A investigação sobre a compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões pelo Governo de Santa Catarina teve um novo capítulo nesta sexta-feira (15) à tarde. Por mais de três horas o CEO da Veigamed, empresa contratada pelo Estado, prestou depoimento ao Ministério Público de SC para esclarecer pontos da negociação que estão em investigação. Pedro Nascimento de Araújo negou qualquer irregularidade no processo e afirmou que não teve contato com outros nomes citados pelos investigadores.

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Após o depoimento, Araújo falou com exclusividade à reportagem do Diário Catarinense. Ele afirmou que a empresa possui experiência no mercado e garantiu que todos os respiradores serão entregues em Santa Catarina e poderão ser utilizados no tratamento de pacientes com Covid-19.

– Houve uma história toda, criada aqui, que eu não sei se com interesses políticos ou não, de que se tenha uma empresa fantasma com respiradores fantasmas. Nós provamos hoje que a empresa realmente existe. Aquela foto divulgada da empresa, que era uma casa, é um depósito e a foto era de 2015. Os primeiros respiradores já estão no Aeroporto Hercílio Luz, a empresa não pertence a nenhum desses nomes que a cada dia surgem. Viemos mostrar que a empresa existe, não pertence a ninguém de Santa Catarina, é do pessoal do Rio – afirmou o empresário.

Na investigação do Ministério Público catarinense, Araújo é apontado como um possível "laranja" para o proprietário de fato da empresa, que seria o médico paulista Fábio Guasti. Araújo disse que o médico é apenas um consultor e não faz parte do quadro da empresa. O proprietário da Veigamed afirmou, também, desconhecer o ex-secretário da Casa Civil de Santa Catarina, Douglas Borba, que é apontado na investigação como o agente público que indicou a Veigamed para a negociação com o Estado:

– Não conheço ele [Borba], nunca estive com ele. Nem sequer falei com ele ou tentei falar. São nomes absolutamente estranhos para a empresa e para mim.

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Araújo também foi questionado sobre a mudança no modelo dos respiradores. O modelo escolhido pelo governo de SC foi o respirador Medical C35. Dias depois, quando o atraso na entrega começou, a Veigamed enviou ao Estado um ofício apontando alterações no contrato. Um dos pontos foi o modelo do respirador – em vez do Medical C35 contratado pelo governo, a empresa forneceria o Shangrila 510S.

Araújo disse que o modelo inicial solicitado pelo Estado não serviria para o tratamento de pacientes com coronavírus em estado grave:

– A troca foi a pedido da secretaria, e principalmente, esse é um modelo que é superior [o entregue]. O modelo original não permitia a entubação do paciente, não era invasivo, e esse entregue permite. Pode ter havido algum erro humano, processual, mas o modelo solicitado não era invasivo, e isso é um problema no combate à Covid-19.

Segundo o empresário, o valor de R$ 165 mil para cada respirador estava dentro dos preços de mercado e não foi superfaturado:

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– Um respirador desse tipo, hoje, obviamente você não vai encontrar para pronta-entrega. Mas para encomendar você vai pagar US$ 30 mil (aproximadamente R$ 175 mil) na China, sem imposto, transporte pra cá, nada. Foi um preço baixo para o modelo. Conseguimos comprar porque trabalhamos nesse mercado há muito tempo, já tínhamos negociações anteriores.

O depoimento do empresário será analisado pelo MP e vai integrar o processo que investiga a compra. Araújo veio a Florianópolis acompanhado de Davi Perini Vermelho, vereador de São João do Meriti (RJ) que também é investigado no processo. Davi também iria prestar depoimento, no entanto, segundo o advogado do vereador, a fala de Araújo se estendeu e impossibilitou que os dois fossem ouvidos ainda nesta sexta pelo MP.