De pés no chão, como não ando por aí desde criança, fui convidada a caminhar pelo Jardim Sensorial montado na 75ª Festa das Flores de Joinville. Além do calçado, abandonei caneta, bloco de notas e celular. Do lado de fora do espaço, também deixei minha visão. Com uma venda preta sobre os olhos, a escuridão me atingiu de modo rápido e eficaz.

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A primeira reação dificilmente seria outra que não o medo. Guiada pelo gerente de planejamento da Fundação Turística de Joinville, Guilherme Gassenferth, dei passos vacilantes em direção à entrada do jardim. A porta estava coberta por panos negros, então eu não enxergava nada mesmo antes de ser vendada. Logo, não sabia o que esperar.

Sem o bloco de anotações que me permite guardar o que vejo, escuto e tudo o mais que sinto durante a execução de uma pauta, bateu um leve desespero. Eu sabia que poderia contar apenas com minha memória. Com as mãos de Guilherme sobre meus ombros, eu tentava confiar nos seus cuidados ao mesmo tempo em que procurava captar o maior número de sensações.

O chão arenoso incomodou um pouco, mas logo esqueci que estava descalça. É como se eu caminhasse assim normalmente, dia após dia. Enquanto Guilherme indicava flores, temperos e plantas medicinais pelo trajeto, eu tentava adivinhar do que se tratavam. Errei quase todas. Embora reconhecesse o cheiro da maioria, foi difícil lembrar-me dos nomes.

Ainda que não lambesse as folhas, algumas plantas despertaram sensações curiosas. Houve aquela que, mesmo sem identificá-la, eu sabia que tinha gosto salgado apenas pelo aroma; e também a flor de jasmim, que me fez dizer: “Esta aqui tem cheiro de infância. Parece o jardim da minha avó”.

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A aventura foi além quando percorri um caminho seguido por trilhas de areia, pedras (a parte mais dolorosa), grama e cascos de árvore. O tempo todo, eu ouvia som de água, vozes ao fundo e o próprio farfalhar do meu corpo ao tocar o ambiente.

Ao final da experiência, testei meu equilíbrio sobre uma ponte de madeira – que, depois eu vi, era muito mais segura do que pensava. A verdade é que, sem visão, todo o resto ganhou uma dimensão irreal, capaz de me imaginar em um cenário selvagem, como se estivesse no meio da mata.

Ainda dentro do espaço, Guilherme removeu a venda. Completamente surpresa, notei que a sala (não a selva) era muito menor do que na minha mente. Os passos lentos e as paradas para apreciar o ambiente atrasaram a experiência, mas certamente a tornaram mais profunda e prazerosa.

E a ideia é justamente essa. O melhor de tudo é que o Jardim Sensorial foi projetado para que qualquer pessoa possa desfruta-lo. Os corredores são acessíveis para cadeirantes, com vasos em altura reduzida, e as plantas possuem legenda em braile para facilitar a identificação delas pelos deficientes visuais.

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O jardim permanece aberto amanhã, no último dia da Festa da Flores. Vai perder?

::: Confira uma galeria de imagens da Festa das Flores neste sábado :::