Há uma certeza na mente de 100% dos maratonistas: ninguém é capaz de sentir o que eles vivenciam, a menos que experimente. É uma das provas de superação mais extremas e, numa Olimpíada, assume características épicas. A reportagem do DC resolveu “sentir” um pouquinho do que vai acontecer na prova que encerra os Jogos neste domingo.
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Para isso, percorreu “com o pé no asfalto” os últimos cinco quilômetros do percurso. E o motivo da distância foi para conseguir manter um “pace” (tempo por quilômetro) abaixo de quatro minutos, que é a média do recorde olímpico (2h06min32s), registrado em 2008, em Pequim, pelo queniano Samuel Wanjiru.
Dificilmente um corredor não profissional consegue manter este ritmo em corridas acima de 10 quilômetros. O visual que o último campeão olímpico vai experimentar, as dificuldades e os detalhes, sentidos “na pele”, são o brinde especial para o leitor do Diário Catarinense neste encerramento de competições:
Big Ben: marco decisivo
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Depois de um exaustivo esforço contínuo, dois momentos são marcantes nos cinco quilômetros finais. Primeiro, quando o corredor houve os sinos da Abadia de Westminster soarem. Ali onde reis e rainhas recebem a coroa para seu reinado, é o sinal de que a coroação está próxima com a linha de chegada por perto.
E ao contornar o Big Ben, o competidor sabe que o relógio mais famoso do mundo também vigia e registra seu tempo. A partir dali, é só superação rumo à glória. Até porque, em Londres, as condições de temperatura o fazem correr entre sol e chuva, e mudanças de temperatura constantes.
Dedo real
Quando se chega no último quilômetro, o cenário é o palácio de Buckinghan e a larga a avenida “The Mall”. Cada metro começa a ser lembrado como uma eternidade. E particularmente os últimos 195 metros têm o dedo real. Nos Jogos de 1948, em Londres, a distância da maratona olímpica foi estabelecida.
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Até aí, era variável, embora sempre próxima dos 40 km. Para que a família real britânica pudesse assistir ao início da prova do jardim do Palácio, o comité organizador aferiu a distância total em 42.195 metros, que continua até hoje.
Ali, no pace estabelecido, infelizmente a magnífica paisagem perde o sentido e chegar é apenas um item de sobrevivência. Neste estágio, nem os aplausos e incentivos do público são capazes de ajudar. É o momento do atleta viver seu desafio pessoal e encontrar forças que parecem não mais existir.
Chegada dos sonhos
A chegada no estádio olímpico seria o convencional. E logo os ingleses, afeitos a regras e formalismos, se livraram das determinações morais e inovaram: a chegada não será no Olimpic Park.
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E com esta ousadia, ganham corredores e o público. Primeiro, que a chegada fica mais democrática, pois não há ingressos para ser ver a prova na rua. Segundo, que o valor histórico do cenário é inestimável.
No caso do teste feito pelo DC, no momento da chegada ocorria a troca da Guarda Real, o que deu um charme a mais no teste.
Cumprida a tarefa, após respirar profundamente e recuperar a razão, alongar a musculatura, foi hora de voltar à redação em Londres e construir este relato.
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Cada gota de suor valeu para cumprir este percurso. Pena não ter valido uma medalha. Esta ficará para o campeão deste domingo.
Medo do padre atacar
Acompanhar a maratona pela televisão vai valer a pena no Brasil não só pelo fantástico visual das históricas e arborizadas avenidas londrinas.
Acontece que o Brasil tem chance de medalha, até de ouro, com Marílson dos Santos.
Três vezes campeão da São Silvestre e duas vezes vencedor da Maratona de Nova York, Marílson tomou cuidados para evitar a “quebra” que sofreu em Pequim-2008, quando abandonou o percurso antes nos 34 quilômetros.
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Este ano o corredor ficou fora dos 10 mil metros e diminuiu a carga de trabalho nos últimos meses. Bem fisicamente, Marílson só teme é a ameaça que vem da torcida. O ex-padre, Cornelius Neil Horan,que atacou Vanderlei Cordeiro em Atenas (2004), impedindo o ouro do brasileiro, mora em Londres, e já avisou essa semana que pretende assistir à maratona.
– Eu acho que aqui ele vai ter um pouco mais de dificuldade, até porque todo mundo já conhece ele. Então, não vai ter a vida facilitada como teve lá em Atenas – acredita o corredor.
Assista ao vídeo do percurso de Marcos Castiel