, mas uma igualdade mínima de acesso a fontes de informação que permitam uma avaliação crítica do tomador de decisão. Não acredito que as fake news vão ter força a ponto de alterar o resultado que a gente espera para o processo, mas não há dúvida que, do ponto de vista da construção da agenda política e do tipo de debate que vai ser tratado, as fake news dificultam para que a sociedade tome decisões mais representativas. Dificultam que o processo eleitoral seja mais do que a seleção de um candidato e de fato represente um momento para ocorrer ganhos de representação para que o próximo presidente implemente uma agenda minimamente próxima ao que é demandando pela maioria da sociedade.

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