Os restos mortais do deputado Rubens Paiva teriam sido jogados ao mar em 1973, depois de dois anos enterrados nas areias do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. A revelação foi feita por um coronel reformado, de 76 anos, ao jornal O Globo no momento em que o Ministério Público Federal (MPF) se prepara para denunciar quatro militares envolvidos com a morte do ex-deputado, ocorrida entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1971.

Continua depois da publicidade

– Pelo estado do corpo, não posso dizer de quem era, nem cabia a mim identificá-lo. Mas o nome que ouvi foi o de Rubens Paiva – disse ao O Globo o coronel que topou dar entrevista sob o compromisso do anonimato.

>>> Saiba mais sobre o caso Rubens Paiva

Conforme a reportagem, o oficial participou de todas as missões importantes do Centro de Informações do Exército (CIE) na chamada “guerra suja”, período mais sangrento do regime militar, entre 1969 e 1974. Ele contou que montou uma equipe de 15 homens, disfarçados de turistas, e passou 15 dias abrindo buracos na praia – as escavações eram feitas dentro de uma barraca – até encontrar o corpo ensacado:

– De lá, ele (o corpo) seguiu de caminhão até o Iate Clube do Rio, foi embarcado numa lancha e lançado no mar. Estudamos o movimento das correntes marinhas e sabíamos o momento certo em que ela ia para o oceano.

Continua depois da publicidade

Em 1987, denúncias anônimas levaram a polícia fluminense a escavar na Praia do Recreio dos Bandeirantes, na tentativa de encontrar o corpo de Paiva. O procedimento foi repetido em 1999, em uma área em frente ao Corpo de Bombeiros no Alto da Boa Vista, com o mesmo objetivo.

– As pistas estavam corretas. O corpo realmente passou por estes lugares, onde já não estava na época das buscas – garantiu o coronel reformado ao O Globo.

Após dois anos de trabalho, o grupo Justiça de Transição, do MPF, deve denunciar os oficiais reformados José Antônio Nogueira Belham, ex-comandante do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I), onde Paiva morreu sob torturas; e Raimundo Ronaldo Campos, que admitiu ter montado uma farsa para forjar a fuga do ex-deputado, além dos irmãos e ex-sargentos Jacy e Jurandyr Ochsendorf, também envolvidos na fraude.