O cheiro atraente de comida na Rua Urussanga dobra a esquina e reúne filas que fazem a volta em frente ao Restaurante Popular do bairro Bucarein, na Zona Sul de Joinville. A circulação pela via que dá acesso ao Centro – que já não era pequena – mais do que dobra no horário de almoço. Esta movimentação reflete também a demanda do RP1, que, de abril de 2021 ao mesmo período de 2022, aumentou em 54%.

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Na espera, os perfis são variados: estudantes, idosos, famílias e também pessoas em situação de rua. Desde os que pagam R$ 5 aos que estão no CadÚnico e têm direito a desconto e isenções do valor. Fabiana Cardozo, secretária de Assistência Social de Joinville, explica que, nos últimos anos, o público que busca o local tem variado, para além de pessoas em situação de rua, imigrantes e famílias de baixa renda.

Isso se dá pela ampliação dos serviços ofertados, que passou a contar com café da manhã e jantar recentemente, e pelo conhecimento do público sobre o espaço.

– Muitas pessoas achavam que o restaurante popular era só para pessoas que não têm condições financeiras, e não é. Começamos a mostrar que existe um equipamento de segurança alimentar nutricional e este equipamento é justamente para população como um todo melhorar a qualidade da saúde, de vida. Da criança ao adolescente, adulto e qualquer usuário – descreve Fabiana.

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Outra questão que pode ter motivado este aumento, segundo a secretária, é a situação mais controlada da pandemia da Covid-19, que levou as crianças e jovens novamente às escolas e trouxe uma rotina mais próxima do normal aos que trabalham fora. Além disso, houve aumento no número de inscritos no Cadastro Único, o que pode ter refletido na demanda.

Conforme levantamento de março deste ano, 26,6 mil pessoas vivem em situação de extrema pobreza na cidade e fazem parte do instrumento federal.

– As famílias que têm menos de três salários mínimo têm o direito a pagar menos, ou seja, o almoço que sai R$ 5, pra uma família de baixa renda, sai a R$ 2,50. Imagina, com R$ 2,50, se a gente for preparar o alimento em casa, a gente gastaria muito mais – justifica a secretária.

Comida quente e segura

Mário Cesar Luiz, 53 anos, vive em situação de rua em Joinville e há cerca de três meses passou a frequentar o Restaurante Popular do Bucarein por indicação de um amigo. Há sete anos, Mário vive diariamente em busca de locais seguros para dormir e, até dias atrás, contava com a bondade das pessoas e donos de estabelecimentos para ter o que comer.

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Com dores nas costas e outros problemas de saúde, o homem não tem conseguido trabalhar nos bicos que faz como pedreiro e jardineiro, por isso, a garantia de alimento no RP1 tem sido fundamental.

– Eu almoçava por aí, comia lá, comia aqui. Às vezes o que sobrava dos restaurantes. Agora, me alimento bem todos os dias. A comida é muito boa – elogia ele.

Valdecir Vieira, 45 anos, foi quem falou do local para Mário. O homem também vive na rua e, faça chuva ou faça sol, caminha até o endereço para se alimentar:

– Tomo café, almoço, janto… Atualizei minha carteirinha e me alimento de graça.

Comodidade e economia

Rosal Gomes, 72 anos, é aposentado e mora sozinho no bairro Petrópolis, que também fica na Zona Sul da cidade. Todos os dias, próximo ao meio-dia, é sagrado: o idoso desembarca no ponto de ônibus próximo ao RP1 e entra na fila à espera do almoço. Explica que mora sozinho em casa e, para ele, que tem direito à gratuidade, é mais cômodo ir ao local para comer.

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De vez em quando, ele ainda tem sorte de encontrar a amiga Rosi Rodrigues, 72 anos, e aproveitam o tempo para conversar.

– A fila sempre é grande, ainda mais com solão assim. Mas não demora muito, não. Às vezes, venho aqui no jantar também. Esses dias, fui tirar sangue (para fazer exames) e acabei passando por aqui para tomar café – conta o idoso.

Cuidados com a saúde

Alisson Renan Mendonça Peixoto de Araújo, 22 anos, acabou de mudar-se de Goiânia para trabalhar em Joinville. Conta que está há duas semanas na cidade, já está matriculado na Escola Nereu Ramos e o endereço da empresa que trabalha também é próximo do restaurante do Bucarein. Para ele, que vive sozinho, paga aluguel e ainda se habitua na cidade, ter a opção do RP1 significa economia e qualidade de vida, já que o cardápio é preparado por profissionais.

– A comida é ótima. Tem variedade de arroz e feijão, salada. Faço todas as refeições aqui. Depois que fiquei sabendo que aqui tem uma nutricionista, rapaz! Até peguei umas informações com ela sobre frutas, o que faz bem para a saúde, e atividade física. Porque hoje em dia, a pessoa trabalha, tem estresse, e esquece de cuidar da saúde, né? E aqui tem me ajudado na rotina – pondera o jovem.

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Dados divulgados pela prefeitura mostram a movimentação dos RPs
Dados divulgados pela prefeitura mostram a movimentação dos RPs (Foto: Arte NSC)

Arroz, feijão e proteína

Em abril de 2021, foram servidos 438 almoços no RP1 por dia e 64 cafés da manhã. Já em 2022, a demanda passou para 675 almoços por dia e 96 cafés da manhã, além dos 111 jantares, que foi um serviço adicional implementado há duas semanas.

Em uma semana, por exemplo, são servidos 130 quilos de feijão, 440 quilos de arroz, 770 quilos de proteína (carne, frango e outros), 57 litros de café e 18 litros de leite. No mês de abril, foram 21.622 refeições servidas no total, com valor arrecadado de R$ 54.901,00, além de R$ 210.150,00 que foram repassados pela prefeitura. Este recurso, segundo Fabiana Cardozo, secretária de Assistência Social da cidade, é investido no espaço para pagamento de trabalhadores, compra de alimentos e manutenção.

Já no Restaurante Popular 2, do bairro Adhemar Garcia, em uma semana, são servidos 110 quilos de feijão, 350 quilos de arroz e 600 quilos de proteína. No mês passado, mais de 15 mil refeições foram servidas, e o valor arrecado foi de R$ 33.548,00, com mais R$ 165.900,00 que foram repassados pelo município.

Fabiana reforça que, durante a pandemia, houve o acréscimo da modalidade de marmita, para evitar aglomerações nos restaurantes populares. No entanto, este recurso foi mantido e tem sido uma alternativa também para quem passa pelo local se alimentar em casa ou levar para algum familiar. É cobrado R$ 1 pela embalagem.

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Os dois restaurantes funcionam das 11h às 14h. O RP1 abre diariamente, inclusive aos sábados, domingos e feriados, sempre das 7h às 9h para o café da manhã, das 11h às 14h (almoço) e das 17h às 19h (jantar). Já o RP2 funciona de segunda a sexta-feira, e serve apenas almoço.

Fabiana reforça que os alimentos são variados diariamente e contam com os nutrientes necessários para uma alimentação saudável.

Como funciona

NÃO PAGA

– Pessoas em situação de rua cadastradas e encaminhadas pelo Centro Pop exceto beneficiárias do Auxílio Brasil ou BPC;

– Crianças até 6 anos de famílias inseridas no CadÚnico;

R$ 0,50 CAFÉ DA MANHÃ E R$ 1 ALMOÇO OU JANTAR

– Usuário do CadÚnico beneficiários do programa Auxílio Brasil e com renda per capita de até meio salário mínimo, encaminhados pelo Cras;

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– Idosos e pessoas com deficiência que recebem o BPC, encaminhados pelo CRAS;

R$ 1 CAFÉ DA MANHÃ E R$ 2 ALMOÇO OU JANTAR

– Idosos com renda per capita de até 1,5 salário mínimo, encaminhados pelo CRAS;

R$ 2,50 CAFÉ DA MANHÃ E R$ 5 ALMOÇO OU JANTAR

– Usuários que não se enquadram nos critérios acima.

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