Um texto de Stefano Agresti, publicado nesta terça feira no jornal esportivo italiano Corriere dello Sport, trouxe de forma muito interessante um argumento para justificar a enormidade de gols dessa Copa do Mundo. Agresti compara outras Copas, lembra de craques e assume que a imperfeição do futebol é aquilo que há de mais bonito.
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Para curiosidade, Zeman, citado no primeiro parágrafo por Agresti, foi um treinador tcheco que trabalhou na Italia. Gostava de um futebol ofensivo, armado no 4-3-3 que encantou o país ao levar o modesto Foggia à primeira divisão no início da década de 1990.
Confira o texto de Stefano Agresti, Corriere dello Sport.
“Talvez seja o ar do Brasil que fez bem ao futebol. Ou talvez, os treinadores tornaram-se subitamente sem escrúpulos, muitos Zeman espalhados em todos os cantos do mundo, em todos os continentes. Ou, em quatro anos, atacantes de todos os países viraram fenômenos e os zagueiros estão todos quebrados.
O fato é que os números são impressionantes e não pode ser algo acidental: nesta Copa do Mundo já houve mais gols do que o dobro dos feitos na África do Sul em 2010, quarenta e um gols contra o vinte. O cálculo baseia-se nas primeiras treze disputas de cada um dos dois torneios e testemunha a uma revolução profunda: há quatro anos, apenas duas partidas tiveram três gols. Hoje, eles são abundantes. Se é verdade que a partida perfeita é aquela que termina sem gols, porque isso significa que não houve erros – ideia que qualquer fanático defensor ainda sustenta – bem, o Brasil 2014 é o reino da imperfeição. E nós estamos animados pelas façanhas de Van Persie e Neymar, Sanchez e Gervinho, Benzema e Balotelli, Messi e Muller. Bem, estamos felizes e animado para viver na imperfeição.
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Não se trata, como já dissemos, de uma coincidência, mas de uma tendência. Os dados não são alterados, como aconteceu no passado, por alguns jogos repletos de gols em que alguma seleção fraca demais era empilhada com resultados humilhantes. Aqui, a explosão é generalizada: em onze dos treze jogos, houve pelo menos três gols (México e Camarões – Nigéria e Irã, único 0-0, são exceções). O jogo com mais gols foi a Holanda e Espanha (e não tinha em campo nenhum time bunda mole). Assim, a média chegou a 3,15 gols a cada 90 minutos: uma enormidade. Se a Copa do Mundo acabar como começou, se tornará o Mundial com mais gols último meio século: de 1962 até hoje, o recorde pertence de fato à edição de 1970, com 2,97 por jogo. Mas tentem adivinhar quando foi determinado o registro negativo? Fácil, em 1990, quando a Copa foi na nossa Itália querida da retranca. E então, não há realmente de suspeitar que o ar que você respira em torno dos jogos conta para alguma coisa: Brasil para gols, Itália para defesa.
Certamente estamos vivendo em um mundo muito divertido. Rico em derrotas surpreendentes (Espanha, Uruguai), de viradas (Brasil, Holanda, Costa Rica, Suíça, Costa do Marfim), de gols. E de imperfeições, é claro. E que ninguém às tire do Copa.”