Até onde você iria para manter a memória de familiares? O engenheiro mecânico Victor Cavinatto dedicou mais de dez anos para conseguir autorização e verba para o restauro do sobrado em enxaimel, localizado no número 53 na rua Araranguá, em Joinville. Entre trâmites burocráticos e busca de apoio, o imóvel permaneceu em obras nos últimos dois anos e finalmente está concluído.
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Construída em 1909, pelo músico e compositor alemão Friedrich August Adolf Schmidt, a casa abrigou até a terceira geração da família e foi tombada como patrimônio histórico pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). A partir dos anos 2000, a família de Victor iniciou o processo em busca de aprovação para o restauro, que foi conquistado apenas em 2006, quando foi contemplado pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), para o início das obras no telhado. Ao todo, foram quatro editais que somaram cerca de R$ 350 mil. No entanto, segundo o proprietário, o valor total é de aproximadamente R$ 400 mil.
Mais complexa que uma obra comum, as ações de restauro têm custo elevado principalmente por exigirem mão de obra especializada. Da massa feita com cal às dobradiças das janelas, todo cuidado precisou ser tomado para manter as características originais, como afirma o arquiteto e coordenador da área de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Joinville, Raul Walter da Luz, responsável pelo acompanhamento e fiscalização da obra.
Algumas adaptações precisaram ser feitas, como a modernização dos banheiros e do sistema elétrico, que contrastam _ propositalmente _ com a estrutura do século 20. A mobília da casa também foi beneficiada com o restauro, que prezou pela qualidade e originalidade em cada detalhe, da máquina de costura ao assento das cadeiras.
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O próximo passo, segundo o proprietário, é alugar o imóvel, com a ressalva de encontrar uma função compatível com o zelo e valorização da residência, além de resolver o imbróglio da cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), já que a residência é passível de isenção ou dedução tributária. Questionado sobre o que o motivou a lutar tanto pelo restauro da casa, o brilho dos olhos de Victor revela o carinho que ele possui pelo local.
– Queremos que as pessoas vejam que quem morou aqui também teve dificuldades, que vivia de um jeito diferente – aponta.
Para o diretor-executivo da FCJ, Joel Gehlen, a casa é um exemplo de êxito e que deve servir de incentivo para muitos proprietários de patrimônios que têm memória histórica. Segundo ele, o restauro é uma prova de que o imóvel poderá cumprir duas funções sociais: manter a memória e ser rentável ao proprietário, além dos benefícios tributários. O diretor adiantou ainda que a partir de 2014 haverá uma categoria exclusiva no Simdec para restauro de patrimônios que servirá como mecanismo de incentivo.
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