Um esbarrão, um aperto de mão,
um dia bêbado, uma noite sã,
um estranho na porta, um conhecido na janela,
neve no jardim, flor na montanha.
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De forma inexplicável,
do nada, imprevisível,
sem aviso, sem recado,
é como nasce o amor.
As memórias, as lembranças
Os mimos, os cuidados
A presença, a ausência
Separam a frente do verso do coração.
Entre uma ponta e outra,
o calor e a geleira,
de segunda a quinta-feira,
reside o meio do amor.
Quando chega o adeus
é hora de ir em frente
E deixar que o outro siga,
de sorriso no rosto, feliz, sem a gente.
Ao se falar das fases do amor,
uma coisa eu não esqueço:
O fim não é o final
mas apenas o recomeço.
De 140 caracteres nasce o amor
Um tuíte, um convite,
uma cerveja para abrir o apetite.
Para Adam e Aline,
foi assim que começou.
Do cigarro dele, ela não gostava
a barba que cultivava, ela não apreciava
E a banda de metal na qual ele tocava, adivinhem só?
aquele som, ela detestava.
Preocupada, estressada
sentimento inesperado, ela pensava.
Tranquilo, sem grilo,
Adam nem se preocupava.
Twitter, Facebook,
SMS, ligações
Conversas e risadas
Que tal nos vermos depois?
No bar, eles marcaram
Para lá, tremendo, ela se dirigiu.
Naquela noite de maio
Podia ser nervosismo ou, então, o frio.
Olhares trocados, o toque na mão
A aparência não importava.
Antes mesmo de se encontrarem,
Aline já estava apaixonada.
Um abraço, ela prometeu
Adam cobrou, se aproximou, se aproximou.
Em frente ao terminal de ônibus,
o primeiro beijo aconteceu.
Sentados lado a lado,
sem coragem para chegar mais perto,
no dia seguinte ao encontro,
tudo parecia um pouco incerto.
Mas aí vieram os amigos
E depois vieram os pais
Adam estava tão tenso
que nem comer ele queria mais.
Quando estão juntos, passa rápido
Separados, dá uma agonia
E Aline fica mal humorada se fica sem ver Adam
por mais de dois dias.
Hoje o tempo é um aliado
É tudo intenso, recente e precoce
No fim, porém,
Eles tiveram mesmo foi sorte.
Entre 500 mil almas
as deles estavam no mesmo lugar
Nesta cidade chuvosa e cinza,
não foi difícil o amor, de um tuíte, brotar.
Corações em segurança
Ao surgir um novo amor,
Geralmente há borboletas,
flores, chocolates, carinho, apelidos
Antes que entre em cena a dor.
Mas Liliane e João
já encararam um desafio
antes mesmo que a presença do outro
parasse de causar arrepios.
Ele não sabia, mas ela faria uma viagem.
Quando descobriu,
estava tudo certo.
A garota tinha até passagem.
Para preservar o coração,
escolheram terminar.
João, na Bahia, ficou
Liliane, com suas lágrimas, embarcou.
Mas quando nos Estados Unidos chegou
Um e-mail ela recebeu
Era João declarando
que o amor dele era também seu.
Família e amigos desencorajando-os
E eles firmes, acreditando.
Com fotos e mensagens,
um fazia parte da vida do outro.
Cartas, vídeos, ligações
Eu te amo a distância.
Ele aqui, ela lá.
E assim passaram-se três anos.
Sinceros, cúmplices
Amigos, companheiros.
Vivendo um amor musical,
eles sabiam que era isso que os faria inteiros.
O Nordeste, decidiram deixar
Em Joinville, criaram um lar.
A separação foi capaz de uni-los
em esforço, carinho e cuidado.
Hoje, casados,
predomina o bem-estar,
a preocupação, a segurança
e a certeza de que não se
pode parar de sonhar.
O fim é um recomeço
Se a paixão surge sem pistas,
o fim também chega silencioso,
ainda que muitos detalhes
façam um barulho verdadeiramente estrondoso.
Tudo parecia bem,
Por anos e anos foi assim,
Mas a crise chegou para o namorado de Ana
E ela se perguntava: será algo em mim?
Um tempo para o coração
eles resolveram dar
Enquanto isso, desiludida,
Ana foi viajar.
Mas o amor parecia forte
e decidiram o relacionamento manter
Até que ela voltou
e uma surpresa a despertou.
No Facebook, a mensagem
Uma garota desconhecida,
enfurecida, anunciava:
Sabe ele? Não acredite nesta imagem.
Enquanto namorava Ana,
ele namorava também a menina
Surda de amor, Ana não conseguia ouvir
até que uma prova irrefutável a fez sorrir.
Com a certeza nas mãos, veio o alívio.
Ainda que, primeiro,
tenha surgido um desespero momentâneo
do desconhecido.
De olhos abertos,
Ana sabe que estar solteira não é estar sozinha.
Com o fim, percebeu alguém que mais valor tinha:
ela mesma, Aninha.
Uma notícia importante
por estas bandas corre:
de término de namoro, relaxa,
ninguém morre.
De uma hora para outra
O sentimento acaba, assim como começou
Nesse ciclo interminável
basta paciência, que logo vem um novo amor.
Jornalismo poético
Nem Drummond, Camões ou Fernando Pessoa. A reportagem de capa desta edição foi escrita por alguém muito menos veterana e famosa nas alas da poesia: eu.
Para trazer uma experiência diferente ao leitor – e também a mim, repórter -, propus unir o jornalismo à literatura em uma brincadeira séria com o tema que, provavelmente, é a maior causa de suspiros apaixonados e borboletas no estômago da humanidade: o amor.
Procuramos estampar este sentimento universal nas páginas da + Estilo a partir de três histórias reais que são únicas, porém, reúnem emoções em comum com os casos de amor de tantos nós. Começo, meio e fim, assim mesmo, de forma cíclica, no jornalismo mais poético que consegui produzir.
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Confira imagens do ensaio fotográfico sobre as diversas fases do amor: