São apenas 800 metros, mas que formam um dos trechos mais estratégicos para o trânsito de Blumenau. Os aclives e curvas sinuosas cercados por Mata Atlântica da Rua Bruno Hering – tudo bem, pode chamar de Morro da Companhia – são usadas diariamente por motoristas que querem escapar dos gargalos do Centro para se deslocar entre a região da Velha e o início do bairro Garcia. No entanto, basta um caminhão ter uma pane lá em cima para que o trânsito da cidade também sofra um colapso, aproximando-se do caos.

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Somente este ano já foram ao menos duas vezes que esse problema se repetiu na Rua Bruno Hering. O caso mais recente ocorreu no fim da tarde de quinta-feira. Um caminhão quebrado na pista de quem vai em direção ao Garcia provocou reflexos até mesmo para os que sequer usam o Morro da Companhia, em ruas como João Pessoa, Beira-Rio, República Argentina, Itajaí, Amazonas e muitas outras. O problema exigiu até a liberação do corredor de ônibus no Centro para melhorar o fluxo de veículos enquanto ocorria a retirada do caminhão, o que levou três horas.

Objetivo é evitar grandes congestionamentos

O assunto vai ser pauta de uma reunião na tarde de hoje entre representantes do Seterb e do setor de Planejamento Viário da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Blumenau. No encontro, a autarquia deve pedir à secretaria a proibição do tráfego de veículos pesados como ônibus e caminhões em horários de pico, no início da manhã e no fim da tarde. O motivo é evitar que problemas como o da última quinta-feira se repitam.

— A decisão cabe ao setor de Planejamento, mas a restrição é uma sugestão nossa porque seria melhor. Sabemos dessa necessidade. Hoje quando um caminhão quebra no Morro da Companhia, a cidade para — reconhece o diretor de Trânsito de Blumenau, Felipe Bueno.

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A proibição definitiva de veículos pesados em todos os horários não foi sugerida nesse momento porque exigiria outras rotas para os caminhões e também dificultaria o recebimento de mercadorias em empresas do Morro da Companhia. Uma contagem feita em dois dias pelo Seterb apontou que, no fim da tarde, em média 12 mil veículos trafegam pela via em cada sentido – um volume e tanto que fica impedido de circular quando um caminhão para no sinuoso trajeto. A expectativa é de que a entrega do prolongamento da Rua Humberto de Campos (prevista para março do ano que vem) possa diminuir parte desse fluxo, mas até lá a sugestão é fazer uma restrição nos horários de pico o que pode evitar novos engarrafamentos quilométricos pela cidade.

Restrição a caminhões já foi cogitada no início do ano

O diretor de Planejamento Viário de Blumenau, Julian Plautz, confirma que a Rua Bruno Hering se tornou uma via estratégica e que os caminhões quebrados causam um efeito dominó no trânsito de Blumenau. No entanto, ele lembra que no início do ano, quando as obras da implantação da rede de esgoto chegaram ao Bom Retiro, o setor já cogitou restringir os horários dos caminhões no Morro da Companhia, mas a ideia não avançou porque iria prejudicar a logística de empresas têxteis situadas na região. Plautz pondera também que se esses caminhões deixarem de transitar no local, eles passarão por ruas também consideradas estratégicas como a 7 de Setembro, Nereu Ramos, Alameda Rio Branco, 2 de Setembro e Itajaí, levando impacto para esses locais.

— Recentemente alargamos a curva mais acentuada no início da rua. O impacto é maior quando ocorre de termos um carro quebrado, mas não sei se a melhor solução seria simplesmente proibir. Estamos em um nível de saturação muito alto, qualquer caminhão que quebra ou qualquer buraco que se precise arrumar já causa impacto, em qualquer horário. Colocamos sinalização de preferência aos caminhões, isso ajudou, e estamos procurando e estudando novas medidas, mas ainda sem uma definição – pontua o diretor, frisando que para optar por uma possível restrição seria preciso voltar a conversar com as empresas da região, para evitar tomar uma decisão unilateral.

Motoristas relatam perigo diário nas curvas do morro

Se motoristas que nem precisam passar pelo Morro da Companhia sentiram o caos que se formou no trânsito de Blumenau na quinta-feira, quem passa pelo local diariamente não vê a hora de cruzar com menos ônibus e caminhões por lá. Moradora do bairro Garcia, Cristina Manfredini vai todos os dias no fim da tarde buscar na escola os filhos que estudam na Velha. Às 17h30min, aquele horário em que afortunados são os que não precisam encarar o trânsito, ela conta que se espremer com o carro nas curvas da Rua Bruno Hering faz parte da rotina.

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— Já vi muitos caminhões quebrados, acidentes com carro… Tudo isso atrapalha muito o trânsito. Os carros se esmagam quando os ônibus ou caminhões passam, chegam a descer de ré para dar espaço. Essa situação no morro acaba tornando o trânsito de toda a cidade mais lento — conta a vendedora de 40 anos.

Moradores do bairro Bom Retiro, que sentem as filas se formando na porta de casa, dizem que há uma série de outros fatores no trânsito da região que ajudam a formar o nó viário. A própria descida do Morro da Companhia para a Rua João Pessoa é confusa para muitos e contribui nos engarrafamentos, além da tradicional e polêmica situação dos pais que param o carro na Rua Nereu Ramos e transversais enquanto esperam os filhos na escola e fazem o congestionamento avançar para o Centro da cidade.

— Sabemos que o bairro é um corredor de serviços, uma rota de fuga, mas alguma coisa precisa ser estudada. O que mais se pede é realmente limitar os horários para veículos pesados, há também projetos para alargar algumas curvas do Morro da Companhia, mas isso precisa levar em conta a questão geológica — avalia o jornalista e morador do Bom Retiro, Giovani Vitória.