O Restaurante Popular de Florianópolis começou o serviço de almoço com alta procura nesta segunda-feira (18). A iniciativa oferece refeições nutritivas e diversas à população para enfretar o cenário de insegurança alimentar que atinge todo o país.
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O local foi inaugurado pela prefeitura de Florianópolis no sábado (16) e tem capacidade de produzir até 2 mil refeições por dia, incluindo o cardápio de café da manhã, almoço e jantar.
Todos os moradores da cidade podem comer no restaurante, mas a preferência do serviço é para a população em vulnerabilidade social e que pode se encontrar em situação de insegurança alimentar.

Na capital catarinense, cerca de 15 mil pessoas estão em situação de extrema pobreza e possuem renda zero, segundo dados do Cadastro Único para Programas Sociais (Cadúnico). Além disso, mais de 100 mil pessoas possuem baixa renda.
Josefa Machado de Campos, de 66 anos e em situação de rua, almoçou no restaurante popular nesta segunda (18). Para ela, o serviço é essencial ainda mais neste momento em que os valores dos alimentos estão altos.
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— Isso aqui vai ser um prato cheio. Muitas pessoas têm casa para morar, mas com R$ 1,2 mil, um salário mínimo, não tem como manter um aluguel e comida dentro de casa — afirmou.
Para garantir o direito à alimentação adequada e saudável para todos, o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (COMSEAS) e movimentos sociais demandam um restaurante popular há uma década.
— Entendemos que ele é um equipamento público de segurança alimentar e nutricional que, além de ofertar alimentos em quantidade e qualidade nutricional, tem um papel de desenvolvimento territorial — argumenta Aline Salami, presidente do COMSEAS.

Na fila para almoçar nesta segunda (18), Aline Salles, participante do movimento das pessoas em situação de rua, conta que o grupo pede um restaurante popular há anos. Ela esteve na inauguração no sábado (16) e retornou para mais uma refeição.
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— Eu estou achando ótimo, a comida é muito gostosa. São alimentos que a gente geralmente não faz. E não é só para a população de rua, é para a comunidade — afirmou.
O acesso ao serviço da prefeitura é universal, mas leva em conta critérios de renda para definir preços e prioridades. São três modalidades: para pessoas com renda zero a entrada é gratuita; para a população com renda de até meio salário mínimo, o custo é de R$ 3 no almoço e jantar, e R$ 1,50 no café da manhã; para quem possui renda maior do que meio salário, o custo será de R$ 6 e R$ 3, respectivamente.
O valor, a recepção e o cardápio completo conquistaram Alen Costa, aposentado de 75 anos. Em sua primeira refeição no restaurante, o prato tinha arroz, feijão, macarrão com ervas, frango xadrez e bastante salada.

— O mais gostoso é que perguntam “quer mais ou quer menos?”. Você escolhe e come bem. Não tem “regulagem”, cada um recebe aquilo que merece e deseja — disse.
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Muitos elogios à comida também foram feitos pela dona de casa Irene Grossmann, que percebeu o capricho dos pratos. Com a alta inflação dos alimentos, ela avalia que comer no restaurante popular vai ser uma possibilidade para a população se alimentar de forma saudável por um preço em conta.
— Fui no mercado esses dias, a compra não sai por menos de R$ 50. Aqui, por R$ 6, temos de tudo! — reforçou a dona de casa.
Camila Grossmann, filha de Irene, estuda no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), ao lado do prédio do novo restaurante popular, e afirmou que a iniciativa será positiva para os alunos:
— O pessoal já tinha até comentado no grupo da turma que vai ser uma boa saída para os estudantes, já que só temos uma cantina na faculdade, que às vezes deixa a desejar.
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Direito à alimentação
O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional está vinculado ao direito à alimentação adequada e saudável, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não basta comer, é preciso comer bem e sempre.
— É ter acesso a todas as refeições, todos os dias, de forma adequada e sem que isso afete outras áreas da sua vida. Você não pode deixar de ter acesso à moradia e à cultura para se alimentar de forma integral — explicou Kamilla Costa, nutricionista e fiscal do restaurante da prefeitura de Florianópolis.

A qualidade e variedade dos alimentos são fundamentais para garantir esse direito. Ambos estão formalizados no edital de funcionamento do serviço do restaurante popular.
— O edital prevê as quantidades exatas e os tipos de alimento para garantir que a porção seja nutricionalmente adequada. Por exemplo, estão especificados quais tipos de carne podem ser servidos e quantos dias cada proteína pode ser servida para termos variedade no cardápio — contou a nutricionaista.
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Localizado na região central da capital e com fácil acesso, o restaurante popular quer garantir boas refeições para quem estiver por perto de forma barata.
Em seu primeiro almoço no restaurante popular, Jair e Luci Ramos, de 69 e 70 anos respectivamente, já pensam na possibilidade do serviço se espalhar pela cidade. Toda semana eles vão até o Cepon por motivo de saúde, no bairro Itacorubi, e contam que se alimentar por lá não é fácil.
— Comer naquela região é muito caro. A gente acaba ficando com fome até voltar para casa. Tinha que ter um desses por lá — sugeriu Luci.
Dentro da cozinha
O restaurante popular conta com 30 funcionários. Por turno, dois cozinheiros, cinco auxiliares de cozinha, dois nutricionistas, uma gerente nutricional e dois auxiliares de limpeza trabalham para servir os pratos da população.
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Gilson Avila é cozinheiro há 16 anos e nesta segunda (18) comandou o grande caldeirão da cozinha, onde preparou frango xadrez como prato principal do dia. O recipiente comporta 500 litros de alimento e pode fazer mais de mil porções.
— Para cozinhar grandes quantidades precisa de uma boa rede de gás, uma boa rede de água em toda cozinha, força e amor pela profissão — reconheceu.

A equipe dentro da cozinha demonstra estar muito unida, certa de que está realizando uma tarefa essencial. O engajamento e paixão pelo serviço facilitaram o início de trabalho.
— Nos dias antes do restaurante abrir, eu não conseguia dormir de ansiedade para estar aqui. E tá tudo fluindo perfeitamente, a equipe realmente está se doando para a população.
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Elaine Brito cozinha desde pequena e diz que sonhava com um restaurante popular em Florianópolis. Hoje integra o grupo de funcionários que prepara as refeições do local e se sente realiza por poder ajudar a acabar com a insegurança alimentar e a fome.
— Estou aqui para cumprir minha missão, ajudar o próximo. Se Deus me colocou aqui, é porque é o local de mais necessidade. As pessoas comem lixo, pedra, passam fome, é muito triste. Eu espero contribuir para mudar a realidade — relatou a cozinheira.