Os R$ 33 milhões pagos pelo governo de Santa Catarina de forma adiantada na negociação dos 200 respiradores comprados da China foram repassados pela Veigamed em 56 transferências diferentes para outras empresas. A informação consta na petição do Ministério Público que embasou a prisão preventiva de cinco pessoas no último sábado (6), e é citada pela força-tarefa da Operação O2 como um indício de que houve o crime de lavagem de dinheiro.
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Pagos pelo governo de SC em duas parcelas nos primeiros dias de abril, os R$ 33 milhões que caíram na conta da Veigamed foram passados adiante entre os dias 6 e 29 de abril. Conforme o MP, a investigação constatou uma sequência de 56 transferências da Veigamed para uma série de outras empresas, totalizando o valor completo da negociação.
Segundo o MP, parte das transferências foram feitas para empresas de comunicação, eventos e marketing, que não teriam relação com a atividade da Veigamed. A força-tarefa diz que “tais movimentações bancárias enquadram-se como manobras típicas de lavagem de dinheiro”.
Entre as 56 transferências, uma de R$ 320 mil foi efetuada no dia 22 de abril para a empresa MMJS. Com sede em Cuiabá, a MMJS apresentou uma das propostas concorrentes à Veigamed no início do processo de compra dos 200 respiradores. A investigação do MP apurou, depois, que seria uma empresa de fachada.
Fabio Guasti, médico e empresário paulista que foi preso na operação de sábado, também teria recebido uma das transferências. Pela atuação na negociação com o governo de SC, ele teria recebido da Veigamed R$ 2 milhões. O dinheiro, no entanto, foi transferido para a conta de uma empresa chamada Remocenter Remoções e Serviços Médicos, e não para a conta pessoal de Guasti. Na busca e apreensão da primeira fase da Operação O2, a força-tarefa encontrou no escritório de Guasti uma nota fiscal de prestação de serviços da Remocenter para a Veigamed no valor de R$ 5 milhões. A nota tem a data do dia 3 de abril – dia em que o governo de SC faz o pagamento.
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Durante o inquérito, Guasti teria dito em depoimento que já havia gastado os R$ 2 milhões pagando dívidas, por isso o valor não pode ser bloqueado pela Justiça.
Para o juiz Elleston Lissandro Canali, da Vara Criminal da Região Metropolitana de Florianópolis, os fatos, somados ao caso dos testes rápidos que a Veigamed tentou comprar de uma empresa de Joinville usando parte dos R$ 33 milhões, foram o suficiente para a autorização das prisões preventivas. A decisão cita que os envolvidos “constituíram uma organização criminosa” e lista uma série de crimes, entre eles o de lavagem de dinheiro.