Era 7 de setembro de 2012. Caminhávamos pelo Bairro da Barra, em Balneário Camboriú, para produzir uma reportagem sobre atrativos turísticos, quando dois meninos surgiram, empurrando carrinhos de picolés. O dia nem estava tão quente, mas era de sol. Já passava de meio-dia. Os meninos contaram que trabalhavam quase todos os dias, no contraturno escolar, e também nos fins de semana e feriados. Um deles tinha 12 anos, a idade de meu filho Gabriel – um detalhe que faria toda a diferença durante a apuração.
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Aquela foi a primeira de uma série de entrevistas e conversas informais que a repórter-fotográfica Rafaela Martins e eu teríamos pelos próximos oito meses com os meninos. Rafaela abraçou a pauta e, por meses a fio, flagrou com suas lentes crianças que, em Balneário, Camboriú ou Itajaí, se arriscavam pelas ruas vendendo picolés em busca de alguns trocados.
A caminhada até a finalização da reportagem teve seus percalços – e o mais difícil deles foi entender a conivência dos pais e da comunidade para com o trabalho infantil. De fato, as crianças com quem conversamos não se sentiam obrigadas a trabalhar. Queriam ter o próprio dinheiro, comprar o que têm vontade. Para muitas pessoas com quem conversamos nas ruas, a venda de picolés não é nada mais do que uma maneira de ensinar aos meninos o valor do trabalho e do dinheiro.
Em muitas dessas conversas, confesso que cheguei a pensar se essas pessoas não teriam razão. Nesses momentos, lembrava de meu filho. Imediatamente me vinha à mente a exposição, os perigos que rondam as ruas. E uma certeza: não era seguro para criança alguma. Terminada a primeira fase de trabalho nas ruas, passei a ouvir especialistas no assunto.
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O que espero, com esta reportagem, é que esse aspecto do trabalho infantil seja lembrado por quem alimenta ou financia os pequenos vendedores. Que eles tenham acesso a uma rede de assistência eficiente e que cresçam livres dos perigos das ruas.
Dagmara Spautz, repórter