Um esquema de venda ilegal de atestados médicos em Florianópolis foi denunciado nesta quinta-feira pela RBS TV. A matéria, assinada pelo jornalista Raphael Faraco e disponível na íntegra aqui, mostra que o profissional cobrava R$ 50 pelos falsos documentos. Também receitava medicamentos de uso controlado.

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Sem saber que estava sendo gravado, o médico pergunta aos produtores do Jornal do Almoço, que se passaram por pessoas dispostas a faltar ao trabalho, quantos dias que gostariam de ficar em casa e que tipo de doença pretendiam alegar no trabalho.

A reportagem mostrou que o suposto consultório, na Prainha, passa a maior parte do tempo fechado e que os atendimentos “frios” eram feitos no apartamento da companheira e secretária dele, no Bairro Coqueiros, na área continental da cidade.

Pela denúncia, a mulher negociava as fraudes por telefone e participava das conversas entre médico e trabalhadores, que a equipe apurou vão em busca de licenças para faltar no serviço, enganando empresas e repartições públicas.

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Leia trechos da conversa:

Produtor do JA – Quantos dias que ele consegue me dar?

Secretária – 13 dias.

Produtor – E qual o tipo de doença? Eu tava pensando que eu não sei qual tipo de doença eu coloco no…

Secretária – Aí é só com ele (atalhou a mulher). Ele sabe o que fazer. Nem te preocupa. Ele é médico do trabalho, muito bom médico ainda.

Produtor – Qual a quantia?

Secretária – Setenta reais.

Durante um mês, a equipe da RBS TV esteve no apartamento quatro vezes e flagrou as irregularidades. Os produtores que participaram da gravação saíram do local com atestados, receitas e um deles foi encaminhado para a perícia. Todos são saudáveis e em momento algum foram examinados pelo médico.

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Em uma das visitas, o produtor do JA disse que precisava do atestado para faltar ao trabalho em uma locadora. Depois de acertar as datas de validade do documento, o médico pergunta sobre o tipo de doença. Leia um trecho da conversa:

Médico – Agora vamos botar aqui o que? Tu estás o que, estressado?

Produtor do JA – Cara, não.

Médico – Tu dissesse alguma coisa pra eles lá?

Produtor – Não, na verdade assim, ó….Há poucos dias atrás eu tive uma dor de garganta violenta.

Médico – Então tá. Então botamos amidalite.

E para evitar qualquer problema, ele ainda receita um medicamento.

Médico – Dei um antibiótico que são só três comprimidos, um por dia. Não tem o que discutir. Qualquer coisa que perguntarem, diz para ligarem para o médico.

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Minutos depois, o pagamento é feito. O valor de R$ 70 teve um desconto, ficando o documento falso por R$ 50. Neste caso, o atestado e a receita são do consultório da Prainha, onde o médico raramente aparece.

– Se eu encontrar ele na rua, não vou saber quem é – relatou uma funcionária do local.

Em outra gravação, uma produtora consegue atestado para ficar afastada do trabalho e ainda recebe a receita de um medicamento emagrecedor que tem tarja preta para a irmã dela. Neste caso, o receituário do medicamento controlado foi emitido com o nome da Clínica Médica Palhoça. A clínica confirmou que o médico trabalhou no local, mas infirmou que ele foi afastado há mais de um ano por condutas inadequadas.

Segundo vizinhos no bairro Coqueiros, a prática de venda de atestados e receitas começou há seis meses. Um deles disse à reportagem que, em alguns dias, o hall do prédio chega a ficar cheio.

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Procurado pelo reportagem sem câmeras escondidas, o casal negou as acusações, mesmo sabendo que existem provas das irregularidades.