Um restaurante no centro de Santa Maria, em pleno horário de almoço, se transformou em cenário para a homenagem improvisada de um tio emocionado ao sobrinho que foi um dos últimos frequentadores a sair com vida da boate Kiss. Dezenas de clientes interromperam a refeição nesta terça-feira para aplaudir, comovidos, a demonstração pública de afeto e a história de superação.

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Por volta das 12h30min, o proprietário Rosélio Raddatz, 52 anos, pediu a atenção de todos as pessoas presentes em seu estabelecimento.

– Gostaria de pedir desculpas, mas, nesse momento de tanta tristeza, gostaria de dividir com vocês uma alegria. Este é o meu sobrinho, ele estava na boate na madrugada de domingo e foi uma das últimas pessoas a conseguir sair de lá com vida – declarou, com os olhos úmidos, antes de dar um abraço e um beijo no familiar sob aplausos.

O sobrinho, o estudante de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Vinícius Corrêa Souza, 21 anos, estava nos fundos do estabelecimento quando percebeu o fogo. Quando tentou se aproximar da saída, já havia um muro humano à sua frente.

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– Naquele momento, na minha cabeça, me despedi da minha família. Pedi desculpas aos meus pais e ao meu irmão por não ter sido mais forte – conta.

Quando já não conseguia mais respirar, desorientado, percebeu uma luz neon que circundava uma das portas rumo à salvação. Em um último esforço, escalou a pilha de corpos que já se formava diante dele e conseguiu alcançar a rua.

– Levei uns dois minutos e meio para sair, e fui um dos últimos. Quem demorou mais tempo, não sobreviveu. A fumaça fechava a garganta – contou.

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Vinícius foi ao restaurante do tio para visitá-lo e mostrar que estava bem de saúde quando foi surpreendido pela homenagem. Depois dela, recebeu ainda abraços e felicitações de vários clientes. Ele tosse com frequência, e na segunda-feira começou a expelir um muco escuro pela boca, mas os médicos garantiram que ele não corre perigo.

Raddatz tinha outro motivo para amenizar a tristeza pela perda de vários conhecidos no desastre de domingo: seu filho só não foi à boate porque não conseguiu do pai o empréstimo do carro.

A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

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Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.

Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

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Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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