Desde a adolescência, eu sabia que saltaria de paraquedas qualquer dia. Foi uma decisão íntima, que ficou guardada junto a outras coisas que ainda vou fazer. Também quero andar de camelo pelo deserto do Saara, aprender a cavalgar e conseguir deixar os lados de um cubo mágico com as cores certas.
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Assista ao vídeo com o salto completo:
Revista de Verão – Salto de paraquedas
Dessa vez, realizei o primeiro desses desejos de juventude, e (pasmem!) foi trabalhando. Acordei às 6h30min de um domingo, vesti o que é indicado para um salto de paraquedas: calça confortável, camiseta e tênis. Fiz um café da manhã campeão, lembrei de levar um casaco para não passar frio com a altitude. Fazia 21ºC quando eu saí de casa e, segundo meu instrutor de salto, Davi Carlos Duckstein, deveria estar 5ºC no céu.
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Ao chegar ao Aeroclube de Santa Catarina, só passava pelo minha cabeça uma coisa: meu Deus, eu vou me jogar de um avião em movimento (que loucura, que loucura, que loucura eu vou fazer). Davi me vestiu com um macacão específico para o salto e me prendeu à roupa dele. No macacão dele tinha quatro grampos. São os chamados grips, tão resistentes que aguentam 200 quilos. Nas minhas costas, outros grips eram presos aos dele. Uma coisa que parece sensual, mas na hora só me passava segurança diante da proximidade do salto.
Meu medo nunca foi morrer. Se o Davi já chegou a 2 mil saltos, eu também conseguiria viver o paraquedismo pelo menos uma vez. A minha insegurança era a sensação. Quanto mais perto da hora, mais curiosa eu ficava com relação à queda livre. Eu sabia o básico: eu saltaria do avião, no início minha queda seria rápida, mas depois a velocidade se estabilizaria em mais ou menos 230 km/h. Meu corpo alcançaria um estado de plenitude por alguns segundos e o paraquedas seria ativado, quando eu poderia ver o mundo lá de cima.
Resolvi, um pouco antes de embarcar, parar de pensar no que aconteceria. Dica aos paraquedistas de primeira viagem: não leiam textos, não vejam vídeos, não perguntem às pessoas como é saltar de paraquedas. A sensação será diferente. Sempre. E é uma das melhores do mundo. Sinta sem qualquer referência, viva uma coisa só sua por alguns segundos.
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Depois de treinar como seria minha posição no alto, entrei às 11h27min no avião monomotor, um Cessna 182 Skylane, que chega a uma velocidade de mais ou menos 140 km/h. Cinco pessoas, além do piloto, a bordo: dois aprendizes, meu instrutor, um cinegrafista especializado para registrar minha queda livre e eu. A situação era a seguinte: 3.657,6 mil metros de altura. Para entender um pouco melhor o drama: se o prédio que você mora tem 10 andares, eu me joguei de um local 104,5 vezes maior.
Fechei os olhos, abri os braços e saltei. Nenhum ponto do meu corpo sentiu agonia. Nada passou pela minha cabeça, e isso não acontecia desde que nasci. É vento, vento, vento, vento, azul, azul, azul. O horizonte em frente e as nuvens aos pés. Não existe frio na barriga, nem medo depois de sair do avião. Todos os textos que você ler sobre paraquedas terão um ponto em comum: é o mais próximo da liberdade possível. Se eu fosse um animal, seria um pássaro. Se eu fosse um prédio, seria o maior do mundo. Sendo eu mesma, me senti livre por 40 segundos de queda livre, sem o pé tocando o chão, sem Facebook, sem contas, sem amores perdidos, sem louça para lavar.
Quando eu me dei conta, o paraquedas abriu e eu aterrissei. Meu primeiro pensamento foi: o que mesmo eu tô fazendo aqui na terra? Na próxima vida, vou nascer pássaro.
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Antes do salto
Comer coisas leves
Vestir-se corretamente: camiseta, calça confortável e tênis
Encarar o salto como um novo olhar sobre o mundo
Top 3…
Sites de aventura para ler sobre paraquedismo
Mundo Crux: www.mundocrux.com.br
Caravana da Aventura: www.caravanadaaventura.com.br
Blog Esportes Radicais: www.esportesradicais.org
Livros sobre o tema
1.Mergulho no Céu: Uma Viagem ao Mundo do para-quedismo, autor Elizabeth Nascimento
2.Parachuting: The Art of Freefall Relative Work, autor Pat Works
3.Paraquedistas Alemães – A Super Tropa, autor A. H. Farrar-Hockley
Onde: Aeroclube de Santa Catarina, na Rua José Jorge Zimmermann, s/n° – Sertão do Maruim, em São José
Escola: Clube e Escola de Paraquedismo Raspakamada www.raspakamada.com.br
Quanto: o salto duplo custa R$ 460 (sem filmagem) ou R$ 560 (com filmagem). Para ser paraquedista, o curso individual sai por R$ 560. Para um grupo de três ou mais pessoas, custa R$ 450 para cada um. Estes valores incluem aluguel de equipamentos, licença esportiva e o primeiro salto.
Horário: aberto das 8h às 18h, mas o ideal é chegar cedo para garantir o salto.
Contato: raspakamada@yahoo.com.br ou (48) 9972-3153