Dez pretendentes em 40 minutos. Dois repórteres de Donna investigaram como o Speed Dating foi adaptado dos filmes americanos para um clube de solteiros de Porto Alegre. Os textos na perspectiva masculina estão publicados em preto, e o ponto de vista feminino, em vermelho.

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Parte 1

É noite de sábado, e o café no bairro Meninos Deus está quase vazio, o que não impede certa discrição ao abordar a atendente do estabelecimento. Pergunto se ali ocorreria “um evento” logo mais.

– O Speed Dating? – ela questiona sorridente, em alto e bom tom, enquanto me encolho e olho para os lados. – É no mezanino, é só subir.

Faltam 15 minutos, e a maioria dos homens já está no local. As mulheres vão chegando elegantemente atrasadas. Sem assunto, reparo na falta de coerência do vestuário masculino: há desde terno, gravata & sapato de bico fino até jeans, camisa polo & famigerados sapatênis. Um dos participantes elogia a “força” do plantel feminino. Antes de que eu opine, passa às minhas costas uma loira de olhos verdes – é minha colega de reportagem, a Larissa, infiltrando-se no time feminino.

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Moro pertíssimo do local onde foi realizado o Speed Dating. Mentalizei um mantra improvisado enquanto cumpria a pé as duas quadras até lá: “Não posso rir quando olhar pro Caue, não posso rir quando olhar pro Caue, não posso rir quando olhar pro Caue”. Para evitar um frouxo de riso ao olhar pro Caue, decidi não olhar pro Caue. Dei uma espiada atravessada ao passar quase correndo pelo grupo dos rapazes e sentei na rodinha formada pelas meninas. Para juntar coragem e não desistir na última hora, uma delas chamou uma amiga. A amiga, não bastasse o convite sem opção de recusa, ainda passou por uma provação minutos antes de a função começar:

– Ai, meu Deus, eu conheço aquele cara! – constatou ela, baixando a cabeça.

Esse, a propósito, era meu maior receio: e se eu encontrar algum conhecido?

Parte 2

Antes de explicar as regras do encontro, o organizador Carlos Vycente começa um discurso simpático elogiando a coragem dos participantes. Balançando o rabo de cavalo grisalho para olhar a todos nos olhos, ele disserta:

– Este é um evento para quem não gosta de balada. Ou ao menos para quem não considera a noite a melhor forma de conhecer pessoas bacanas.

Vycente disfarça, mas espia vez por outra o relógio. Duas mulheres ainda não chegaram, embora tenham confirmado estarem a caminho. São normais desistências de última hora. Naquela faixa etária, dos 30 aos 40 anos, especialmente de mulheres.

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– Quanto menos idade, mais homens. Conforme a idade avança, a procura se inverte – confidenciava ele, mais cedo, ao grupo masculino.

Tomei meu lugar e esperei o primeiro candidato. Por cerca de dois dos quatro minutos iniciais, meus pensamentos oscilaram entre duas preocupações: “Ai, Deus, meu gravador (preso debaixo da blusa) vai cair” e “Acho que ele é gay”. Não menti sobre hábitos ou preferências, apenas omiti o fato de trabalhar na ZH – e de estar trabalhando, inclusive, naquele momento. Talvez por força do hábito e da profissão, perguntei muito mais do que respondi. Meu interlocutor, mesmo não sabendo nada a meu respeito, não tardou a se desmanchar em elogios:

– Que pele boa que você tem.

– Ahn… é?

– Como você é bonita e simpática.

– Ah… obrigada.

– Comecei bem a noite.

– …

Parte 3

Quatro minutos se revelam surpreendentemente longos. São o suficiente para descobrir que a primeira pretendente cresceu não só na mesma cidade do Interior, mas no mesmo bairro que eu. Que a segunda, vejam só que afinidade, dá aulas (profissão dela) usando recortes de jornal (profissão minha). Que a terceira é habituée do evento e (atenção à marmelada) foi chamada de última hora para completar o time das mulheres.

A única pergunta que fiz a todas as mulheres – “como descobriu o Speed Dating?” – foi respondida da mesma forma com pequenas variações:

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– No Google. Aí minha mãe disse: “Tu deveria ir lá, Fulana!”. Aí eu disse: “Capaz! Vou nada!”. Aí eu vim… – resume a mais nova das meninas, de 27 anos (outra marmelada), escondendo os olhinhos azuis e as bochechas vermelhas de vergonha.

O segundo pretendente era econômico no discurso. Me olhava fixamente e parecia incomodado com a gravata – ao longo da noite, foi ao banheiro duas vezes e saiu sempre afrouxando o nó, o que me fez cogitar que poderia estar passando mal de nervoso. Ou de desgosto. Havia estado ali outras vezes. Indaguei sobre o sucesso das empreitadas anteriores:

– E aí, conheceu alguém legal?

– Não. Só doida.

Diante do meu espanto, resolveu fazer um afago:

– Você está me parecendo a mais normal de todas.

Perguntei por que resolvera voltar, dado o histórico pouco animador.

– Acho que o meu destino era te conhecer.

Chamei o garçom.

Parte 4

Cachos loiros para o lado, voz rouca:

– Tu gostas de crianças?

– Hmm… Gosto.

– De quatro crianças?

– Não. De quatro crianças eu não gosto.

– (Risos)

– Mas como assim quatro crianças? Desculpa a indelicadeza, mas quantos anos tu tens?

– Trinta e três.

– E que idade tem a tua criança mais velha?

– Dezoito.

– Dezoito?! Isso não é uma criança!

O mais bonito de todos os rapazes foi o sétimo ou oitavo a sentar na minha frente. Respondendo a uma pergunta dele, disse que tinha 32 anos. Pelo jeito, achou muito:

– Não quis ter filho?

– Ahn, ainda não pensei nisso. E você?

– Resolvi treinar antes. Primeiro tive um cacto, que morreu afogado, e agora tenho uma planta com flor. Depois acho que vou pegar um gato.

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Parte 5

– E aí, gostosa.

Ela ri, o que estávamos tentando evitar ao não olhar um para o outro desde que chegamos. É a vez de eu sentar à mesa da minha colega de reportagem, que vinha colecionando elogios da homarada.

Passada a maioria dos pretendentes, aproveitamos para ajustar os ponteiros eticojornalísticos. Participamos com a conivência da organização do evento, mas sem revelar nossas intenções aos pretendentes. As condições era não assinalarmos interesse por ninguém e tampouco identificar os participantes. Fora isso, mentimos o menos possível sobre nós mesmos.

No resto do tempo, discutimos quem, em condições normais de temperatura e pressão, despertaria nosso interesse. Mas também não convém revelar esse dado em respeito às moças.

Toca a sineta e segue o baile.

Depois de umas duas horas de papo, eu já espiava o relógio. Um combatente do time masculino, o sujeito da gravata apertada, desistiu no meio do caminho – ou talvez realmente tivesse de deixar o evento mais cedo por causa de outro compromisso, como alegou ao organizador. Quando devolvia a folhinha com a “pontuação”, pude ver suas anotações: marcou que todas as presentes o interessavam.

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Entre os 10 participantes, claro que tive bate-papos interessantes. Com o que os quatro minutos regulamentares me permitiram fazer, diria que dois moços me pareceram bem legais. Devolvemos nossas planilhas em branco, já que a apuração para a reportagem se encerrava ali e não seguiríamos adiante na busca por um par. Dispensamos o jantar, para não ter de manter o disfarce, e deixamos o bar, ainda fazendo de conta que não nos conhecíamos. Caue, a caminho do Centro, me ofereceu uma carona até a Cidade Baixa. Temi pela minha reputação e achei melhor pegar um táxi – o que nossos colegas de Speed Dating pensariam se me vissem entrando no carro dele?

No dia seguinte, recebemos algumas estatísticas sobre a noite: quem se interessou por quem, quem descartou quem, quem cogitou algo mais com alguém, ainda que sem muita convicção. Entre os homens, surgiu interesse por alguma mulher 34 vezes. Elas, mais comedidas, assinalaram 18 vezes a opção “interessa” para aos homens.

Talvez, daí, surjam encontros com mais de quatro minutos de duração.

Como funciona

São 10 a 12 homens e mulheres selecionados por faixa etária. Um encontro reúne pretendentes de 20 a 30 anos, no próximo, outros de 30 a 40, e assim por diante. Pode haver certa tolerância de idade para fechar as turmas.

Cédulas em mãos

Cada participante recebe um formulário com seu nome em um dos lados e uma lista de pretendentes no outro. Ele servirá como cédula ao final do encontro. As meninas se postam uma em cada mesinha. Ao toque de uma sineta de cristal, um rapaz sentará em cada mesa e tem início o Speed Dating….

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Testando a química

Após quatro minutos de tête-à-tête, a sineta toca novamente, e os homens trocam de mesa. Segundo o organizador, trata-se de um tempo “testado cientificamente” para uma pessoa se interessar ou não pela outra.

A hora da verdade

Quando todos os homens já conversaram com todas as mulheres, as cédulas são entregues. Para cada nome de pretendente, deve ser preenchida uma das opções: ( ) Interessa ( ) Quem sabe ( ) Não interessa

Estica o papo

Entregues as cédulas, é feito um jantar de confraternização. Não é vetado aprofundar as conversas, mas é desaconselhada a troca de contatos ou até de sobrenomes, para não constranger quem não estiver interessado.

Cupido por email

No dia seguinte, por email, os participantes recebem os contatos apenas de quem se interessou por eles. Se Romeu marcou “quem sabe” para Julieta, mas Julieta lascou um “interessa” para Romeu, os dois receberão um “quem sabe”.

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