Há dois meses, os garçons de um bar no Centro de Blumenau receberam novas instruções. As bebidas, antes sempre acompanhadas de canudinhos de plástico, agora vão para as mesas apenas no copo e o canudo só é oferecido se o cliente pedir. A decisão foi tomada depois de o proprietário Fábio Wollstein assistir a vídeos sobre animais mortos por causa da poluição nos oceanos exibidos durante a última Volvo Ocean Race, em Itajaí.

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– Um obstáculo é que tudo o que é sustentável ainda é muito mais caro, quase inviável. Mas estamos buscando alternativas e fornecedores. A intenção é não recuar, continuar até as pessoas se conscientizarem ainda mais – conta o empresário.

O mesmo ocorre em um restaurante de comida vegana também no Centro. Atendendo pedidos até de clientes, que têm em comum a preocupação com os animais, os canudinhos foram retirados das mesas e seguem apenas no balcão, somente para quem solicita. Em um restaurante de gastronomia funcional, no bairro Velha, as mudanças foram além. Há um mês, o estabelecimento aboliu totalmente os canudinhos de plástico. Para quem frequenta o local, as opções são os canudos de inox oferecidos para consumo no local ou então a compra de canudos de vidro ou de inox.

– Muitos clientes já não usavam canudos. Hoje a maior procura é mesmo para crianças. A venda de canudos de vidro e inox também tem tido boa procura, vendemos uns 10 somente esta semana – conta a chefe de salão do restaurante, Mari Machado Nunes.

A redução no consumo de plástico foi alvo de campanhas de conscientização e até de projetos de lei em diversas cidades neste mês. O principal alvo é o canudinho, que virou um símbolo na luta pela redução do consumo de plástico. Em Itajaí, Florianópolis, Porto Alegre e Rio de Janeiro, por exemplo, vereadores apresentaram propostas com a intenção de restringir o uso de canudinhos de plásticos em estabelecimentos como bares, restaurantes e casas noturnas. Os projetos sugerem a troca por canudos de papel biodegradável ou reciclável e preveem multas para os locais que não se adequarem.

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Em Itajaí, a proposta do vereador Thiago Morastoni (MDB) surge em um momento em que o município assumiu um compromisso para reduzir o consumo de plástico, aderindo ao projeto Clean Seas (Mares Limpos), da Organização das Nações Unidas (ONU), durante a última Volvo Ocean Race. A cidade foi a primeira do país a aderir à campanha internacional pelo meio ambiente, que deve motivar também incentivos a empresas que desenvolverem ações que diminuam o lixo no mar.

– Mais do que a proibição, o projeto busca a conscientização das pessoas para que todos adotem novos hábitos – afirma o vereador de Itajaí.

Campanha em Blumenau e perigo aos animais marinhos

Em Blumenau, o vereador Bruno Cunha (PSB) levantou o assunto em sessões recentes do Legislativo. Ele explica que preferiu não apresentar um projeto proibindo e prevendo multas para pequenos estabelecimentos que oferecem o canudo de plástico. Em vez disso, preferiu lançar uma campanha com folhetos feitos com material reciclado explicando aos clientes de bares e restaurantes o impacto que o consumo dos canudinhos:

– Em geral, os estabelecimentos não oferecem o canudinho porque querem, mas porque há uma demanda. Consideramos mais efetivo fazer uma campanha de conscientização para que esse comerciante nos ajude a mudar a cabeça do consumidor.

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Como os canudinhos de plástico não são biodegradáveis, tendem a se desintegrar aos poucos, em pedaços. Perto ou longe das praias, esses resquícios vão para os ribeirões e rios e acabam no mar. Esses resíduos estão entre os principais causadores de mortes de animais marinhos.

O professor dos cursos de Ciências Biológicas e Oceanografia da Univali, Adriano Weidner Cacciatori Marenzi, explica que os principais motivos para essa luta pela extinção dos canudos de plástico ocorre pelo baixíssimo tempo de uso – estimado em quatro minutos, contra décadas necessárias para a decomposição – e nos estragos provocados na população marinha. Segundo ele, no monitoramento de praias feito na costa de São Paulo a Santa Catarina, tornou-se realmente muito comum encontrar pedaços de canudos de plástico no trato digestivo de aves, pinguins e tartarugas marinhas.

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